segunda-feira, 27 de julho de 2009

PuraMente #27 - O Processo



Nome: "O Processo"

Autor: Franz Kafka

Data: 1925 (1ª edição). Edição em português consultada: Europa América 2ª ed. (1989)

Frase: "A minha inocência não torna o caso (...) mais simples"

Palavras Chave: Processo; Burocracia; Controlo; Falácia; Formalidades

Apreciação: *****

Há um "antes e depois" da leitura de "O Processo". É um livro que marca. O enredo é relativamente simples, mas a descrição detalhada de um universo surreal e difuso impressiona e acaba até por ser constrangedora à medida que o leitor se identifica com o personagem principal.

Em "O Processo", o protagonista Joseph K. é acusado por um tribunal e preso, sem saber o motivo. A principio K. não dá importância ao caso, mas à medida que se apercebe do deteriorar da sua posição tenta reconquistar o controlo, o que nunca consegue. A descrição de todo o processo judicial é muito pormenorizada, mas o que fica na memória é a forma como K. é envolvido num caso que desconhece e que o arrasta para o abismo, sem defesa possível, até porque nem sequer sabe de que é acusado. O final é naturalmente trágico. É a esta espiral de acontecimentos inexplicáveis, de uma dimensão irreal e absurda,  mas que aparentemente são processualmente coerentes, que se atribui o adjectivo "kafkiano".

"O Processo" pode ser relevante de várias formas, mas destacaria essencialmente duas perspectivas: Em primeiro lugar, do ponto de vista conceptual, o livro mostra-nos que as instituições podem desvirtuar-se, abandonando os seus objectivos ou funções, bastando que se percam numa teia de procedimentos, hierarquias, paradigmas e práticas, aniquilando a sua razão de existência e quem quer que esteja ao seu redor. Em segundo lugar, evidencia como, para o individuo, é crucial compreender a necessidade de, desde o início, controlar os processos (de qualquer tipo) e de não deixar a mínima margem para que a burocracia, os ritos, as práticas instaladas ou mesmo terceiros aparentemente prestáveis o afastem ou inviabilizem os seus objectivos.

Imperdível. Por vezes incómodo, mas obrigatório.


Filipe Garcia


Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
www.puramenteonline.com
Publicado no Jornal de Negócios em 14 de Julho de 2009


quarta-feira, 22 de julho de 2009

PuraMente #26 - Predictably Irrational

Nome: Predictably Irrational
Autor: Dan Ariely
Data Original: Novembro 2008
Frase: "We are not only irrational, but predictably irrational"
Keywords: irrationality; procrastination; expectations; emotions & behaviour; decoy effect; arbitrary coherence;
Apreciação: ****
Praticamente desconhecido entre os gestores nacionais, “Predictably Irrational” constitui uma nova referência no panorama mundial dos estudos comportamentais e da sua influência na economia. O movimento de obras desta natureza teve “início” com o consagrado “Freakonomics” (Levitt), umbrella do movimento de Tim Harford & Companhia. Com esta obra, Dan Ariely põe em causa o core do pensamento dos economistas racionais.
O livro é constituído por surpreendentes capítulos que se complementam numa interessante diversidade de experiências levadas a cabo no kernel do mundo supostamente racional : as turmas de MBA de Harvard, MIT e UCLA. É neste ambiente cientifico que Ariely prova, vezes sem conta, a irracionalidade do ser humano, não só em assuntos de grande complexidade, mas em temas do dia a dia e funções de carácter, como comparação de preços, gestão de expectativas, honestidade e sentimento de propriedade. Mas o autor vai mais longe, e faz prova de que os melhores gestores e economistas do mundo não só são irracionais, como previsivelmente irracionais. E é esta previsibilidade que, em grande parte, constitui a importância desta obra que passará para o grupo dos obrigatórios, com interesse para absolutamente todos os que procuram evoluir. No entanto, destina-se sobretudo a estrategas de instituições, para melhor posicionarem os seus negócios com a aquisição do conhecimento da irracionalidade que altera o comportamento em momentos críticos do ciclo de compra.
Deixando claro quais são as forças ocultas que influenciam as decisões das pessoas, esta obra de fácil leitura terá maior valor quando lida depois de Levitt, Harford e Nordstrom. Quer numa perspectiva pessoal, quer na perspectiva de valor para funções de gestão, este livro é uma proposta de valor cujo investimento tem retorno garantido.

domingo, 19 de julho de 2009

Puramente #25 - Fast Second

Nome: Fast Second
Autor: Constantinos Markides
Data Original: Outubro 2005
Frase: "Creating Radical new markets is not where the money is"
Keywords: innovation; dominant design; scale up; colonizer and consolidator; Fast Second Strategy
Apreciação: ****
“Fast Second” pode ser visto um livro de gestão da inovação, ou de estratégia empresarial. Aplica-se a empresas, sectores e mercados que operam através de inovação radical, e não aos que optimizam produtos e processos de forma incremental.
O autor explica de uma forma inesperada e refrescante o domínio de inovações radicais, seja por incorporação de saltos tecnológicos relevantes, seja por criação ou invenção de novos produtos, serviços ou outras formas de valor. Estes processos são divididos em duas fases -convenientemente dissecadas na obra. Na primeira fase estão as empresas colonizadoras, imensas e cada uma lutando com o seu formato ou metodologia por um standard, em absoluto caos de divergências interempresariais. Na segunda estão os consolidadores, constituídos pelas empresas que são capazes de criar ou adoptar o que autor denomina de design dominante, momento em que os colonizadores sem sucesso desaparecem.
A tese deste livro postula que empresas de grandes dimensões e já instituídas devem lutar por entrar na inovação apenas no segundo processo, adoptando um framework que denomina de “Fast Second Strategy” e que passa por ser o primeiro a adoptar o design dominante criado por terceiros, e tendo as condições ideias para fazer o market scale-up, precisamente onde está o dinheiro que pode sustentar lucros importantes. Nesta abordagem Markides e Geroski explicam que colonizadores e consolidadores são processos absolutamente distintos e que exigem competências distintas e até incompatíveis no seu DNA, o que sustenta a hipótese de optimização de startups hábeis e leves na primeira parte e porta aviões consistentes e bem estruturados na segunda.
Fast Second é um livro essencial para compreender como se pode fazer um bypass à inovação radical e entrar nos novos mercados directamente para posições de liderança.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Automóvel do Futuro

A indústria automóvel ainda se encontra a tentar perceber o novo paradigma do mercado, onde a procura e a oferta têm de estar equilibradas, deixando os fabricantes de impor uma dimensão de mercado, na maior parte dos casos inexistente, e passando de uma estratégia Push para uma estratégia Pull.

É muito positiva a forte dinâmica de investigação e desenvolvimento de novas tecnologias e modelos, com os fabricantes a apresentarem, de forma regular nos últimos tempos, inúmeras novidades e concepts de novos modelos. Estas novas tecnologias vão trazer imensos benefícios no futuro, não só aos consumidores mas também ao ambiente e a um desenvolvimento sustentável.

Automóveis mais leves, com maior percentagem de materiais recicláveis, mais eficientes e com recurso a energias alternativas farão parte do portfólio futuro de qualquer marca.

Curioso é ver como esta tendência é transversal a todos os segmentos de mercado, estando a totalidade das marcas – das generalistas às premium - empenhadas em comunicar a sua nova abordagem a esta realidade. Só nas últimas duas semanas, a General Motors anunciou que pondera mudar a cor do seu logótipo de azul para verde para salientar uma postura mais ecológica, a Jaguar acabou de apresentar o seu novo Flagship XJ onde a sustentabilidade teve um papel importante no caderno de encargos e a Aston Martin apresentou um estudo de um modelo citadino, que permite uma mobilidade inteligente e sensível com um nível de exclusividade e inovação nunca visto neste tipo de veículos.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

PuraMente #24 - Ethical Prospects: Economy, Society and Environment


Nome: Ethical Prospects: Economy, Society and Environment

 

Autor: Laszlo Zsolnai e outros

 

Data: Março de 2009 Springer

 

Frase: "Nothwidthstanding the best of intentions, there are constraints to achieve socially responsible behaviours"

 

Palavras Chave: CSR; Republicanism; Rights of the Unborn; Market Liberalism; Buddhist Economics; Ethical Banking;

 

Apreciação: ****


A escolha deste livro resultou da necessidade de abordar temas ligados à responsabilidade social e corporativa e à ética, que constituem preocupações actuais e futuras para indivíduos e organizações.


“Ethical Prospects”, editado pela Springer, é uma colectânea de textos organizados por Zsolnai, professor da universidade de Budapeste. Recolhe contribuições de 27 autores oriundos de várias partes do globo, pretendendo reunir ideias “de ponta”. O carácter conceptual disruptivo das propostas é muito variável, não sendo de estranhar a existência de algumas ideias menos realistas, próprias do experimentalismo.


O livro tem quatro partes: “Novas perspectivas e descobertas”, “Práticas inovadoras e reformas, “O desafio das gerações futuras” e “Debate entre o liberalismo republicano e de mercado”. Nota-se um tom contra o status quo (por vezes exagerado), a que não será alheio o facto de muitos textos terem sido influenciados pela crise económico-financeira.


É difícil fazer referência a todas as ideias importantes num livro com 20 textos tão diversos, mas destacam-se alguns contributos: A necessidade de legislar e não esperar apenas que as empresas assumam por si comportamentos éticos; O conceito de budismo económico; A necessidade de representar as gerações futuras nos órgãos de tomada de decisão e de convergência entre o dinheiro e os valores éticos. Discute-se a viabilidade de um consenso entre todos os stakeholders, dado que na história tal nunca sucedeu, o que não impediu a construção de um corpo ético.


É imprescindível ler a introdução, na qual Zsolnai resume os textos em dois ou três parágrafos. O leitor pode então escolher o que mais lhe interessa, rentabilizando a leitura.


O livro tenta, e penso que consegue, ser uma base de reflexão e inspiração. Os temas abordados exigem ainda um considerável crescimento por parte da maioria dos decisores.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Artigo publicado no Jornal de Negócios de 30 de Junho de 2009





terça-feira, 14 de julho de 2009

A Gestão do Risco



Segundo o Financial Times e a Greenwich Associates, as empresas estão a prestar mais atenção aos riscos que correm nos mercados de matérias-primas. Num contexto de crise, com lucros em baixa e com o acentuar da volatilidade nos preços das commodities, o assunto parece merecer a devida atenção.

Estima-se que, em 2008, 55% das empresas na Europa, Ásia e América do Norte efectuaram operações de cobertura de risco de variação de preço, face a 45% em 2007. Mais relevante do que os números parece ser a alteração no processo de tomada de decisão. Cada vez mais empresas levam as decisões de cobertura até ao nível hierárquico mais alto, um sinal claro da importância deste assunto. Segundo a Greenwich, 96% das empresas afirma que as estratégias de gestão de risco são da responsabilidade da administração, tendo muitas delas criado um cargo específico.

Até há poucos anos as empresas optavam por uma gestão passiva deste tipo de riscos. Ou seja, as flutuações cambiais, de taxas de juro ou de preço das commodities eram encaradas como um factor exógeno sobre o qual nada poderia ser feito. Posteriormente as empresas foram experimentando algumas formas de cobertura, frequentemente de forma desajustada e com maus resultados. Os instrumentos e estratégias escolhidas, quase sempre por pressão dos bancos, revelaram-se piores do que não fazer nada.

Felizmente as empresas parecem estar a chegar a um processo de maior maturidade, desenvolvendo competências internas e recorrendo ao outsourcing especializado. Daqui resulta um maior controlo efectivo da empresa, não fosse a Gestão do Risco um dos pilares do (bom) Governo das Sociedades.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Meia Hora de 14 de Julho de 2009


Observando o Impasse

Com o “stand by” do aeroporto e alta velocidade discute-se a pertinência de um observatório para as obras públicas. Não poderia concordar mais com a iniciativa embora duvide um pouco do seu principal desafio – a contenção das derrapagens orçamentais. Desta forma não se combate a causa conduzindo a um maior enfoque nas consequências. Os orçamentos derrapam porque os projectos são desadequados ou mal executados, porque a Entidade Executante não tem capacidade para executar bem e no prazo, ou porque a fiscalização não controla devidamente as acções de quem constrói. A aposta em construção de qualidade e com orçamento controlado não é impossível. Os Donos de Obra são o princípio de tudo e o principal segredo reside numa mudança da sua abordagem perante o investimento que efectuam. Tem-se assistido a um crescente desinvestimento em quadros técnicos experientes e capazes. Subcontrata-se a Fiscalização quase só para tratar da parte administrativa, resolvendo-se as grandes questões directamente com o Empreiteiro e no rigor da agenda política. É um ciclo vicioso, as empresas que se dedicam à fiscalização ou ao projecto, na pressão da sobrevivência apostam cada vez mais e só, em recém universitários sem o devido apoio de técnicos mais experientes. Não é possível compreender que quem lança milhões de euros em obras por ano, não enquadre um conjunto de técnicos ou empresas que directamente possam ser os agentes fiscalizadores. Tem que ser sentido na pele, tem que doer um pouco mais…para que a discussão se centre na necessidade e viabilidade dos projectos e não na sua concretização.
Publicado no MeiaHora em 07-07-2009

Estratégia de Deslocalização

Apesar de várias abordagens e perspectivas diferentes na solução para a crise, um factor é defendido por todos – Aumentar as Exportações.
O sector da construção no alto do seu esplendor de grande pilar da economia nacional, não fica de fora e volta a demonstrar a sua natureza.
As grandes empresas de construção portuguesas já concretizam bem o conceito estabelecido por Gary Hamel. A optimização da eficiência operacional dá lugar à procura de uma eficiência estratégica. Hoje aposta-se em mercados com margens mais promissoras, preterindo o mercado nacional que afinal até não está assim tão mal, como provam os últimos dados disponíveis (excluindo a fatia da habitação).
O problema é que se atalhou a parte da eficiência operacional, demonstrando a habitual falta de paciência, dedicação, trabalho e recusando um retorno certamente mais lento.
Neste sector não estamos a exportar serviços eficientes e de qualidade, limitamo-nos a deslocalizar os recursos. É meramente uma luta pela sobrevivência e uma subversão de um modelo de desenvolvimento empresarial. A melhoria continua é abandonada, opera-se do mesmo modo mas num mercado diferente tentando aproveitar circunstâncias distintas e específicas. Em Angola e no Magrebe concorre-se essencialmente com os chineses, revelando bem a que “Liga” se pertence. Está na hora destas empresas olharem para dentro, exorcizar práticas obsoletas e adoptar modelos operacionais orientados para a monitorização e melhoria.
Quando o crescimento destes mercados desacelerar, vão sobrar novamente empresas em dificuldades e mais distantes da sua origem.
Publicado no MeiaHora em 21-05-2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Repensar a Economia de Mercado

A ideia de repensar os fundamentos da Economia de Mercado (lucro, livre iniciativa e gestão dos recursos escassos), surgiu quando vi o filme “HOME” e reforçou-se com a leitura da última Encíclica Papal. Nestes documentos é demonstrado que a dinâmica socioeconómica está a ameaçar a Vida na Terra e não está a contribuir para o Desenvolvimento Integral do Homem.

As evidências de incapacidade do sistema são inegáveis: a má gestão da área financeira e a ausência de regulação e de controlo do Estado empurraram o Mundo para uma profunda crise económica; a dinâmica dos agentes económicos está a ameaçar a Vida no Planeta e as assimetrias entre ricos e pobres não se têm reduzido. Em suma, a actividade económica do Homem, face à sua idiossincrasia, não pode ser deixada em auto-regulação.

Eis algumas ideias que procuram, de forma sistémica, contribuir para a discussão.

A Economia deve incorporar na sua equação, o bem escasso que é a qualidade ambiental e tem de repensar o papel do Estado, Organizações Supra Nacionais e Empresas. O Estado/Organizações devem considerar que a sua grande ameaça é a agressão aos seus activos naturais e não qualquer potencial beligerante; devem ainda utilizar as suas funções reguladoras e de controlo para evitar que a vontade individual colida com o bem comum. As Empresas não podem pensar apenas no lucro e têm de, voluntária ou coercivamente, incorporar o bem comum como restrição às suas decisões; ou seja, desenvolver objectivos multidimensionais para satisfazer todos os stakeholders.

António Jorge

Consultor em Estratégia, Marketing e Vendas

Harvard Trends #10 - Riscos a Evitar

2009 tem sido um ano diferente para Harvard. Crise ou novo estado da economia?, uma das perguntas a que só o futuro responderá. Entretanto, uma quase ilimitada nova série de temas tem surgido como base de discussão no âmbito da gestão moderna, ora para evitar novas crises ora para criar uma nova, mais madura, abrangência dimensional à gestão futura.

Um dos assuntos em discussão crescente é o da gestão de riscos. Conhecer e gerir os vários riscos em cada área da gestão da empresa é uma ferramenta que passou de desejável a obrigatória em muito pouco tempo. Harvard tem tratado também dos riscos mais ignorados, como a falta de dados actualizados, sobretudo em empresas que se baseiam no “histórico” como sustento do futuro. A crescente taxa de mudança pode fazer mudar os pressupostos demasiado rapidamente e resultar num epicentro de novos riscos, raramente equacionados.

Os seminários de Harvard têm ainda dissertado sobre os riscos desconhecidos, tradicionalmente vistos como intratáveis. Os novos modelos estatísticos de gestão de risco possibilitam o tratamento e previsão destes riscos como peça fundamental de uma gestão consistente com a transparência para com os shareholders.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Dimensão

Foto: Luís Ferreira
Esqueçamos, por momentos, as agruras da crise. Olhemos para a integração e a interacção como fenómenos que a globalização colocou na ordem do dia; junte-se a crescente complexidade dos mercados e dos negócios; e verifiquemos que a escala é, hoje mais do que nunca, um factor competitivo estratégico: as vagas de desenvolvimento que se vislumbram exigem um alargamento de horizontes que muitas vezes só é conseguido com mudança de dimensão.
Neste contexto, o aumento da dimensão das empresas portuguesas apresenta-se como vital para uma competitividade que demanda: escala global, que permita a actuação em mercado alargado; grande agilidade, de modo a ter resposta rápida às necessidades; elevada produtividade, satisfazendo a baixo custo produtos de elevado valor para o cliente; alto nível de inovação, face a ciclos de vida do produto cada vez mais curtos.
Estas condicionantes impõem elevados investimentos em tecnologia, organização e recursos humanos, apenas possíveis de suportar através de processos de cooperação competitiva (sinergias) ou de ganho de escala através de concentrações (fusões e aquisições).
Voltemos ao momento, à crise. Entendamo-la como época de promoções – com a forte desvalorização dos activos e das empresas, é um bom momento para ir às compras. Quem conseguir organizar-se financeira e estrategicamente encontrará boas oportunidades; quem sabe, aquela propulsora de um salto competitivo que organicamente exigiria vários anos a labutar.
Haja ambição e mercado puro!
Publicada no Jornal "Meia-Hora" em 10-Jul-2009.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Negócios de Verão

Começa hoje o primeiro dos grandes festivais de Verão em Portugal. Se as vendas de discos estão em baixa, as vendas de bilhetes para os mais diversos festivais têm estado em alta, e prevê-se um Verão cheio de música ao vivo.

Embora em Portugal a popularidade dos festivais possa em parte ser atribuída ao baixo preço dos bilhetes, o mesmo fenómeno no resto do mundo sugere outra causa. É frequente ouvir falar nas "tours de promoção para o álbum", mas nos tempos que correm os álbuns parecem mais servir como veículo de promoção da banda junto dos organizadores de música ao vivo. O ciclo inverteu-se.

Uma crítica muito positiva num site de referência irá tornar essa banda numa das coqueluches veraneantes e a sua presença será disputada entre promotores que esperam que o nome da banda no cartaz seja o factor decisivo para que os fãs marquem presença no seu festival. Prova disso é que enquanto os lamentos das vendas minguantes de discos crescem, estamos perante uma verdadeira era dourada para a música ao vivo em Portugal, com diversas bandas conceituadas a visitar o país. O lado negativo é que já se nota alguma saturação na oferta e, por isso, alguns desses festivais têm cartazes incaracterísticos, incoerentes e mal estruturados, apenas para tentar atrair o maior número de pessoas. Ver os concertos como a principal fonte de rendimento não é novidade para as maiores bandas, mas graças à internet até bandas do circuito alternativo podem conquistar fãs desejosos de os ver ao vivo em mercados periféricos de outro continente. Tal como cantavam os Pulp em 1995 "Será assim que dizem que é suposto o futuro sentir?".
Luís Silva
Crítico musical
Publicado no jornal Meia Hora de 9 de Julho de 2009

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Incumprimento

Na passada sexta-feira, a edição do jornal “Público” noticiou, na sua secção de Economia, que a “SLN Valor falha acerto de contas com clientes que adquiriram títulos no BPN”. De acordo com a notícia, confirmada posteriormente por outros órgãos de comunicação social, trata-se do reembolso – quer dizer, da ausência de reembolso – de uma emissão de papel comercial da SLN Valor, até aqui a accionista maioritária do BPN, avaliada em 50 milhões de euros vencida a 19 de Junho deste ano. E, de acordo com a mesma fonte, em Agosto vence outra emissão, também da SLN Valor, avaliada em 100 milhões de euros – a qual, provavelmente, terá desfecho semelhante. O recurso à emissão de papel comercial é uma alternativa ao financiamento bancário. É uma forma de as empresas – financeiras ou não financeiras, cotadas ou não cotadas – se financiarem no curto prazo. Trata-se de uma prática corrente em qualquer país desenvolvido, mas que em Portugal não é particularmente comum. Ou seja, não é nenhum esquema. Contudo, no nosso país, a distribuição e comercialização destas emissões nem sempre obedece às melhores práticas e de acordo com aquela edição do “Público”, alguns clientes do BPN, a quem foram distribuídas parcelas significativas desta emissão específica, alegam que a “aplicação lhes foi vendida pelos funcionários do banco como um produto de capital e juros garantidos (…) e que em muitos casos a autorização foi dada oralmente”. Os mesmos funcionários que agora escreveram ao Presidente da República, temendo pela sua integridade física. Tivessem-se lembrado disso antes.
(*) Publicado no jornal "Meia Hora" a 7/06/2009.

Especialistas ou Generalistas ?

No inicio, as lojas pequenas que vendiam as suas especialidades. Depois, o supermercado, uma surpreendente fusão de mercearia, frutaria, talho, padaria e drogaria. Da especialização para a generalidade, juntando-se ambiente moderno e auto-serviço , que permitia uma apetecível estratégia de precings.
O hipermercado juntou novas secções, como têxtil, puericultura, electrodomésticos, cultura e jardim.
A proposta de valor mudou radicalmente, com atributos como horizontalidade e preço a destacarem-se, ao mesmo tempo que o conceito se tornava moda, carimbo de urbanidade.
Depois de perseguidos de forma injusta por alegadamente contribuírem para a decadência daquilo que os leigos inocentemente apelidavam de “comércio tradicional”, os hipermercados – ou retalho generalista – viram aparecer um novo tipo de concorrência, capaz de por em causa a sua hegemonia antes inabalável: o retalho especializado. Estas lojas, especialistas em áreas como a electrónica, bricolage ou desporto, rapidamente puseram em causa o sistema instalado, pela especialização e superior economia de escala. Nasceram os category killers.
Recentemente, algo mudou. O retalho especializado tornou-se mais generalista, com as lojas de electrónica a venderem livros e as de material de escritório a afirmarem-se na informática. Os department stores, no sentido inverso, iniciaram um processo de especialização. Qual será o conceito vencedor? Especialização ou maximização de horizontalidade? A pergunta não tem resposta conhecida, mas encerra um tema da maior importância na definição dos modelos de comércio sustentáveis.

PuraMente #23 - A Gift to My Children



Nome: A Gift to My Children

 

Autor: Jim Rogers

 

Data: Maio de 2008 John Wiley and Sons Ltd


Frase: "Swim your own races"


Palavras Chave: Questioning; Dedication; Details;  Mob Psychology; "Do your homework"


Apreciação: ***

 

Jim Rogers é amplamente conhecido  no mundo financeiro por ter sido um dos co-fundadores, com Geroge soros, do Quantum Fund. Este fundo foi responsável pela saída da libra do Sistema Monetário Europeu em 1992. De Rogers são também conhecidas as suas posições de investimento pró-China, o que levou a ensinar mandarim às suas filhas desde o berço. Reformou-se aos 37 anos, residindo actualmente em Singapura.


Embevecido pela paternidade, Rogers pretende neste livro deixar alguns conselhos que considera serem relevantes para todos. O próprio autor destaca os mais importantes: trabalhar arduamente, pensar por si mesmo, questionar tudo e nunca seguir a multidão. Rogers utiliza um exemplo forte (algo raro neste livro) para construir a ideia de "swim your own races" -  devemos competir connosco próprios e não tanto contra os outros, já que isso pode limitar a nossa evolução. Outra ideia interessante é que só devemos pedir conselhos a alguém depois de já sabermos, por nós próprios, tudo o que for possível sobre o assunto em causa.


A meio do livro o autor não resiste a sair do registo paternalista e começa a falar de investimentos, nomeadamente das suas perspectivas de longo prazo. Destaque para a perspectiva sobre os BRIC - Rogers está muito optimista para o Brasil e China, pessimista para Rússia e céptico quanto à Índia. "Well, the 21st century belongs to China" diz quase tudo.


"A Gift to My children" consagra as principais ideias de investimento de Rogers - China, commodities e fuga ao que estiver na moda. É um livro para uma viagem curta e que pode constituir um checkpoint simples à forma como cada um tem levado a sua vida, apesar de faltarem exemplos fortes, originais e relevantes . "Be who you are, be original, be bold".


  

Filipe Garcia


Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Artigo publicado no Jornal de Negócios em 16 de Junho de 2009


www.puramenteonline.com




quinta-feira, 2 de julho de 2009

Moedas Sociais



As moedas sociais são meios de pagamento não oficiais utilizados por um determinado grupo de pessoas, que visam fomentar a troca de bens ou serviços dentro de um conjunto limitado de agentes económicos. São uma ferramenta para o desenvolvimento económico local já que se pretende que a moeda possa circular o maior tempo possível dentro da comunidade, gerando um ciclo virtuoso. Existem várias formas de funcionamento, mas, na mais frequente, o consumidor troca a moeda corrente pela moeda social e obtém um desconto ao utilizar esse meio de pagamento dentro da comunidade. Ou seja, em vez de pagar 100 euros por um serviço na sua cidade, rua ou bairro, pagaria por exemplo 95 unidades da moeda social.

Historicamente, as moedas sociais surgiram como alternativa à troca directa, tentando organizá-la. Há registos de moedas sociais na antiga Babilónia (4000 A.C.), mas os exemplos são recorrentes e acompanham-nos até aos dias de hoje. O sucesso destes sistemas é significativo no Brasil, onde existem mais de 30 moedas locais, inclusivamente com notas próprias. Na União Europeia os números não são rigorosos, mas haverá mais de 60 moedas deste tipo a circular, muitas da quais na Alemanha. O caso de Wörgl, em 1932, é famoso pelo seu sucesso.

Os benefícios de ter um sistema de pagamentos autónomo são evidentes e levaram também à criação de outros instrumentos como os linden dollars do Second life, o e-gold ou até mesmo os "cheques-oferta" e descontos em cartão das grandes superfícies.

Perante um cenário de empobrecimento das cidades médias e de pequena dimensão em Portugal, talvez a criação de moedas sociais pudesse ser uma experiência válida a tentar. As economias locais poderiam ganhar algum dinamismo e os consumidores prefeririam adquirir bens e serviços na comunidade, com base em argumentos concretos como o preço e não tanto num vago "compre o que é nosso", cuja sustentabilidade é muito duvidosa.

Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Artigo publicado no Jornal Meia Hora em 2 de Julho de 2009