domingo, 26 de fevereiro de 2012

Tolerância zero


Não partilho da opinião da maioria das vozes de que, a tolerância de ponto no carnaval não fez sentido. Essas opiniões vão desde: ou porque, economicamente não fazem sentido; ou porque, fazendo sentido a decisão foi em cima da hora; ou ainda porque, é injusta uma vez que há muitas empresas do setor privado e publico, cujos Acordos Colectivos de Trabalho (ACT) não permitem abolir, unilateralmente, essa regalia.

Se ficássemos à espera da abolição unanime chegaríamos a 2013 ainda a discutir a questão, à boa maneira portuguesa. A prova de que a decisão foi acertada, vê-se na iniciativa dos Bancos de reverem o seu ACT.

Um bom sinal de que o que precisamos é começar a agir e a decidir de forma rápida, porque os mais resistentes acabam por se render à evidencia.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Brincar aos Vinhos



A visita à “Essência do Vinho”, no Porto, confirmou a suspeita: a estratégia da maioria dos produtores não se adequa ao mercado, sobretudo internacional.

Cada produtor apresenta no mínimo oito variedades. A quantidade produzida de cada uma é necessariamente reduzida e os vinhos são muito diferentes entre si, não se gerando um padrão reconhecível. Na maioria, nem sequer são excepcionalmente bons, o que poderia permitir a construção de um mercado premium (uma aposta difícil).

Quantidades baixas e dispersão alta impedem a entrada nos distribuidores internacionais ou a afirmação de uma marca mass. Por outro lado, as edições são limitadas, mas não são preciosidades. São apenas limitadas, tal como a estratégia.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 24 de Fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Destino Traçado



A Segurança Social é o organismo do Estado, que habitualmente deteta os primeiros sinais de dificuldade das empresas quando estas não cumprem as suas obrigações.


Como os interesses na proteção do emprego se sobrepõem, na maioria das vezes, à análise de viabilidade económica da empresa, o Estado dá paliativos, e os efeitos nefastos aparecem mais cedo ou mais tarde. 


Mudando este paradigma, e com regras que impeçam alguns maus gestores de perdurarem à frente dos destinos dessas empresas, os credores sentirão maior confiança e poderão fazer parte da solução. Não me parece que a nova lei de insolvências dê passos nesse sentido.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Responsabilidade



Os principais bancos portugueses registaram prejuízos conjuntos de mais de mil milhões de euros relacionadas com reconhecimento de crédito malparado e, principalmente, com perdas nos investimentos em dívida grega.

É surpreendente que os responsáveis por essas decisões de investimento tentem “escapar entre os pingos da chuva”, como se não se tivesse tratado de uma decisão sem fundamento do ponto de vista da gestão de portfolio. Aceita-se uma aposta em obrigações gregas, mas não o montante alocado susceptível, como se verificou, de provocar resultados ruinosos.

Foi uma decisão incompreensível que levaria ao despedimento de um qualquer iniciado em gestão de carteiras.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 9 de Fevereiro de 2012

Ferir a Paz Social



Na comparação entre a situação de Portugal e a Grécia há duas diferenças que sobressaem. A primeira é que Portugal tem implementado as medidas da troika, indo até mais longe em alguns aspectos. A segunda é que, ao contrário da Grécia, a população está calma e não se vive na iminência de um caos social. Há um sentimento colectivo de sacrifício.

Mais do que “no bolso”, é nas medidas simbólicas que se pode perder a confiança das pessoas. Primeiro foi um conjunto de nomeações duvidosas e a criação de regimes de excepção para escapar à austeridade na função pública. Agora elimina-se um feriado, “em cima da hora”, porventura o único que até tem impacto económico positivo.

Cuidado.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 10 de Fevereiro de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

“Aposto” que é Ponzi



A promessa recente de rentabilidade de 8% ao mês está a atrair o interesse de muitos particulares, que são seduzidos a aplicar as suas poupanças num gestor de apostas desportivas.

É evidente que as apostas podem ser rentáveis para alguns, mas a transformação num instrumento de investimento é altamente questionável quer em termos de resultados, quer em termos de enquadramento legal. Neste ponto, cabe ao regulador estar atento e actuar.

As semelhanças com outras promessas de retorno “certo”, como a compra de selos, “jogo da bolha”, Dona Branca ou Madoff é notória.

Por isso, “aposto que vai dar asneira”.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 1 de Fevereiro de 2012

Energias




O maior problema da operação das empresas é o custo da energia. Primeiro, porque é uma fatia enorme do custo, e depois porque é a única parte dos custos onde a racionalização é quase sempre impraticável. Pior, é uma fatia mais pesada do que a da concorrência internacional, o que levanta sérios problemas de competitividade das exportações.

Não há soluções fáceis, porque a dependência externa é óbvia e as energias alternativas são caras demais. Vale a pena pensar se subsidiar energias sustentáveis faz sentido no curto prazo, quando essa medida prejudica as exportações e portanto a recuperação económica