quinta-feira, 30 de abril de 2009

Nova Liderança

Nunca, como agora, os lideres e respectiva liderança estiveram tanto em causa, com os reflexos a serem maiores nos sectores mais afectados pela actual conjuntura. Tem-se assistido a diversas mudanças na gestão de topo e, eventualmente, muitas mais ficaram por fazer, consequência de um Corporate Governance mais conservador e onde a cúpula ainda se mantém imune à responsabilização pelos resultados. Mas, se algumas mudanças positivas nos foram impostas por esta conjuntura, a forma como se avalia a liderança e a responsabilidade que se exige da mesma foi, com certeza, uma delas.
Para além da definição da Visão, Missão e estratégia, os lideres têm de estar, essencialmente, ao serviço da empresa - dos colaboradores, dos accionistas, de todos os stakeholders e da sociedade em geral - de uma forma responsável, ética e com um sentimento de missão. Como tal, não havendo resultados, ou verificando-se que o caminho seguido não se vem revelando como o mais profícuo, a substituição do líder deverá aparecer como uma das primeiras alternativas.
E, note-se, que não julgo tratar-se de uma questão de vencimentos, ou da dimensão dos prémios de gestão, como agora se tornou fácil e trendy julgar. Se o cálculo dos mesmos se basear na criação de valor - efectivo e duradouro - para a empresa, colaboradores e accionistas, o valor dos prémios dos órgãos de gestão será, com certeza, legítimo e enquadrável numa lógica de mercado.
Importa então, depois da tendência da Liderança Inspiradora, valorizar e exigir uma liderança responsável e uma conduta eticamente intocável na gestão de topo.
André Castro Pinheiro

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Novas estruturas

A estrutura familiar condiciona os comportamentos de consumo. Se analisarmos a composição das famílias portuguesas e os produtos que lhes são dirigidos, percebemos que poucas são as empresas com consciência da mudança ocorrida na última década e muito menos as que conseguem descobrir o potencial do número crescente de famílias constituídas por uma e por duas pessoas, devendo-se grande parte a um acréscimo do número de divórcios (72% entre 1996 e 2006).

A mãe que, a meio da tarde, brinca com as crianças no jardim e o pai que chega a casa e se senta para jantar reside apenas no nosso imaginário.

Cerca de um terço dos pais empregados com filhos com menos de 15 anos recorre a serviços de apoio a crianças para assegurar o cuidado dos filhos enquanto trabalham. Após o período de prolongamento, as crianças chegam a casa na carrinha da escola e são entregues ao padrasto, dirigindo-se para o quarto onde brincam com o meio-irmão. O fim-de-semana é passado em casa do pai, com uma nova pele que integram naturalmente.

Na teia de relações familiares e no curto tempo partilhado, pais e filhos encontram novas formas de proximidade através do telemóvel e Internet. Anseiam por tempo de qualidade e procuram conveniência, comodidade e ajuda para pequenas tarefas que roubam preciosos minutos. Esperam novos pratos pré-cozinhados, take-away, pediatras e medicamentos ao domicílio, mas essencialmente novas experiências, novas partilhas e promessas de fortes recordações.

As novas famílias estão aí e tudo indica ser uma tendência perene e crescente. Espera-se uma adaptação dos negócios e que as empresas estejam atentas a novos sentidos de pertença e de identidade.

Andreia Pinho
Gestora


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pura Paixão

Nos dias de hoje cada vez mais se dá importância à felicidade. Numa altura em que os países desenvolvidos deixam apenas de focar a sua atenção em métricas de riqueza passando a avaliar também níveis de felicidade, não é de estranhar que a felicidade no trabalho desempenhe um papel importante nas sociedades modernas e também na vida das pessoas que nelas se integram.

Nesse sentido, e em linha com o que vem acontecendo há vários anos na revista Fortune, começa-se a dar atenção também em Portugal aos resultados que se publicam sobre as melhores empresas para trabalhar.

A satisfação no trabalho terá indubitavelmente não só um impacto importante na felicidade dos indivíduos mas também nos resultados das próprias empresas, porque não se trata de avaliar apenas as empresas que melhor cuidam os seus colaboradores mas também passará pela identificação daquelas cujos colaboradores mais contribuirão para o desenvolvimento das mesmas.

Poder-se-á erradamente considerar que o aspecto fundamental e que mais impacto terá na satisfação do trabalhador será o aspecto monetário. No entanto, diversos estudos demonstram que este aspecto é apenas um factor higiénico na relação e que deverá ser visto como um princípio base para que a relação se possa desenvolver. Isto é, a partir do momento em que o colaborador (e empregador) considera que a compensação monetária é justa para a função em causa a relação está pronta a começar.

De facto, o que é mais relevante na relação entre o colaborador e a empresa, como em qualquer relação de um casal, é a paixão!

A esta conclusão chega Gary Hamel no seu livro “O Futuro da Gestão”, onde a paixão pelo que se faz se sobrepõe a qualquer outra característica como a criatividade, inteligência ou a iniciativa dos colaboradores.

No entanto, temo que as empresas portuguesas de hoje não tenham tido a capacidade de desenvolver um modelo de gestão que permita cultivar a relação que se estabelece entre a empresa e o colaborador, de modo a atingir níveis de envolvimento elevados. Nem tão pouco terá sido capaz criar mecanismos de avaliação do nível de entrega que os seus colaboradores têm nas actividades que desenvolvem na empresa que representam. Este facto é tanto mais importante se considerarmos que da análise a um inquérito feito a 86 mil colaboradores de empresas de 16 países distintos, se verifica que apenas 14% destes se sentem realmente envolvidos com o seu trabalho.

Um artigo publicado na Harvard Business Review, dava também conta que um indivíduo deverá sempre trabalhar naquilo que realmente gosta, e que a melhor forma de reter e desenvolver esse mesmo trabalhador é fazer com que ele se sinta feliz nas suas actividades diárias, e esta felicidade está directamente dependente do ajuste que existe entre a função que desempenha e os seus interesses pessoais, designados por Deeply Embedded Life Interests.

Isto leva a que um indivíduo possa ser extremamente eficaz e produtivo numa determinada função mas que esta não o satisfaça minimamente, o que leva a que este mesmo indivíduo tenha no curto prazo boas avaliações de desempenho apesar de não retirar nenhuma felicidade no dia a dia do seu trabalho.

Neste tipo de situações, apesar das empresas considerarem o colaborador um activo valioso mas por também valorizarem os resultados de curto prazo, não incentivam a passagem do colaborador para uma outra função que este considere mais estimulante mas para a qual ainda não tenha provas dadas, visto que tal implicaria um risco que a organização hoje não está preparada para absorver.

No entanto esta inércia traduzir-se-á possivelmente para o colaborador num desinteresse pela sua actividade e para a empresa numa redução de produtividade do colaborador e/ou a perda do mesmo para o mercado.

Por acreditar que só a paixão é capaz de fazer o longe parecer perto, fazer o difícil parecer fácil e de tornar o impossível num objectivo alcançável, dever-se-á exigir às empresas portuguesas que consigam reinventar o seu modelo de gestão de forma a permitir, entre outras coisas, um melhor aproveitamento dos seus quadros de maneira a criar um dinamismo e uma entrega que hoje a gestão moderna exige.

Quando olhamos hoje em dia para os grandes nomes da arte, da música, do desporto ou da gestão o que vemos é uma enorme paixão das pessoas pela actividade que desenvolvem e essa paixão reflecte-se nos resultados que apresentam.

Por tudo isto se parar para pensar o quão apaixonado está pela sua empresa e pelo que faz, o que diria? E as pessoas que consigo trabalham? Digamos…de 0 a 10?

Banca portuguesa

Nas últimas semanas, nos principais mercados internacionais, as acções das empresas do sector da banca valorizaram de forma significativa. Em Portugal, passou-se o mesmo. Pelo meio, um dos maiores bancos nacionais, o BES, concluiu com enorme êxito uma operação de aumento de capital. No entanto, apesar dos últimos desenvolvimentos, o sector permanece sob pressão e desde o início do ano, em média, os títulos das principais empresas do sector continuam a apresentar perdas. Ora, a questão dos bancos é crucial para qualquer economia, pois é a estes que as pessoas e empresas recorrem quando necessitam de crédito. Assim, importa esclarecer os portugueses acerca do risco sistémico evidenciado pelas suas principais instituições de crédito. De acordo com a BCA Research, os activos da banca portuguesa representam sensivelmente 100% do nosso PIB. Nesta classificação, Portugal surge no 17º lugar mundial, numa corrida liderada pela Bélgica (cuja banca possui activos equivalentes a mais de 600% do seu PIB) e que nos primeiros 10 classificados coloca 10 países europeus! A título de curiosidade, refira-se que os Estados Unidos aparecem com uma leitura semelhante à portuguesa. Ou seja, a banca portuguesa, não estando a são e salvo, acaba por apresentar menor risco sistémico que outros bancos europeus. Contudo, depois do “subprime”, o maior risco que agora se coloca à banca reside nos empréstimos concedidos aos países da Europa de leste, em particular a possibilidade destes entrarem em incumprimento. E, infelizmente, este é um risco a que alguns bancos portugueses estão expostos. (*) Publicado no jornal “Meia Hora” a 27/04/2009.

Harvard Trends #5 - Integração Cultural

O processo de globalização de uma empresa pode implicar a incorporação de executivos de outras partes do mundo, de diferentes culturas, com outros hábitos e distintos mindsets. Este processo de integração tem sido um dos mais comentados assuntos em Harvard.
O processo implica mudanças quer nos novos talentos, quer na estrutura base da empresa, habituada em pensar em termos de mercado local e mercado externo. Espera-se dos novos quadros o conhecimento regional de outro quadrante do mundo e a abertura para apreender toda uma nova série de formas de pensar, gerir e actuar – capacidade de adaptação. Cabe às corporações modernas criar uma atmosfera de trabalho multicultural, fornecendo aos gestores globais as ferramentas que permitem um trabalho capaz de gerar a optimização do valor que advêm de cada diferente cultura e assim gerar maior eficácia.
Trata-se de um tema que importa debater, no sentido que a maioria das empresas ocidentais, asiáticas e agora do Médio Oriente continuam a contratar executivos de diferentes culturas sem um processo maduro de integração, subvalorizando o potencial e em alguns casos criando choques, conflitos e falsos consensos que não conduzem aos melhores resultados.

sábado, 25 de abril de 2009

Redes Sociais

É quase axiomático que as redes sociais estão a crescer a um ritmo muito acelerado. Até as revistas semanais de quinta feira já se espraiam em artigos de luxo, quais especialistas sobre o networking mundial.
As novidades são que as social networks ameaçam já o email como principal plataforma de comunicação na Internet, o que era perfeitamente improvável há ainda apenas 6 meses. As redes sociais não estão a crescer de uma forma normal. Aceleraram intensamente, desde o momento que se começaram a integrar entre elas e foram democratizadas para fora do teen sec.
Curiosamente, as redes portuguesas não parecem estar em grande expansão. Chillout, TST e outras redes têm tido um compirtamento regular. Já em Espanha, o fenómeno Tuenti domina toda a actualizada e ameaça o lider Facebook, também em grande crescimento.
Depois de alguns anos de dominios cruzados do Orkut primeiro e Myspace e Hi5 depois, a nova geração está dominada pelo Facebook (200 milhões de users) e pelo Twitter (10 milhões, mas a crescer 400% por mês). Curiosamente, estes dois operadores, quie rapidamente destronaram o Bebo da liderança europeia, estão em competição directa, sempre vigiados de perto pelo Google e pela Microsoft, que vão conseguindo alguma penetração aqui e ali.
Depois da abertura esta semana do Facebook aos feeds do Twitter, as redes começam quase a fundir-se, o que deixará algumas definitivamente de fora (o MySpace inteligentemente antecipou este movimento, especializando-se em música). Veremos quem tem capacidade de se afirmar, num mercado em que os sites especializados em feeds começam a ganhar relevância.
A minha aposta vai para dois grandes operadores ligeiramente diferentes, e dezenas de pequenas redes de segmentos (música, idades, locais). Para acompanhar...

PuraMente #15 - Future Files


Nome: Future Files

Autor: Richard Watson

Data: Outubro de 2008 - Nicholas Brealey Publishing

Frase: "O grande problema do futuro é que teremos de viver nele"

Keywords: Trend/Countertrend; Polarização; As cinco tendências; Mind Wipes; Virtualização;


Apreciação: ***

Este é um livro para os intelectualmente curiosos e forward thinkers. Fala-se sobre o futuro, obrigando ao conhecimento do presente, das tendências vigentes e latentes - os chamados "aceleradores de mudança". Os livros "futuristas" têm sido recorrentes ao longo da história, mas não é comum encontrar-se algo estruturado, categorizado e orientado, evitando o palpite e a adivinhação. Dito de outra forma, não se pretende prever o futuro, mas reinterpretar o presente ao alargar perspectivas e horizontes. É o próprio autor a posicionar o livro aconselhando-o a "analistas de negócios, estrategas e todos os curiosos sobre o futuro ou que queiram estar um passo à frente". E porque a cultura do futuro será muito visual, a capa apresenta uma proposta de "mapa de evolução" (ver em www.nowandnext.com). As expectativas do leitor ficam desde logo elevadas.

Ainda antes da introdução o autor "mostra ao que vem": há cinco tendências importantes para os próximos 50 anos: Envelhecimento, Deslocação do Poder para Oriente, Conectividade Global, Tecnologias GRIN (genética, robótica, internet e nano-tecnologia) e Ambiente. Após defender estas tendências, o livro transforma-se num manual de onze capítulos sobre diferentes áreas: Cultura e Sociedade, Ciência e Tecnologia, Política, Media e Entretenimento, Serviços Financeiros, Transporte, Alimentação, Compras, Medicina, Turismo e Viagens, Negócios e Trabalho. Em cada área descrevem-se cinco tendências secundárias e muitas previsões concretas. Notar a importância das "contra-tendências" e da polarização.

A estruturação do livro tem vantagens e ameaças. Podem consultar-se rapidamente as áreas que mais interessem ao leitor, mas ao decidir ler o "Future Files" de uma só vez, o cansaço é inevitável, tal o detalhe a que o autor chega.

No final são apresentados cinco aspectos que não vão mudar nos próximos 50 anos: A curiosidade sobre o futuro; O desejo de reconhecimento e respeito; A necessidade de experiências físicas; O medo e ansiedade; A procura de significados.

É um livro interessante e diferente, que aconselho.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

www.puramenteonline.org

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Brincar com o futuro da música

Em qualquer negócio, tratar os clientes como criminosos diz sempre mais sobre os negociantes do que dos clientes. Mas para algumas pessoas no topo da indústria discográfica, aterrorizar meia dúzia de pessoas com processos no valor de centenas de milhares de dólares por cada música partilhada é algo moralmente válido. Isso diz muito sobre o estado actual deste sector e de quem o dirige.

A indústria tem coleccionado sucessivos tiros no pé desde os primeiros tempos do Napster e, incrivelmente, isso não mudou a mentalidade, apenas o tom, o timbre e o tempo do choro. O caso Português é bem típico – nos anos 80, a imagem do rolo compressor a passar por cima das cassetes pirata era frequente. Agora mudou-se o “bode expiatório”, mas o discurso mantém-se. Só que é difícil levar a sério todas as lamentações (que por vezes são legítimas) quando são as editoras e não o público a fazer os tops e a escolher discos de ouro ao bombardear os retalhistas, mesmo que os discos não sejam vendidos aos consumidores. Antes, como agora, controlam a quase totalidade do que passa na rádio. Para mais, é difícil distinguir se o Tozé Brito que defende hoje a criminalização é o administrador actual da SPA ou um antigo executivo das editoras... e ainda há aquela questão dos 41 milhões que a entidade deve aos autores.

Aqueles que querem fugir aos tops têm pouco para onde se virar: o MySpace e a blogosfera musical têm demasiado ruído, o YouTube apagou milhares de vídeos e a rádio serve apenas como companhia para o mínimo denominador comum. O cenário idílico desejado pelas editoras não irá salvar a indústria – irá sim assinar a sentença de morte da música.

Luís Silva

Crítico musical

Publicado no Meia Hora dia 24/4/2009

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O que é de mais … é de mais!

Há coisas boas que em excesso são prejudiciais. A informação é disso exemplo. Numa sociedade de Informação, a produção de conteúdos tem crescido a ritmos alucinantes, e hoje qualquer pessoa tem acesso a milhões de sites ou blogs.

O desafio com que nos deparamos, e do qual algumas empresas poderão tirar vantagens significativas, passa por conseguir neste universo quase infinito, criar mecanismos que identifiquem os melhores conteúdos (e eliminem os piores).

 Actualmente existem processos que fazem parte deste trabalho, como os utilizados nos motores de pesquisa. No entanto, deveremos ser mais ambiciosos: já não bastam critérios do tipo “o mais visto”, ou o “mais vendido”. Podemos olhar para a avaliação de quem viu e de quem comprou, mas tal não será, por si só, suficiente. Temos que ser capazes de identificar, a partir de avaliações de cada indivíduo, padrões que permitam seleccionar conteúdos que possam ser relevantes (e irrelevantes) para este mesmo utilizador (ou cliente). É necessário garantir uma correcta catalogação da informação disponibilizada, que permita uma fiel tradução do que é apresentado, de modo a que a pessoa consiga procurar por tipo de fonte de informação, ou tipo de conteúdo desejado (ou indesejado). É preciso apoiar a validação dos conteúdos na opinião dos experts, de forma a garantir qualidade da informação, principalmente em targets (ex. crianças) ou matérias (ex. saúde) mais sensíveis.  

Responder a este desafio ambicioso irá permitir melhorar a vida dos utilizadores e gerar oportunidades de negócio relevantes para quem as conseguir concretizar.

O futuro, hoje



Uma das tendências mais claras nos negócios do futuro será a unificação e intangibilidade das formas de pagamento. As letras já morreram, os cheques são anacrónicos e o papel moeda vai pelo mesmo caminho. Os próprios cartões de débito e crédito tenderão a desaparecer, cedendo o espaço aos telemóveis ou suas evoluções.

Já há algum tempo que é possível fazer operações bancárias nos telemóveis, mas em que estes últimos serviam apenas de plataforma de ligação ao sistema. Ou seja, não se tratava de um função específica do aparelho, mas como se de um computador ou ATM se tratasse, mesmo que estejamos a falar de aplicações java.

O que a Vodafone anunciou é um passo em frente a esse futuro . Passa a ser possível efectuar pagamentos através do nº de telemóvel, sendo processo validado por SMS. Pagamento sem notas, sem cartões, completamente virtual.

Os passos seguinte serão provavelmente a instalação de dispositivos do tipo RFID, a definição de limites de transacção ou produtos a adquirir conforme os parceiros comerciais em causa e o estabelecimento de políticas de segurança e privacidade.

Para já é possível pagar , via número de telefone, a estes parceiros.

Mas é uma tendência que já se está a materializar.


Filipe Garcia
Economista da IMF



quarta-feira, 22 de abril de 2009

PuraMente #14 - Cirque Du Soleil


Nome: Cirque Du Soleil – A Chama da Criatividade

Autor: John Bacon

Data: Novembro 2007

Frase: "Nunca foram os meus falhanços que me fizeram arrepender, mas sim o que deixo de fazer porque tenho medo ou quero sentir-me demasiado seguro"

Keywords: Criatividade, sair da zona de conforto

Apreciação: ***


Romance ou manual de gestão? Esta é a questão que emana da leitura de um livro que se assemelha a um épico manual de criatividade. Está destinado não só aos que perderam a paixão pelo seu trabalho, mas sobretudo por todos aqueles que sentem que podem melhorar no dia a dia a sua produtividade, através de uma forma de estar completamente diferente, na procura infinita do distintamente excelente.

Esta obra não pode ser tecnicamente referenciada como manual, porque não explicita modelos, teorias ou hipóteses, teses ou metodologias de forma directa ou sistemática. É deixada ao leitor a tarefa de descodificar as mensagens deixadas suavemente ao estilo Exupéry, entre diálogos inocentes e descrições entusiasmantes.

O Cirque de Soleil serve de pano de fundo a uma experiência onde a monotonia foi substituída por momentos memoráveis e onde se demonstra que as únicas capacidades realmente importantes são a coragem e a generosidade, dado que todas as demais podem ser apreendidas. Bacon sugere repetidamente a saída da zona de conforto como ponto de partida para evoluir, uma das mais marcantes mensagens desta publicação. O livro sai fora dos modelos editoriais mais comuns (modelo1 = 270 a 300 páginas; modelo 2: 420 a 520 páginas), ao condensar o seu conteúdo em 160 páginas de fácil leitura, onde se apelidam os acidentes de “oportunidades criativas disfarçadas” e se constata que “não é possível conquistar nada de significativo sem um salto de fé”.

“A Chama da Criatividade”, editada em Portugal pela Imagens&Letras, demonstra como aplicar a criatividade em tudo o que se faz e por tal facto merece o investimento de tempo que cada leitor terá de lhe dispensar.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Nova Ordem Antigos Remédios

É da competência da regência tomar as devidas acções para contrariar a tendência viciosa fazendo uso de politicas monetárias e fiscais. As políticas expansionistas pretendem provocar um choque na economia através do aumento da massa monetária em circulação injectando de forma massiva liquidez, conjugado com a descida agressiva da taxa de juro. As politicas de absorção têm como objectivo a diminuição da massa monetária em circulação por esta não corresponder ao equilíbrio entre a oferta e a procura, não representar as necessidades de equilíbrio da despesa/produção agregada, o PIB, e permitir o controlo da inflação. Existem características do sistema como a inércia que tem actualmente e o momentum que está a produzir que podem condicionar a eficácia dos instrumentos monetários e fiscais no amortecimento do sistema pós crise. Se as medidas de absorção no âmbito das políticas monetárias forem insuficientes é certo que ocorrerá a tão indesejada hiper-inflação. Se acrescentarmos os problemas estruturais que subsistem como:

  • As disfunções geográficas e as especificidades de cada economia no contexto global;
  • As imparidades e distorções cambiais;
  • A insustentabilidade da divida externa de alguns países;
  • A possibilidade de barrar o comercio mundial sob risco de retroceder décadas de desenvolvimento;
  • Os compromissos políticos de cada estado;
  • Inexistência de uma divisa que represente fielmente o valor criado,

então continuaremos a adiar o grande ajuste cíclico da economia global e a preparar a próxima grande crise económica e esta poderá estar agendada para breve.

Publicado no Meia Hora dia 21/4/2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Premiar o Erro

O guião educacional que tem regido as últimas gerações assenta em conhecimento e minimização de erros. De tão evidente, acabou por se tornar axiomático que evitar erros é objectivo prioritário para indivíduos e empresas. Com frequência estes axiomas lógicos encerram em si conclusões questionáveis. Na esmagadora maioria das empresas, a estrutura organizacional e os sistemas de incentivos conduzem os colaboradores a não arriscarem. São os próprios gestores seniores que, não raramente, classificam demasiado depressa uma ideia como improvável, impossível, ou mesmo disparatada, induzindo a uma condição medo de falar-medo de ouvir.
A gestão contemporânea deve compreender que, pior do que errar é não tentar. Num ambiente de permanente mudança, quem não arrisca não evolui e rapidamente desaparece. Recorde-se os ensinamentos darwinianos : a característica mais importante para a evolução é a adaptabilidade.
Não é possível uma empresa perseguir a minimização de erros e em simultâneo estar vocacionada para a mudança, resultando óbvio que perfeição não se compatibiliza com progresso. É neste contexto que importa refundar os princípios educacionais, tanto no ensino básico como no avançado, destacando a importância de arriscar e procurar intensamente a evolução pela inovação. Os erros são danos colaterais, que devem ser brindados e estudadas em vez de punidos. Evidentemente, é vital ter consciência do risco e escolher ideias estupidamente inteligentes, em vez de estupidamente estúpidas.
As empresas podem errar grande parte do tempo desde que acertem com precisão e eficácia algumas outras e se abstenham do pior erro: evitar errar.
Publicado no Meia Hora dia 20/4/2009

Farmácia$

Tendo por pano de fundo a teoria de Adam Smith, as farmácias, bem como os restantes agentes económicos, motivados unicamente pelo seu interesse pessoal, deveriam actuar em prol do bem-estar da sociedade, através de uma “mão invisível”.
Devido à dimensão do próprio sector e pelo impacto, directo e indirecto, que o mesmo tem na sociedade, a regulamentação e o controlo são relativamente significativos, mas não evita que existam situações pouco compreensíveis. Veja-se o exemplo dos valores solicitados pela venda de uma farmácia.
Esta situação ocorre devido a três pequenos lapsos de Adam Smith na sua teoria: a “mão invisível”, a intervenção governamental e o bem-estar da sociedade. Na realidade, serão muitas, e não uma, as mãos invisíveis que actuam no mercado, que até “solicitam” a intervenção governamental, ao arrepio de Smith, mas com o objectivo de promover, de forma directa e célere, o seu próprio bem-estar. Entenda-se que não me refiro a falhas de mercado, tal como concorrência imperfeita.
A venda de genéricos que demorou anos para legislar e permitir que contribuintes (nós!) e estado (nós, novamente) pudessem gastar menos; as unidoses que serão vendidas aos meus netos; os direitos feudais relativamente à propriedade são exemplos de uma economia… “particular”.
Actualmente, temos uma novidade: os genéricos comercializados pela Associação Nacional de Farmácias. Uma pergunta: não existe um claro conflito de interesses?
Um dia saberemos o preço a pagar. Só espero que, tal como o que aconteceu no sector financeiro, o preço venha em euros e não em dias de vida!
Publicado no Jornal Meia Hora dia 17/04/2009.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Fórmula de Pensoes

O governo prepara-se para alterar a fórmula de actualização das pensões, que faz depender os aumentos do comportamento da economia, em particular da evolução do PIB e da Inflação. Esta situação ocorre face á estimativa da quebra de preços para Portugal este ano. Em 2008 a esmagadora maioria dos reformados, cujas pensões têm valores inferiores a 629 euros, teve aumentos reais na ordem dos 0,3%, e os restantes perderam poder de compra. Este ano o aumento seria, para os mesmos casos, de 0,4 %, no caso da estimativa inicial do governo se concretizasse, 2,5%. Segundo as estimativas mais recentes do Banco de Portugal, apontam para uma inflação média anual em 2009 de -0,2 % em 2009, que no caso de se verificarem, provocaram uma redução no valor nominal das pensões em 2010. A situação torna-se agora insustentável perante a deflação que ameaça as principais economias do mundo. Existem em Portugal 2,1 milhões de pensionistas da Segurança Social, sendo que 530 mil são reformados da função pública.
Ha um sentido de logica e racionalidade na ligaçao entre pensoes e indices economicos, ja que os segundos indicam até onde se podem ir nas primeiras. A soluçao ideal e desejavel passaria pela incorporaçao de uma vertente tecnica (ligada aos indices e com um peso de dois terços) e outra politica, que pondere o esforço relativo do Estado em cada ano.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Comunicação das Marcas – Novo Paradigma

Com o surgimento da Web 2.0 o mix de comunicação alargou-se significativamente; deixando de estar confinado à publicidade, promoções, venda personalizada, relações públicas e marketing directo tradicionais, para passar a incorporar os conteúdos de blogs, sites de opinião e plataformas sociais.
O facto gerou novas necessidades de gestão e de conteúdos, originando uma lacuna/oportunidade no Mercado, pois os autores das mensagens destinadas aos meios tradicionais têm competências e relações de fornecimento que pressupõem mensagens curtas e unidireccionais. A Web 2.0 necessita de conteúdos mais extensos (no caso de vídeo e/ou informação), criativos e iterativos (os conteúdos geram, por interacção, novos conteúdos); para além de implicarem um estilo mais directo e informal. A lacuna pode ser suprida através de recursos internos ou de externalização. A melhor solução é um mix; pois para uma comunicação biunívoca e iterativa um recurso interno está mais apto a responder pronta e objectivamente (vive a cultura da marca e está informado das suas actividades) e, para conteúdos mais estáveis e duradouros; é preferível recorrer à contratação externa. Para qualquer opção, é necessário um foco interno na comunicação Web 2.0 (gestor Web 2.0).
Parece-me inevitável que a alteração do paradigma da comunicação das marcas tenha reflexo ao nível das funções e estruturas das organizações; bem como crie oportunidades de negócio para os produtores de conteúdos.

Comentário - Governo altera regras do sigilo bancário



Esta medida acaba por constituir uma instrumentalização adicional à administração fiscal, depois da inversão do ónus da prova (já anteriormente aprovada). Se por um lado a medida é positiva ao atacar a evasão fiscal no espírito de “quem não deve não teme”, os seus efeitos colaterais não são negligenciáveis.

A autorização do contribuinte ou das autoridades judiciais, que até agora eram necessárias, serviam de contraponto a possíveis abusos do fisco (Estado). Esses níveis de controlo são importantes num regime democrático, de forma a salvaguardar os direitos, liberdades e garantias.

Sem prejuízo da regulamentação a implementar, a fasquia colocada nos 100 mil euros de incremento patrimonial parece baixa e uma qualquer situação, por exemplo relacionada com uma aquisição de nova habitação de valor baixo poderá levar a um escrutínio injustificado. Por outro lado bastará um erro nas declarações dos contribuintes ou dos sistemas da administração fiscal para que o fisco possa ter acesso completo às contas. Também pelo limite baixo de 100 mil euros, a discricionariedade da administração fiscal passa a ser quase total.

De notar que este tipo de medidas, caso não sejam concertadas num enquadramento fiscal europeu, podem ser mal interpretadas e resultarem numa eficácia reduzida. Os contribuintes com possibilidade de se colectarem noutros países sentir-se-ão muito tentados a fazê-lo. Ou seja, a medida pode ter o efeito contrário.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
filipegarcia@gmail.com




Gestão da Crise ou Crise de Gestão?

Muito recentemente tive o prazer de participar num evento que reuniu alguns gestores do nosso país para uma troca de opiniões e experiências à volta deste tema (quanto a mim muito feliz).
Conscientes da crise financeira global, facilmente se chegou ao consenso de que efectivamente estamos a viver e a contribuir de forma mais ou menos consciente para uma Crise de Gestão.
No âmbito da medicina e da manutenção, falamos em planos preventivos e correctivos. Será que os gestores em geral, e os gestores de recursos humanos em particular, têm agora mais “doenças” para tratar porque não souberam definir e aplicar um plano de “vacinas” ajustado e alinhado com a estratégia do negócio, e simultaneamente flexível às potenciais adversidades, sejam elas locais ou globais?
Não valerá de muito a pena invocar a legislação laboral nacional, que teima em não ajudar, ou apontar armas para o nosso sistema de ensino que não prepara a futura população activa para o inesperado, para abandonar a sua área de conforto. Podem até ser razões elegíveis, mas é responsabilidade dos gestores fazer acontecer o que está ao seu alcance.
Porquê só agora (ou mais agora) trocar-se realidades e best practices? Porquê actualmente falar-se mais em partilha de risco do negócio? Porquê mais hoje do que antes procurar-se mais criatividade na política retributiva (objectivos, variável, flexível, diferida…)? Porquê (só) agora a defesa de valores como a confiança, rigor, transparência? Comunicar, comunicar, comunicar…será que já não fazia sentido?
Será que o futuro não dependerá em nada da nossa vontade de hoje?
Mónica Quinta

terça-feira, 14 de abril de 2009

Projecções do Banco de Portugal para 2009

A revisão da projecção de contracção do produto para 2009 acaba por ser uma reacção aos novos dados recolhidos e é um valor mais alinhado com os dos principais parceiros europeus. Não poderia ser de outra forma, dado o carácter aberto da economia portuguesa, o sentimento dos agentes económicos e as dificuldades de financiamento. Note-se que os agentes económicos estão agora acostumados a encarar as projecções mais recentes do Banco de Portugal como sendo mais adaptativas do que prospectivas, pelo que esta forte revisão em baixa em nada os surpreende, apenas peca por tardia. Desagregando a projecção, verifica-se que os recuos no investimento e no consumo privado são os principais responsáveis pela contracção prevista em 2009, o que denota bem o pessimismo e falta de capacidade financeira dos agentes económicos. Em termos de comércio externo existirá uma quebra substancial, tanto nas exportações como nas importações. Portugal terá dificuldades em inverter o ciclo económico actuando por si só. Ou seja, da mesma forma que foi “arrastado” para a situação actual pelos desenvolvimentos da economia mundial, também estará dependente de uma melhoria na envolvente económica externa para inverter o ciclo económico. Sem prejuízo de reestruturações internas que o país poderá efectuar e de políticas que mitiguem o impacto social da crise e que não devem deixar de ser seguidas, é muito discutível que políticas orçamentais ainda mais expansionistas possam produzir efeitos virtuosos e duradouros na economia portuguesa. Tal poderia provocar um ainda maior desequilíbrio nas contas externas e agravar a tendência de crescimento da dívida pública em que o país se encontra, sem que os benefícios sejam particularmente relevantes. Notamos [no momento em que escrevemos este texto] que não se avançou com uma nova projecção para o défice do sector público para 2009, embora não saibamos se o BdP tem dados disponíveis para o fazer com algum rigor. A projecção actual do PEC, de 3.9% é optimista face aos 4.6% avançados pela Comissão Europeia e não está alinhada com a dos parceiros europeus. Seria importante actualizar este número. Do lado da receita a desaceleração do produto estará a dificultar a recolha de todo o tipo de impostos (IRS, IRS, IVA, Combustíveis, Habitação, etc.). Simultaneamente as obrigações do estado parecem estar a aumentar, dados os programas de incentivo à economia e de apoio social que têm sido anunciados. Filipe Garcia Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Crédito mais caro

O custo de financiamento no mercado por parte da Banca em geral não tem actualmente como referência a Euribor, mas sim taxas de mercado em contratos de financiamento que têm implícitos spreads superiores a 2% sobre a Euribor. Isto significa que o clima de incerteza que se vive nos mercados financeiros continua, afectando a circulação de liquidez e a capacidade de obtenção de fundos nos mercados financeiros internacionais. Houve assim um incremento significativo dos prémios de risco praticados no mercado, com impacto nas respectivas emissões de dívida das Instituições Financeiras.
Pode-se assim dizer que as diversas medidas de política económica tomadas, nomeadamente a conjugação de taxas de juro oficiais muito baixas, medidas de estabilização e recapitalização do sector financeiro e prestação de garantias aos bancos, não estão a ser suficientes para garantir o normal funcionamento dos mercados e a fluidez necessária ao acesso de fundos. Ora é precisamente esta situação que leva a Banca a reflectir nos seus preços o custo dos recursos dos clientes, o risco de crédito, o custo dos seus financiamentos e investimentos, bem como a margem de remuneração aos seus diversos accionistas.
Dito isto, e se já se dizia que a Banca têm vindo a subir os spreads cobrados aos seus clientes, a verdade é que a subida vai continuar e de forma implacável, pois não vai ser possível à Banca continuar a manter preços inferiores ao custo do funding.

Obama aproxima-se de Cuba

Tem tanto de oficial como de inesperado. Obama suspendeu várias restrições que limitam Cuba, tanto ao nivel de viagens, como ao de empresas americanas que pretendem operar naquele território. Apesar de ser um levantamento parcial, traz consigo um simbolismo enorme e sugere que um novo posicionamento está a nascer nas terras do Tio Sam.
A questão agora é saber até que ponto evoluirão estas relações e como evoluirá a fundamental politica externa americana com Hugo Chaves, com o Irão e sobretudo com a Coreia do Norte. Por outro lado, até que ponto Obama se retrai com Israel ou não.
Parece claro é que os EUA estão a definir o seu próiprio caminho, o que já há algum tempo não acontecia....

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Estamos perante um cenário de deflação? Não.



O valor mensal da inflação em Março foi um pouco superior ao esperado, com o impacto sazonal das novas colecções de vestuário e calçado a mais do que compensar as descidas na alimentação. No entanto pode discutir-se se o padrão de consumo dos portugueses não se terá alterado ligeiramente, o que poderia fazer com que a subida no vestuário e calçado possa ter tido menos impacto no orçamento familiar do que é normal.

A inflação média continua a descer, o que não surpreende em função da desaceleração económica global e da evolução de preços do ano passado.

Define-se deflação quando estamos em presença de inflação anual negativa. De facto a inflação homóloga saiu negativa em Março e é bem provável que essa situação volte a ocorrer mais vezes até ao final do Verão ou início do Outono. Este comportamento da inflação homóloga não tem tanto a ver com uma descida pronunciada dos preços no presente (aliás os preços até subiram em Março), mas com a forma como os preços aceleraram em 2008 devido às subidas na energia e demais matérias-primas, inclusivamente alimentares.

Ou seja, parece pouco apropriado estar a falar em deflação neste momento, só porque uma inflação homóloga saiu negativa, enquanto a variação mensal de preços foi positiva e a inflação média está nos 1.9%. Estamos perante uma variação homóloga negativa, que se repetirá, mas que está mais associada aos “exageros” de 2008 do que à crise económico-financeira de 2009.

O corrente ano será muito benigno em termos de inflação, mas estou mais preocupado com a possibilidade do ressurgimento da inflação, talvez daqui a um ano, provocada pelas injecções de liquidez efectuadas pelos bancos e pelos planos de intervenção utilizando despesa pública. Poderemos mesmo vir a testemunhar um cenário de estagflação (inflação alta e crescimento baixo), situação que George Soros também admitiu há alguns dias como plausível.

Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
filipegarcia@gmail.com

"Mash-up" de comentários sobre o tema

PuraMente #13 - El Método Obama



Nome: El Método Obama

 

Autor: Rupert L. Swan

 

Data: Fevereiro de 2009 - Debolsillo

 

Frase: "Sorrir é uma forma barata de mudar a imagem"

 

Keywords: Corpo; Alma; Comunicação; Recursos inatos e apreendidos; Mudança; Multilateralismo;


Apreciação: **

 

O fenómeno Obama é omnipresente. Perante a avalanche de títulos sobre o novo presidente americano foi impossível não ceder à tentação de consultar um dos últimos lançamentos. Depois da leitura de "El Método Obama" e de folhear outros livros do género, fica a sensação que a figura de Obama, além de vender bem, é utilizada para a legitimação de ideias já previamente concebidas e que são agora validadas por este novo personagem, dado o seu percurso inovador e de sucesso. Ou seja, muitos dos textos editados recentemente não são baseados em Obama, mas adaptações ao chamado "novo ícone para o século XXI" (citação). Esperava-se uma argumentação indutiva, mas o leitor depara-se com uma abordagem dedutiva, do geral para o particular.

O livro é muito rápido de ler. São 100 tópicos, mas quase todos de apenas uma página. Está divido em duas partes - corpo e alma - que segundo o autor constituem uma única entidade comunicativa. Na primeira parte - "O corpo comunicativo" - são tratados temas ligados a elementos físicos e mais facilmente perceptíveis pelos outros, tais como a aparência, a postura e a linguagem. Em "A alma comunicativa" fala-se de questões anímicas, de força e controlo emocional, de organização mental, escuta, entre outros. Aspectos menos estéticos, mas igualmente poderosos na projecção da imagem do indivíduo.

Os tópicos são muitos, mas tratados de forma obrigatoriamente resumida, algo superficial e enviesados pela mentalidade ocidental, ainda que por vezes chame a atenção para algumas diferenças culturais. No entanto, o leque de ideias abordadas é muito vasto, o que faz com que o livro aporte valor. Para os mais seniores poderá servir de uma checklist comportamental, capaz de ajudar a detectar aspectos a trabalhar, ou para actualização. Mas o que leva a destacar este livro é a sua utilidade para os que estão em início de carreira, ou estudantes universitários, que ainda não tiveram a oportunidade de ser confrontados com algumas destas ideias. É, nesse sentido, um livro mais enriquecedor para juniores.


filipegarcia@gmail.com
Artigo publicado no Jornal de Negócios em 7 de Abril de 2009


Harvard Trends #4 - Masdar

A primeira cidade 100% sustentável do mundo – Masdar – constitui tema de debate na mais importante escola de negócios americana desde há algum tempo. No entanto, o debate passou dos case studies de projecto inicial para uma discussão mais recente sobre o arranque em real desta iniciativa (www.masdaruae.com), com a recepção de 100 habitantes já em 2009.
Masdar é um projecto que merece atenção por ser a primeira proposta de cidade auto sustentada energeticamente e com impacto zero do ponto de vista ambiental e de consumo de recursos. Considerada irrealizável por alguns nos termos propostos e advogada por outros como puro marketing, a verdade é que o projecto tem avançado e catalizado debates que conduziram a melhores soluções, evoluindo de versão a cada novo estádio da gestão de desenvolvimento sustentável no mundo. Este projecto, que tem igualmente um impacto zero ao nível de resíduos e pressupõe a inexistência de viaturas privadas, cria dúvidas nos formatos de governação, gestão sustentável e nos impactos no lifestyle e níveis de cidadania das populações. Inevitável é o consenso com Thomas Friedman na urgência de um Code Green, seja liderado nos USA … ou por Abu Dhabi.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

FMI sugere 'euroização' dos países de leste



O FMI está a sugerir aos países do leste europeu que adiram ao euro e abandonem as suas moedas locais, mesmo que não se juntem formalmente à zona euro numa primeira fase. A “euroização” [o termo é do FMI] permitiria aos países resolver grande parte dos seus problemas de acumulação de dívida em moeda estrangeira, promovendo estabilidade e restaurando a confiança. É evidente que colocar a Europa de leste no euro não é algo de simples. Muitas das críticas e vulnerabilidades da zona euro têm a ver com a falta de homogeneidade entre os países que a constituem, nomeadamente as grandes diferenças a nível de política fiscal, saldos orçamentais e de conta-corrente, desenvolvimento económico e falta de integração política. Se já na situação actual há problemas, imagine-se com a integração de mais países e nas condições actuais.

A sugestão do FMI tem alguma importância devido ao peso que a instituição ganhou nas últimas semanas, sobretudo após o G20 e insere-se num contexto de transformação que parece estar a vir ao de cima no mercado cambial. O mundo parece procurar alternativas ao dólar como divisa dominante a nível global. Não se tratará de simplesmente substituir a moeda americana, mas sim de tentar uma menor dependência a algo que possa suceder ao dólar. A crise financeira está a mostrar a exposição global à economia americana e o desconforto que dai resulta leva a que se busquem alternativas, no que a China e Rússia estão a ser precursoras.

A adopção do euro por países de leste parece-nos improvável, mas é sinal dos tempos e da vontade que existe em mudar de rumo. A prazo o dólar deverá perder terreno, à medida que as reservas forem transformadas. Um processo que demorará bastante tempo, mas que deverá ser suficiente para marcar a tendência de longo prazo na moeda.

George Soros deu esta semana uma entrevista prolongada à Reuters e também ele considera que o mundo teria a ganhar numa solução em que o dólar tivesse menos importância...


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Harvard Trends #3 - Lições da Crise

Mais do que nunca, Harvard tem discutido temas relacionados com causas e efeitos das novas formas de crise emergentes do subprime, de alavancamento excessivo e fraudes correlacionadas, num ambiente financeiro dominado por uma estratégia dominó. Neste cenário, foi conduzido um estudo em mais de 600 empresas afectadas nas áreas da banca, seguros, e investimentos financeiros.
As lições do passado postulam que mesmo as grandes empresas podem falir com o formato das actuais crises e recomendam: Nas fases não-crise as empresas devem estruturar a oferta para um aumento de margens, diversificar negócio e riscos e criar um fundo fixo de capital - buffer que se justifica apesar de ter custos de circulante, pelos problemas que resolve num momento difícil. Durante os períodos de recessão as empresas destes sectores devem evitar mudar a estrutura de governação, em nenhum caso descontinuar a distribuição de dividendos e impedir um aumento do nível sub-capitalização.

As recomendações são aplicáveis ao mercado português, tendo-se tornado claro que é na fase prévia à crise em que as acções são mais difíceis, mas também mais eficazes.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Puramente #12 - Sucesso em Português

Nome: Sucesso em Português
Autor: Luís Sítima
Data (Original): Dezembro 2007
Frase:”Apenas 30% dos processos de mudança são implementados com sucesso, por défice de confiança, credibilidade ou compromisso
Keywords: LOOP, Leader, Mudança, Inovação, Gestão de Pessoas, Orientação Estratégica
Apreciaçao: ***
Sucessos em Português – 15 Histórias de Mudança Organizacional – relata, através de case studies recentes do mercado português, situações de mudança organizacional que conduziram a um consensual sucesso para as respectivas empresas. Trata-se da mais recente obra do autor de “LOOP – Organizações em Mudança”, sendo esta edição uma espécie de manual prático que explora casos práticos de empresas nacionais nas áreas de liderança, orientação estratégica, competência organizacional e gestão de desempenho, podendo servir simultaneamente de leitura didáctica para evolução dos gestores nestas áreas e repositório de informação relevante em áreas de mudança para consulta ocasional. O “Sucesso em Português” não é daqueles livros em que os autores pecam por escrever demais, tornando penosa a leitura da segunda metade da obra. São 94 páginas bem arrumadas, o que é um achado nos dias de hoje. Este livro peca por não trazer nenhuma nova estrutura teórica relevante ou sugestão de hipótese nas áreas em estudo, mas em contrapartida tem sugere acções com base em “best practices” e está enfocado numa lógica de execução, em vez de teorização. De Mourinho à Sonae, passando pela Lactogal, Grohe ou TAP, as quinze histórias de mudança organizacional tratam de assuntos como a o estimulo e reconhecimento, gestão de pessoas, indicadores e scorecards, estratégia e inovação, integração e alinhamento (…) contribuindo como novos conceitos como Balanço de Qualidade de Vida, Índice de Moral ou o Alinhamento Pessoal no Negócio.
Não sendo um livro-referência, Sucesso em Português condensa informação prática interessante sobre um tema da maior actualidade e merece o curto investimento em tempo que exige.
Publicado no Jornal de Negócios dia 3/4/2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Dragão



Parece trivial, mas não é. A China e a Argentina chegaram a acordo para a criação de uma linha de troca de divisas - yuans e pesos - de aproximadamente 10 mil milhões de dólares. Este tipo de instrumento - denominado de swap - permite que cada país possa aceitar as moedas do outro como pagamento no comércio bilateral, sem necessidade de passar pelo dólar. Actualmente a moeda americana é utilizada nas trocas, dado que nem o peso nem o yuan têm convertibilidade internacional. Este tipo de acordo poderá ser utilizado com outros países da América Latina, com os quais a China tem um relacionamento comercial que ascende a cerca de 112 mil milhões de dólares por ano.

Com esta “ferramenta cambial” a China conseguirá trabalhar vários objectivos em simultâneo. Por um lado contornará a dificuldade da não convertibilidade das moedas, facilitando as transacções. Ao mesmo tempo poderá fortalecer as relações comerciais e políticas com diferentes países, fidelizando-os como clientes, conquistando influências e assumindo-se como uma potência global. Finalmente, tentará construir uma alternativa ao dólar, e mesmo ao euro, como principais moedas de transacção internacional.
 
Os chineses (e não só) estão desconfortáveis com a sua exposição ao dólar e começam a mover influências para que o seu peso seja reduzido a favor dos "Direitos Especiais de Saque" - uma espécie de divisa do FMI. Fala-se do progressivo abandono do dólar devido à possível perda do seu carácter de reserva de valor e da credibilidade que indubitavelmente a moeda ainda tem. O processo está longe de estar em marcha rápida, mas conhece-se bem o método chinês de actuar – com muita calma, dando o tempo ao tempo.

Sem pressas, sem pausas.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Artigo publicado no jornal Meia Hora de 6 de Abril de 2009


Progresso Lento

A crise financeira, que inunda jornais e revistas, televisão e podcasts, blogs e análises, acarreta efeitos colaterais que têm sido até agora ignorados. De entre estes, destaque-se a tendência para uma reengenharia no processo de gestão de ciclos de vida dos produtos, invertendo a compressão dos ciclos que até hoje se viveram.
A redução no consumo de FMCG (fast moving consumer goods) superará os 8%, enquanto a oferta continua a crescer. Por outro lado, sectores como o automóvel terão uma quebra global de 15% nestes anos. O retardamento do consumo conduz a um cenário de menor concentração de compra [compras por unidade de tempo], com as empresas a precisarem de aumentar os períodos de recuperação de investimento ou as margens operacionais. Como as margens não podem crescer num mercado com excesso de oferta, a solução passa ou pela concentração do sector ou pelo aumento de ciclos de vida. A concentração do sector implica crédito, que nesta altura parece improvável. Consequência óbvia: dilatação dos ciclos de vida. Note-se a importância deste tema, já que a redução dos ciclos de vida está co-relacionada com a aceleração das economias, portanto com o progresso.
Evitar a desaceleração do progresso tem tanto de necessário como de improvável, sendo o aumento do consumo interno dos BRIC a única opção credível, também ela pouco provável.. Entretanto, existe uma enorme oportunidade para quem conseguir investir ao mesmo ritmo em R&D e, mesmo perdendo operacionalmente no CP, sustentar pela diferenciação o longo prazo. Parece contudo óbvio aquilo que espera os consumidores: um progresso mais lento, uma evolução menos acelerada.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ainda sobre a Globalização...

O Mundo está definitivamente a mudar. Desde logo pela importância que assume a cimeira do G20 (a segunda em apenas 4 meses), que em Londres arranca hoje sob o desafio "Estabilidade, Crescimento, Emprego" (e por esta exacta ordem). Para problemas globais, respostas globais - Brown abriu com um apelo ao fim do proteccionismo, pedindo um compromisso firme de todos no relançamento da economia mundial. Depois, pelo novo mapa geo-estratégico que começa a reflectir um pouco mais a nova ordem económica Mundial.

"O primeiro-ministro britânico e anfitrião da cimeira de Londres, abriu esta manhã os trabalhos da cimeira sentando Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos, à sua direita, e o Presidente chinês Hu Jintao à sua esquerda. O gesto reflecte o reconhecimento da legitimidade das insistentes petições da China, que reclama um “lugar” no xadrez político mais consistente com a relevância económica do País. A economia chinesa terá, no ano passado, ultrapassado a alemã, convertendo-se na terceira maior do mundo. Não obstante, os direitos de voto do País no seio do Fundo Monetário Internacional representam apenas 4% do total, contra, por exemplo, 17% dos Estados Unidos.Na cimeira de Washington, em Novembro o Presidente George W. Bush dera a direita ao Presidente Hu Jintao."

in Jornal de Negócios.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Supply Chain flexível uma oportunidade

A situação actual cria uma pressão adicional sobre a supply chain. Todos sabem que termos uma supply chain eficiente é uma enorme vantagem competitiva, no entanto não basta ser efectivo temos que ser altamente flexiveis. As variações já não são limitadas e de curto prazo em que o stock de segurança resolve. Nos anos 60 foi estudado um fenómeno chamado Bullwhip effect, este fenómeno retrata a amplificação que uma variação na procura dos consumidores tem na cadeia de fornecimento e que o retorno a volumes é inesperado e repentino. Neste cenário de volatilidade a reacção lenta ao mercado levará a aumentos significativos de stock nas empresas mais a montante do consumidor final ou a guerras de preços desesperadas. No último número da revisão trimestral de uma consultora, davam alguns exemplos de empresas que montaram reunião mais periódicas semanais e muitas vezes diárias em que as várias áreas flexibilizam a cadeia logística chegam mesmo a chamar-lhes salas de Guerra, em que cada decisão conta para satisfazer o mercado e melhorar a posição competitiva da empresa. Esta é de facto uma oportunidade magistral para olhar concientemente para este processo e definir novas estratégias, renegociando com fornecedores, melhorando os processos produtivos para garantir flexibilidade. Segundo a teoria a procura irá reagir repentinament de forma a repôr niveis de stock no mercado e este ponto pode ser o fechar da oportunidade para desenvolver, flexibilizar e preparar melhor o negócio para o futuro.
Publicado no Jornal Meia-Hora de 26/03/2009

O lado B

Foto: Luís Ferreira
Inevitavelmente está em curso um interessante debate sobre a nova ordem económica. Irá a globalização soçobrar com a crise financeira mundial?
Para os mais optimistas, as ajudas públicas conseguem devolver a confiança ao sistema financeiro; as políticas monetárias agressivas impedem a recessão de ser muito profunda; a globalização retoma o seu curso: os movimentos de capitais ganham novo fôlego e as economias emergentes prosseguem o seu papel de motor do desenvolvimento económico mundial.
Para outros, teremos recessão para mais 5 anos. Sem resultados das políticas monetária, fiscal e de incentivos, as economias por todo o Mundo estagnarão; o parco comércio internacional e os tímidos movimentos de capitais levarão a uma capitulação da globalização. O Mundo retrocederá uns bons anos, abrindo terreno aos movimentos nacionalistas, defensivos e mesmo xenófobos – enfim, ao desconectar da rede. Poderá ser para todo o planeta uma década perdida.
Ao entender a globalização como um fenómeno cíclico sabemos que entre momentos de aproximação há proteccionismo; ao analisarmos as questões que hoje se colocam ao Mundo (do terrorismo às mudanças climáticas) compreendemos que a resposta tem que ser global. A verdade é que a globalização é muito mais do que investimento e comércio internacionais; a era da Internet aproximou e integrou o Mundo de tal forma que o tornou plano, gerando um fenómeno tão robusto e lato quanto difícil de deter. Mas importa avaliar: nas contas da globalização, qual será o saldo da conta corrente portuguesa?