sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O fim da greve



Foram muito esclarecedoras as palavras da jornalista que faz a cobertura de greves há largos anos em todo o mundo: "nunca vi uma greve geral com tão pouca gente na rua".

Fez sentido uma greve que só prejudica o país, num contexto de percepção de risco por parte dos nossos credores? Não se percebe que os sindicatos e os partidos mais à esquerda incitam à greve não para mudar o mundo, mas para manter o seu próprio mundo? Os grevistas não sentem que o seu protesto é sorvido, aproveitado e profanado pelos sindicatos?

Sim! E por isso tão poucos aderiram e lutaram.

Esta greve só serviu para dar tempo de antena a alguns, umas férias a outros, sujar muros e para desvalorizar ainda mais o instrumento "greve", ferindo-o de morte.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 26 de Novembro de 2010



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fundos Perdidos

A economia portuguesa perdeu a última década na convergência com a Europa: o nosso rendimento médio estagnou em torno de 3/4 da média comunitária. Torna-se visível o resultado das políticas adoptadas e o magro impacto dos generosos fundos de coesão recebidos da UE. Neste particular, enquanto políticos falam da incapacidade de absorção dos fundos, beneficiários revelam excessiva burocracia e rigidez na sua aplicação.

Talvez uns e outros tenham razão. O grande problema é que o País é o mesmo e a competitividade da economia é que padece.

Não seria altura de articular soluções que efectivamente criem riqueza e prosperidade?

Publicado no Jornal METRO em 25-Nov-2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Terra à Vista? Talvez não...

Longe vão os tempos, em que os timoneiros portugueses, cruzavam mares revoltos, venciam dificuldades e encontravam terra firme.
Hoje, navegamos sem rumo, sem direcção, sem norte. O mais grave é que os timoneiros já não se entendem, já não sabem para onde virar.
Nesta altura em que o leme queima, muitos já procuram forma de o largar, a questão é saber quem o quer e pode agarrar.
Está na altura de subir à vigia, definir um destino e marcar uma rota e deixarmo-nos de vez de discutir quem deve estar no convés.

Jorge Serra
Gestor

Publicado no Jornal Metro em 2010.11.18

domingo, 21 de novembro de 2010

Tempo para Ideias

A recente ideia do Japão colocar em prática a adopção do Daylight-saving time (DST) ou vulgo hora de verão www.economist.com/node/17363637 convicto de que isso estimulará a sua adormecida economia, é de facto a demonstração de que tudo pode ser colocado em causa.
A implementação de boas ideias pode trazer desvantagens, mas se for com o objectivo de ajudar uma economia que tem estado mergulhada no marasmo há duas décadas, já terá valido a pena.
É este simples, mas brilhante, acertar de agulhas que por vezes é necessário fazer, implicando contudo, estudo, estratégia e risco. Estaremos preparados para colocar tudo em causa ?

sábado, 20 de novembro de 2010

A Democracia é uma prioridade?



Quase me passava despercebida uma sondagem da Economist Intelligence Unit segundo a qual 65% dos inquiridos consideram que a estabilidade é mais importante do que a democracia nos estados emergentes. É verdade que não tive acesso aos detalhes do estudo, mas o tema merece reflexão.

Num contexto de cada vez maior tensão económica, e de sistemas, entre os países e com a ascendência clara da China na cena mundial, não deixa de ser inquietante pensar que podem ser as próprias sociedades a preferir sistemas de governo menos democráticos. Brincava-se (?) há alguns meses com a necessidade suspensão da democracia em Portugal, mas esse é apenas um sinal de como a democracia não está a conseguir satisfazer as necessidades dos povos.

Os democratas devem ter em mente que as formas de governo também concorrem entre si.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 19 de Novembro de 2010



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cinema 3D

Cinema 3D

Será a 3ª dimensão uma novidade? Não será ainda embrionário sob vários aspectos? Afinal de contas, a terceira dimensão não passa de um engano do olho, ou, ainda, de uma alucinação da mente - e não é, de todo, novidade no mundo da arte. Já no início do séc. XX Duchamp brincava com ela, nas suas peças vídeo em que o espectador é atirado para a outra dimensão através de ilusões de óptica - e não nos enganemos, fazia tudo em analógico, sem truques digitais ou tecnologia de ponta, nesta altura em que não era necessário vender óculos 3D para se ver melhor...

Ana Enes

Licenciada em artes plásticas

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Plano Inclinado

Abro um planisfério curioso: a imensa China ocupa o centro; à direita todas as Américas; bem na esquerda, a velha Europa (Portugal faz parte do Extremo Ocidente...). Desde Hong Kong não é difícil perceber a velocidade com que o Mundo está a ganhar novas formas. A profundidade e a verdadeira natureza das mutações em curso serão, por ventura, menos claras. Sente-se o murmúrio da bomba social em formação, ainda sem entender se a mão será suficientemente forte para a moldar. De uma forma ou de outra, novos planos são precisos. Publicado no Jornal METRO em 3-Nov-2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Caixa de Pandora



A situação económica, financeira e demográfica do país obrigará a mudar, nem que seja por ultimato externo.

Enfrentaremos questões como o aumento da idade da reforma; A legislação laboral, nomeadamente horas de trabalho semanais, o estatuto das horas extraordinárias, flexibilidade de contratação, impostos sobre o trabalho; A reestruturação das relações do Estado com os seus funcionários e outras entidades; O espectro de intervenção do Estado e apoios sociais: âmbito, valor e duração.

Há poucas condições políticas e sociais para mudar. As pessoas não percebem, nem querem perceber, que vivem acima das possibilidades há décadas e persistirão franjas políticas a alimentar a ilusão.

Será difícil implementar as reformas estruturais essenciais a adaptar os portugueses a um mundo mais competitivo, exigente e implacável.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 12 de Novembro de 2010



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Diálogo sobre Portugal

Um jornal especializado em assuntos de economia desafiou-me ontem com algumas perguntas, a que tentei dar resposta. Pensei que seria interessante colocar aqui este diálogo, para tentar informar e suscitar debate acerca da situação actual.

1 - Quais são as pressões externas/internacionais que explicam o agravamento do risco de Portugal? Porquê?


Sem prejuízo das culpas próprias, há que notar um aumento da aversão ao risco global nas últimas semanas.
As bolsas estão a ficar pressionadas, o dólar em alta e os yields da Irlanda acima dos 9%, as casas de clearing a exigir mais margem para transaccionar dívida irlandesa e a Goldman Sachs a aconselhar a intervenção do FMI nos dois países. Estamos também em vésperas de G20.
Portugal tem responsabilidade por criar as condições de base, mas os últimos movimentos têm pouco a ver com a situação portuguesa propriamente dita.
 
2 - A nível interno há algo que esteja igualmente a pressionar? O quê?

Há a noção da existência de riscos de instabilidade política e de pouca força do governo, que poderá colocar em risco o processo de consolidação orçamental. Nota-se também a ausência de condições políticas para operar reformas de fundo. No entanto, não creio que, neste momento, sejam só factores internos a provocar a recente alta no yields.
 
3 - A solução para acalmar os mercados de dívida está nas mãos de Portugal ou depende de instâncias internacionais? Que medidas podem ou devem ser tomadas?

Penso que "a solução" não estará totalmente nas nossas mãos, pelo menos para a questão do curto prazo. E mesmo uma intervenção do FMI/UE apenas na forma do recurso ao fundo especial de apoio não resolveria a questão estrutural. Torna-se necessário alterar a forma de funcionamento do Eurogrupo, no sentido de definir formas de governance, hipótese de reestruturação de dívida pública, entre outros aspectos que confiram maior sustentabilidade à UEM.
Em termos nacionais, torna-se necessário olhar para o longo prazo e caminhar para défices 0 (zero), senão mesmo superavites. Portugal terá passado o "tipping point" em termos de dimensão da dívida e dada a capacidade de o Estado gerar receitas, as responsabilidades assumidas parecem incomportáveis, traduzindo-se num défice estrutural e quiçá crescente.
O problema é que vejo poucas condições políticas e sociais para mudar. As pessoas não percebem, nem querem perceber, que o país vive acima das possibilidades há muitos anos. As pessoas vão recusar-se a aceitar e haverá franjas políticas a alimentar a ilusão, mas que é apenas isso, uma ilusão. Tudo isso impede as reformas estruturais essenciais a adaptar o país a um mundo novo que é muito mais competitivo e exigente.
 
4 - Considera que os receios dos investidores sobre a dívida portuguesa são excessivos ou normais? Porquê?

Intuitivamente apetece dizer que 7% a 10 anos é muito alto e que um spread face à Alemanha de 5% é exagerado. Mas são valores que resultam, efectivamente, do estado de divergência orçamental a que chegamos e que se parece vir a agravar.
Faz sentido que nos tentemos colocar no lugar dos nossos credores e perceber qual seria a nossa reacção. Aliás, não foi a opinião pública e alguns partidos contrários a Portugal auxiliar a Grécia?  E porquê? Porque se achava que era arriscado, que o dinheiro poderia fazer falta e que não se deveria entrar no moral hazard de ajudar quem foi indisciplinado. Pois é assim mesmo que os "investidores" olham para Portugal.
 


domingo, 7 de novembro de 2010

Facebook Fall

Acabam de entrar na Web, no ultimo minuto mais de 800.000 de posts e entradas no Facebook ou sobre a rede social. Nunca foi tão falada, eologiada, criticada e sobretudo utilizada. Com excepção do close market chinês, o face tomou a absoluta dianteira as social network mundiais, a caminho dos 600 milhões de utilizadores.
No entanto, o Face poderá estar a substimar os seus users. As necessidades destes são mutáveis de uma forma demasiado rápida e as exigências também. Basta aparecer alguém com um projecto que introduza a actual plataforma com outras vantagens (e há várias possiveis) - para poder por em causa este projecto. Para isso são precisos três factores:
1. Projecto que incorpore as funcionalidades actuais e acrescente algo de novo e relevante
2. seja um fashion spot e escalável (=> exige grande operador)
3. sejam possiveis importar os conteudos já publicados no face, ou pelo menos as connections, para lá
Nos últimos tempos, a pressão interna pelos lucros no FB fez com que a companhai iniciasse um processo de apagão em muitos perfis de empresa, procurando desta absurda e indesejável forma recuperar perfis pagos e investimento publcitário.
Em paralelo, a Google fechou as portas ao Facebook oficialmente e chamou, no passado dia 5, o Facebook de ter uma estratégia hipócrita, porque bebe os contactos do gmail, mas não permite a sua exportação (apenas o permite para o Hotmail, propriedade da Microsoft, accionista de referencia do Facebook). O Facebook, omitiu isto dos seus utilizadores, simulando online que esta funcionalidade existe!
Para espanto dos mais atentos, o Facebook continua a permitir fazer um contact import do Gmail, simulando o seu carregamento, para invariavelmente terminar com um pomposo " todos os contactos desta lista já se encontram no facebook ou já foram convidados".
Não tenho qualquer dúvida em afirmar o que sei ser da maior polémica : Facebook Fall.
Ou o Face se regenera e respeita os seus parceiros e utilizadores rapidamente, ou acelera o caminho de um tema muito pouco falado nos dias de hoje... The Next Facebook.
Está hoje claro que o Twitter não se perfilha como substituto, mas é provável que venha a ser um poderoso módulo da next hype.
Vamos estar atentos.

Guarda Pretoriana

Num país com as maiores dificuldades de poder de compra, emprego e qualidade de vida, existe um sector – nuclear para as famílias - que permanece em regime de semi monopólio.
Guardado por fortificações chamadas Associação Nacional de Farmácias e Infarmed, o comércio de medicamentos resiste à liberalização, gerindo pequenas cedências e adiando as decisões para melhoria de serviços e redução de preços – que nem deviam ser tabelados, apenas limitados por cima. A guarda pretoriana que defende este monopólio e impede a proliferação livre de mais e melhores farmácias prejudica os portugueses, dia após dia.

Triângulo Virtuoso

Em 2009, dez anos depois da transferência de soberania de Macau para a China, foram assinados vários acordos bilaterais entre os dois países. Apenas um ano depois, precisamente neste fim de semana, tivemos a maior delegação chinesa de sempre no nosso país e que culminará com a assinatura de mais uma série de acordos.
Fruto deste novo relacionamento, o comércio bilateral entre os dois países tornou-se mais relevante mas, em termos de investimento, Portugal não tem conseguido atrair capitais chineses e as nossas empresas investem pouco na China.
Sabemos também que, ao longo da última década, a China tem reforçado significativamente as suas relações comerciais com Angola e Moçambique, dois países que também fazem parte das nossas prioridades no comércio internacional e cuja língua nos tem permitido encurtar distâncias.
Ora quando há interesses comuns que se cruzam, é mais fácil alcançar o êxito nos negócios, e a "plataforma" de Macau é mais uma região que conhecemos bem por razões históricas, podendo ser melhor utilizada no reforço do estratégico triângulo Europa, África, China.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

As bombas-correio podem ser paradas pela comunicação...

A voz concedida, através dos Media, às actividades das forças terroristas é uma forma de lhes conceder poder e uma das principais razões dos ataques. Sabe-se, por experiência do passado, que a forma de esvaziar o terrorismo da sua missão é garantir que não surge na agenda de temas dos media e, consequentemente, pública. Põe-se a questão da liberdade e competitividade da imprensa e do direito à informação, mas perante esta eficaz arma contra o terrorismo, não seria uma medida a considerar no futuro? Silenciá-lo? Não lhe dar voz nos Media? Ana Paula Cruz Planeamento Estratégico, Adpress, Comunicação Global

A Brincadeira



Indicadores do grande retalho mostram, desde 15 de Outubro, uma forte queda nas vendas, na casa dos dois dígitos.
Esta situação circunscreve-se apenas à zona Norte. Na Grande Lisboa, por exemplo, regista-se uma quebra residual, entre 1% a 3%.

A explicação é simples e tem a ver com a implementação de portagens nas ex-scut, que tem provocado resistência às deslocações, mesmo dentro do mesmo concelho ou entre concelhos limítrofes. O custo e a falta de disponibilidade de meios fáceis de pagamento estão simplesmente a "paralisar" as pessoas. Mesmo as ex-scut registam até menos 30% de passageiros. Simultaneamente, as vias "alternativas" saturaram e o tempo de deslocação duplicou em alguns casos.

As mesmas fontes falam no desaparecimento de clientes galegos.

[Se não fosse tão sério, tão discriminatório e tão previsível, até poderia ter piada.]


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 4 de Novembro de 2010