sábado, 26 de setembro de 2009

PuraMente #30 - The Power of Less

Nome: The Power of Less
Autor: Leo Babauta
Data Original : Julho 2009
Frase: “Choose the essential and cleanout the rest – do more doing less”
Keywords: Focus; Lifestyle; D-stress; Effectiveness; start small; Log; Limit;
Apreciação: ****
O primeiro livro de Leo Babauta, conhecido bloguista do “Zen Habits”, não é um memorando teórico e fundamentalista sobre a vida num estado zen – é antes um manual de como compatibilizar vidas com projectos e objectivos em excesso, melhorando a eficácia e a qualidade de vida.
A obra parametriza o mundo actual como aquele onde cada um tem mais compromissos, tarefas, metas e ocupações, com o mesmo tempo disponível, conduzindo a um estado de stress, pouca eficácia e constante salto de tema em tema, de mail em mail, de reunião em reunião, raramente concretizando efectivamente aquilo a que se propunha, ao que era necessário.
O autor propõe uma simplificação, num modelo que sumariamente se mecaniza em 6 princípios essenciais, onde menos é mais – realizando menos maximiza-se eficácia e resultados. A resposta passa por um processo que se inicia com um Plano de Desenvolvimento Pessoal, que procura responder a perguntas como “ Quais são os objectivos de longo prazo?”, “Quais são as prioridades”, ou “O que traz mais valor para a minha vida” e que depois é sub composto em objectivos, subdivididos em tarefas. O processo de simplificação passa por criar limites em todas as áreas - sobretudo as menos relevantes – conduzindo a um processo de escolha. A este processo de simplificação e escolha junta-se um outro, de enfoque em cada uma das tarefas e projectos que se escolheu fazer em cada dia, em cada mês, adicionando rotinas para um posto de trabalho zen, uma casa ordenada, uma condução eficaz e uma verificação de mail regrada.
Leo Babauta transpôs para um modelo um conjunto de princípios óbvios mas nem sempre respeitados, juntando-lhe uma mão cheia de novidades criativas que, seguidos com rigor mas critério, conduzirão certamente a melhores resultados e a uma melhor vida.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Colar Cartazes

Foto: Luís Ferreira

Este Setembro chegou maduro; no ar pesado paira o travo intenso do combate político. O poder é fascinante! E um grande mercado. As eleições um profundo oceano vermelho, cada vez mais competitivo e feroz. Com um produto mau, vendedores desacreditados e cada vez menos consumidores, as receitas ressentem-se. Não será só pela crise. Pelo menos não da mais palpável, da financeira e global; talvez da mais oculta e dolorosa, a interna – aquela que se revela na deterioração de valores, na ausência de rumo agregador, na falta de solução inspiradora para a nação. Enfim, no "medo de existir".

No meio de tanta neblina, será possível afastarmo-nos das “nano-mini-micro” disputas que têm saturado os dias e, ousando diferente, concentrarmo-nos em inovação de valor? Isto é, numa clara mas robusta proposta de desenvolvimento para o país, com tanto de ousado quanto de inspirador?

Oferecendo ao debate novos e úteis elementos, os argumentos estéreis destinados a produzir “sound bites” seriam substituídos por ideias e opções de desenvolvimento e respectivos planos de acção devidamente detalhados (no tempo e nos custos).

Enquanto a grande maioria dos políticos apenas sabe “colar cartazes” outros (poucos) conseguem mover multidões. Estes despertam, inspiram e insuflam a sociedade de ar fresco, marcando novos rumos. Isso sim. Seria juntar utilidade e benefícios aos clientes – afinal todos nós –, construindo um novo oceano azul na política.

Publicada no Jornal "Metro" em 23-Set-2009

Legislativas (*)

A poucos dias das eleições, confesso que há muito que me resignei politicamente. As expectativas que tenho acerca do que sairá do próximo sufrágio são tão reduzidas que representam apenas uma esperança – sempre a última a morrer –, mas pouco mais do que isso. É que apesar de algumas diferenças programáticas aqui e acolá, nas grandes decisões, o próximo governo, provavelmente, não revolucionará nem reformará. De resto, um dos problemas que a democracia portuguesa enfrenta neste momento é a irrelevância política a que os governantes estão destinados, nomeadamente em face dos nossos compromissos europeus. E que, relembro, tenderão a acentuar-se a partir de 2013, quando Portugal passar a ser contribuinte líquido (!) da União Europeia. Contudo, ainda estamos em 2009. E, no presente, temos um país que não mexe. Um país que não progride. Temos um país profundamente desigual, em que 58% dos agregados familiares ganham menos de 13.500 euros por ano e que são o reflexo da nossa falta de produtividade e competitividade. Mas a culpa é nossa e de mais ninguém. Portanto, ao próximo governo peço apenas uma coisa: libertem o país! Abaixo com a burocracia. Abaixo com a rigidez das leis. Abaixo com a incompetência dos tribunais. Abaixo com a má gestão dos dinheiros públicos. Abaixo com os mil e um impostos. Abaixo com os subsídios para quem não quer trabalhar. Para a frente Portugal! Enfim, esta é a minha ténue esperança. (*) Publicado no jornal “Metro” a 24/09/2009.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A bolha dos bónus vai rebentar?

O actual sistema de compensação dos executivos de topo tem por base a teoria da agência (muito em voga nos anos 90), segundo a qual quando uma pessoa (principal) incumbe a outra pessoa (agente) a prestação de serviços, envolvendo a delegação de poder de decisão, existe razão para acreditar que o agente nem sempre vai agir no interesse do principal, mas sim na tentativa de maximizar o seu benefício próprio. Os principais conflitos discutidos nesta teoria respeitam ao empenho dos gestores, ao controlo dos gestores sobre os bens da empresa e a uma atitude face ao risco diferente da assumida pelos accionistas. Os gestores assumem uma grande responsabilidade perante os accionistas, pelo que deveriam receber prémios relacionados com o retorno das acções, opções sobre acções e remuneração indexada a indicadores de desempenho. Assim, assistimos nos últimos anos à distribuição de incentivos generosos, numa cultura tão insaciável que observámos os directores da seguradora AIG, salva da falência pelo Estado, a reclamarem o direito aos seus prémios exorbitantes. Na cimeira do G20, que decorrerá nos dias 24 e 25 próximos em Pittsburgh (EUA), pretende-se chegar a um acordo quanto à definição de normas globais para limitar os prémios pagos na banca. A este respeito, espera-se que haja um confronto entre a posição da Alemanha, França, Reino Unido e outros países europeus e a posição dos EUA que hesitam em definir níveis de compensação individuais.
Susana Peixoto
Docente do IDEP
Artigo publicado no METRO, em 22/09/2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Não queremos mais!

Muitos sinais estão aí à vista de todos para quem os quiser ver: o consumidor mudou!
Há quem diga que tal é uma consequência directa da recessão e da crise de confiança que terá impactos duradouros nos comportamentos dos consumidores. Outros há, que consideram que tais alterações são devidas à evolução natural do consumidor nas sociedades avançadas. Nesta perspectiva, estes consumidores estarão num estádio avançado de maturidade, levando a que o seu consumo seja muito mais ponderado e consciente, de um ponto de vista económico, social ou ambiental.
Seja como for, a verdade é que quando se pergunta aos consumidores dos países ricos se querem consumir mais, a resposta é “Não!”. Quando se olham os números da evolução das vendas de retalho na Europa e nos Estados Unidos a conclusão é evidente: existe uma diminuição anual no volume de vendas desde 2007 que se tem vindo a acentuar. Algumas empresas foram capazes de ler estes sinais e traduziram-nos em acções com vista a captar um mercado que teima em encolher. Para o fazer, as empresas terão que estar atentas aos seus consumidores, actuais e potenciais, por forma a conseguirem identificar necessidades não atendidas ou frustrações existentes.
Este exercício irá permitir identificar novas oportunidades de crescimento através da segmentação de perfis de clientes não endereçados e de necessidades não cobertas no modelo de negócio actual...mesmo que estes sejam os clientes que nos dizem: “Não queremos mais!”

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Marketing e as eleições

O Marketing Político é, hoje, uma ciência... e é o momento certo para dele falar! Se observarmos à volta, as razões estão à vista: a verdade é que alguns dos nossos candidatos locais bem podiam aprender um pouco mais sobre esta ciência... Basta ver um desses cartazes que se espalham pelas nossas freguesias! Comecemos então por uma pequena lição: em primeiro lugar definir o que é Marketing Político. Sintetizando as definições de autores de referência, como Jennifer Lees-Marshment, o Marketing Político pode ser visto como comunicação/informação que tem por fim influenciar positiva ou negativamente as ideias do eleitor sobre propostas, candidatos, governos... Num sentido mais lato, e mais exacto também, marketing político não é, contudo, somente comunicação, como na definição acima pode parecer: é, mais que isso, criar e ajustar os “produtos” (medidas governamentais...) às necessidades da população para que esta fique e se sinta, efectivamente, melhor servida. Para uma pequena análise das autárquicas, não necessitamos ir tão longe quanto o marketing político na sua totalidade. Basta-nos ficar pela Comunicação e Vendas para saber que muito há a melhorar, a começar pela “embalagem”. Das fotos dos candidatos – muitas, verdadeiramente anedóticas! - aos slogans indecifráveis ou vazios, podemos ver de tudo. Já na vertente comunicação, os candidatos às legislativas não estão mal de todo... mas se pensarmos no marketing político na sua real abrangência... então tudo parece ainda por fazer.

As Empresas também Sonham

O poeta português António Gedeão, no seu poema “Pedra Filosofal”, chegou a uma verdade profundamente ligada à natureza humana, a de que “O Sonho Comanda a Vida”. As empresas e as suas equipas também precisam de ter um sonho partilhado por todos os colaboradores; que os une, que os faz ter um caminho comum e que os impulsiona a unir esforços, trabalhar e realizar. Se uma empresa não tiver esse sonho as pessoas não se mobilizam em torno da sua realização, mais, não geram energia positiva e vontade para superar as dificuldades melhorando constantemente o seu desempenho. Esta linguagem algo literária tem uma tradução para a linguagem empresarial; o Sonho chama-se Visão e contém normalmente o que a organização quer ser e ainda não é. A uma visão está associada uma Estratégia (a forma de chegar ao sonho) e Valores (conjunto de princípios que orientam o comportamento dos colaboradores no desempenho das suas funções). A qualidade do sonho é determinante para o desempenho da empresa, se este for injusto (apenas satisfaz alguns colaboradores e/ou accionistas) as pessoas não aderem ao sonho e não dão o seu melhor. Todos nós conhecemos empresas de que gostamos e onde não nos importaríamos ou gostaríamos de trabalhar e outras de que nem queremos ouvir falar. A responsabilidade de criar este sonho é da administração. Definir o sonho para uma empresa é construir a sua base. Empresa que não Sonha não viverá muito tempo. António Jorge Consultor em Estratégia, Marketing e Vendas Publicado no Jornal Metro do dia 14/09/09.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Uma questão de honra

Durante a idade média a Igreja vendia as chamadas indulgências, que permitia aos pecadores chegar ao reino dos céus mediante uma doação monetária. Por alto, esse é o conceito da taxa fixa que muitos defendem como último recurso para tentar lucrar com o download ilegal - o utilizador paga uma determinada quantia mensal e durante esse mês tem uma "amnistia" para as suas actividades.

Apesar de estar longe de ser uma solução livre de problemas - desde logo o dinheiro iria certamente para aqueles que menos precisam dele - os artistas que com ou sem pirataria vendem milhares de unidades - é uma solução que pode ser interessante caso seja equilibrada; nem uma mensalidade muito baixa de modo a que as editoras não se sintam defraudadas, nem tão alta que afaste potenciais clientes dispostos a aderir a este "sistema de honra". E não podemos esquecer aqueles que compram os discos e frequentam concertos!

Uma forma eficaz de incentivar a compra seria criar algo no mesmo formato que um cartão de descontos de um supermercado, em que uma determinada percentagem de cada compra seria descontada na mensalidade seguinte. Isto não só permitia distribuir as taxas de uma forma mais equilibrada, como devolver algo aos que de facto "compram se gostarem" ou suportam economicamente a banda a ir aos seus concertos.

Num mundo imperfeito são raras as soluções perfeitas e ainda menos a que têm sucesso. Mas qualquer tentativa é melhor que a forma como a indústria lida, actualmente, com o download ilegal e quem o pratica.

Luís Silva
Crítico musical

Públicado no jornal Metro do dia 7 de Setembro

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Regressar lentamente

Foto: Luís Ferreira
Setembro é mês de regressos. Enquanto voltamos a povoar os “sítios de sempre”, reencontramos os “amigos do costume”. Ainda que um pouco melancólica, regressar é uma ideia feliz e enraizada em cada um de nós. Quem não gosta voltar ao aconchego do ninho? Ao porto de largada? À cidade de despedida? Em certa medida é certeza do caminho andado; até do dever cumprido.
São conceitos fortes que o marketing apodera: das campanhas de “regresso às aulas” às ajudas para voltar ao trabalho, regressando, também, as modas com as cores e as formas da estação. Neste vai-e-vem construímos expectativas, criando espaço para (novos) consumos.
“Slow down” (abrandar) é uma tendência em franca expansão. O “slow movement” ganha adeptos, explorando maneiras ecologicamente sustentáveis de pensar, viver e interagir na Comunidade Global. São distintas as formas onde se revela: é provável vermos inscrito em menus “slow food”, mas o seu âmbito alarga-se a todo o sistema alimentar (veja-se o renascer das pequenas hortas familiares); surgem “slow books” – pela redescoberta do prazer da leitura – e “slow travels” – viajar fazendo parte da vida local, ligando-nos às gentes e aos sítios; nesta senda, eclodem “slow cities”, burgos onde o espaço e o tempo comuns são fruídos de modo particular – “slow way of life”.
Não se confunda a descontracção das propostas com resignação. Pelo contrário, exigem maior identificação connosco e com o meio que nos rodeia, regressando ao conceito de sustentabilidade. Esta “filosofia de vida” surge em reacção à compressão que a globalização vem forçando no tempo e no espaço. Um Mundo integrado e plural tem estes paradoxos.
Publicado no Jornal "Metro" em 3-Set-2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Governo a Mais



Está instalada mundialmente a tendência de os governos serem mais influentes. É verdade que o grau de intervencionismo estatal tem um carácter cíclico, mas não é uma boa notícia.

Espera-se de um Estado moderno a garantia da segurança (nas suas várias dimensões), da justiça e da educação. As últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 80, caracterizaram-se por uma desregulamentação e liberalização, com o Estado a centrar-se nas áreas em que não podia, efectivamente, ser substituído. Como consequência, viveu-se até ao início deste século um período de progresso económico e social sem precedentes, em que cada indivíduo passou a ter mais oportunidades para concretizar e desenvolver o seu potencial.

Uma série de eventos, como o 11 de Setembro e a actual crise económica, têm levado os cidadãos a admitir e até a exigir maior intervenção do Estado. Os políticos, que sabem que "Poder gera Poder", aproveitam para ganhar terreno. Definem cada vez mais regras e limites e até decidem caminhos de evolução tecnológica, algo que deveria pertencer à sociedade civil. A recente opção a nível mundial de apoio aos automóveis híbridos, sem grandes discussões sobre qual a melhor solução, é um exemplo dessa influência.

A História dos últimos 250 anos diz-nos que quando o Estado desempenha funções em excesso na economia e sociedade, o progresso ressente-se. A igualdade de oportunidades para empresas e indivíduos é comprometida quando há decisões meramente políticas e não se avalia a eficiência e o mérito. Por outro lado, Estados mais fortes tendem para o proteccionismo, sentimentos nacionalistas e maior probabilidade de conflitos. Ou seja, é governo a mais.

Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Publicado no jornal Metro em 1 de Setembro de 2009