sábado, 28 de novembro de 2009

“Primeiro estranha-se depois entranha-se”

As notícias sobre o défice e do nível do endividamente do país a atingir números recordes gera um enorme sentido de urgência de e de falta de prespectiva para a saída do país da crise. Neste contexto temos vindo a ouvir falar que a forma de resolver isto é através de aumento de impostos, uma vez que as receitas do Estado estão a diminuir. Creio que todos gostaríamos de ter a mesma ferramenta. A família tem menos rendimento portanto nada mais simples do que dizer ao empregador pague nos mais para poder manter o meu nível de despesas, ou o mesmo na empresa para com os seus clientes. Na economia real o que acontece é que todos se tornam muito mais eficientes, o dinheiro é gasto com sentido de valor. Cada gasto é controlado de uma forma profunda de forma a garantir que é necessário para criar valor. Em conversas com alguns empresários tenho ouvido expressões como “não tinha ideia do que se consegue fazer com metade dos recursos”. No início estranhava-se a solução da subida de impostos para equilibrar as contas agora parece que se entranhou de tal forma no sistema que é sempre a primeira solução. Espero que de facto se reestruture profundamente o Estado tornando-o menos pesado e mais eficiente pois continuar a gastar como se fossemos um país rico mantendo o enorme peso do Estado na economia não será uma receita muito promissora.
Paulo Sousa
Artigo publicado no jornal Metro de 27/11/2009

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O dinheiro sai, mas a dívida fica



Percebe-se que as pessoas estejam confusas. Em metade do tempo ouvem dizer que o Estado deve gastar dinheiro para reanimar a economia. Mas, logo a seguir, surgem os avisos acerca da necessidade de cortar despesa, porque a situação do país é insustentável e que há riscos de insolvência. Então, em que ficamos?

A lógica do investimento público como motor de crescimento, proposta por Keynes e formalizada por Hicks, é relativamente intuitiva: o governo gasta, esse dinheiro vai parar aos bolsos das famílias e das empresas, que por sua vez também gastam, gerando produção e consumo. É um fenómeno em cadeia, denominado de efeito multiplicador. Entre outros factores, a eficácia da despesa pública dependerá da disposição dos consumidores em gastar o dinheiro que recebem e do grau de abertura da economia. E é nestes pontos que reside o problema.

Actualmente a confiança é baixa e, por isso, a propensão para consumir é reduzida. Por outro lado, a economia portuguesa é muito aberta e, em períodos de maior rendimento disponível, as famílias e empresas tendem a adquirir bens importados. E o mesmo acontece com muitos dos investimentos públicos em infraestruturas, que recorrem a matérias primas e tecnologia de outros países. Tal facto, além de degradar a balança comercial do país, tem um efeito perverso relativamente aos objectivos imediatos dos gastos públicos em tempos de crise: é que se o dinheiro é aplicado em bens importados, sai do país e vai estimular outras economias que não a portuguesa. Ainda para mais, à nossa custa.

Ou seja, o dinheiro sai do país, mas a dívida pública fica por cá... e a crescer.!


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Metro em 25 de Novembro de 2009



terça-feira, 24 de novembro de 2009

PuraMente #35 - Cem Argumentos

Negrito
Nome: Cem Argumentos Autor: Paulo Morgado Data Original : Abril 2004 Frase: “A Lógica, a Retórica e o Direito ao Serviço da Argumentação” Keywords: Negociação; Argumento; Falácia; Manobra de Diversão; Discussão; Apreciação: *** Cem Argumentos é um misto de manual prático com livro de consulta, que explora a argumentação recorrendo a um formato invulgar e curioso. Paulo Morgado procurou encontrar os 100 argumentos ou técnicas de argumentação mais relevantes, organizando-os em grupos lógicos de aplicação, como “conjunto de falácias lógicas já tipificadas”, ou “demonstrar um processo de inferência mal instruído”, ou ainda “como imputar uma determinada acção a um sujeito”. Organiza-se tendo como ponto de partida três áreas distintas: a lógica, a retórica e o direito. A obra aborda o tema de negociação de uma forma alternativa, dado que recorre directamente às estratégias de argumentação que suportam a grande maioria dos processos de negociação, em especial as negociações com predominância verbal, como no caso de reuniões, conversas ou discursos políticos. O livro utiliza de forma frequente casos da vida politica portuguesa, o que não raramente facilita a inteligibilidade dos argumentos. Por outro lado, o recurso a uma semântica avançada permite apreender um admirável número de conceitos. Em particular, o capítulo que resume as falácias lógicas já tipificadas é o que parece concentrar maior valor, pela sua evidente aplicabilidade. Os capítulos finais são mais técnicos e apenas relevantes a quem pretender explorar a área de Direito. O conteúdo desta edição varia entre o realmente útil e o meramente académico e teórico, não constituindo uma leitura obrigatória, mas recomendada aos que têm na negociação uma incontornável parte do seu trabalho. Trata-se de uma obra que também aporta um relevante conhecimento de Direito, numa óptica que pode ser interessante aos gestores.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Comemorar a Poupança

A 31de Outubro comemorou-se o dia mundial da poupança. Poupar é uma causa útil. Representa um sacrifício de bem-estar presente, com o objectivo de benefícios futuros para o indivíduo ou para quem deste descende.
Numa altura em que muitos têm vindo a consumir os rendimentos futuros, a poupança surge como uma forma de os repor, reduzindo o problema para as gerações futuras. Por este motivo faz sentido comemorar a poupança.
Na conjuntura actual, em que se apela ao consumo público, a poupança privada assume enorme relevância. O modelo económico europeu está assente sobre um equilíbrio “instável” entre o consumo e a poupança.
Os benefícios futuros dependem da estratégia adoptada na aplicação das poupanças, esta implica comparar e analisar produtos financeiros e optar pela escolha mais favorável e adequado ao perfil do investidor. A diversificação é essencial de forma a reduzir o risco total da carteira. Sugere-se que esta inclua depósitos a prazo e contas poupança, indicados para os mais conservadores, mas também acções ou fundos de investimento, para os que possam assumir algum risco. A aplicação das poupanças é muito pessoal e depende da relação do investidor com o risco, mas atenção a todos os detalhes de cada produto, sendo de realçar o facto de poderem ter ou não capital garantido.
Vasco Oliveira - Planeamento e Controlo de Produção
Publicado no jornal Metro de 23 de Novembro

domingo, 22 de novembro de 2009

PuraMente #34 - 50 Gurus da Gestão

Nome: 50 Gurus da Gestão
Autor: Jorge Nascimento Rodrigues (+3)
Data Original: Novembro 2005
Frase: " Dos Gurus às tendências "
Keywords: Guru; Gestão; Compilação; Súmula; Dicionário de Management; Colectânea;
Apreciação: ***
“50 Gurus para a Gestão do Séc. XXI” é um livro que reúne, em cerca de 500 páginas de fácil acesso e navegação, um conjunto de súmulas das contribuições de uma selecção daqueles que foram considerados pelos autores – um conjunto de colaboradores do Semanário Expresso - os gurus da gestão.
A obra é uma evolução de outros conceitos já avançados por Jorge Rodrigues, oferecendo a cada autor cerca de 8 páginas, onde se resume a influência deste e dos seus trabalhos e se publica uma entrevista com o mesmo, com um óbvio enfoque na matéria técnica de cada um dos destes. Trata-se de uma forma alternativa de abordar e resumir contribuições normalmente detalhadas em livros e relatórios próprios.
Como qualquer colectânea, a escolha dos autores e temas é absolutamente subjectiva. Embora pareçam faltar contribuições importantes, a compilação é equilibrada e interessante, havendo um maior investimento em nomes que representam mais tendências do que gurus. Destaque-se contudo que, 4 anos volvidos, já fazia sentido uma nova e reformulada edição, com contribuições recentes de grande relevância para gestão do século 21 (Gladwell, Taleb; Friedman e tantos outros). O livro está organizado or 5 grandes temas: futuro, globalização, inovação, capital humano e marketing.
Este formato é interessante para os que procuram uma colectânea de mini-resumos, que potencie a descoberta de autores e aquisição das suas obras noutro momento; é um livro também interessante como formato de consulta, embora os conteúdos online sejam claramente uma opção mais célere e económica. Esta obra não é destinada aos que pretendem a partir dela realmente criar valor com conteúdos dos gurus, aprofundando conhecimentos ou abrangendo novas áreas da gestão. Neste capitulo, trata-se de um formato excessivamente redutor.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Networking Credível

Empresas e gestores sempre tiveram na função de recrutamento, selecção e contratação – seja de recursos, parceiros ou subcontratados – um importante capital, influenciador dos resultados. No entanto, estes processos de escolha e filtragem estão longe de ser uma ciência exacta. Surgiram neste contexto os sistemas de networking, onde as referências passam a ganhar uma importância vital. Estes sistemas baseiam-se em teias de sub-redes de conhecimentos pessoais e profissionais, em que cada recurso tem determinados valores (créditos) para o respectivo elo referenciador, que tem também os seus créditos perante a entidade decisora.

Trata-se de um complexo sistema de relações e créditos, que funciona algoritmicamente de forma semelhante ao searching do Google: quantidade e qualidade de referências cruzadas, ao nível da credibilidade e matching de conteúdos e capacidades.

Em networking, cada pessoa vale aquilo que referencia: as pessoas que aconselha, as empresas que indica. Esta realidade, válida para a vida profissional e para as relações pessoais, nem sempre é apreendida por pessoas e gestores, que ainda misturam interesses pessoais ou amizades com referências que optimizem a eficácia do que é necessário para cada função e momento.

É fundamental compreender que em networking a credibilidade é o mais importante atributo na cadeia de valor e que a qualidade dos referenciados acabará por ser reflectida, a longo prazo, na credibilidade de quem o referencia.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mentir com números

Uma das primeiras coisas que se aprendem nos cursos de informática é a distinção entre dados e informação, onde estes são dados propriamente tratados. Infelizmente, essa distinção poucas vezes é feita quando o assunto são estudos estatísticos, onde simples dados numéricos são apresentados como factos, sem qualquer contexto ou laço com o mundo real.

As estatísticas recentemente publicadas, que indicam que os ouvintes que mais utilizam o download ilegal são os que mais compram, não dizem nada de novo. São o mesmo que dizer que os amantes de carros são os maiores compradores das revistas sobre o tema. Não pode surpreender ninguém que os mais interessados numa área sejam os mais dispostos a investir dinheiro nela.
Da mesma forma, é inconcebível poder levar a sério os números apresentados pela indústria quando tenta equiparar um download ilegal a uma venda perdida. Não é honesto apresentar os compradores de formatos não digitais (como o vinil), mas que mesmo assim querem algo para ouvir no leitor de MP3, ou os que de facto compraram determinado álbum mais tarde na mesma coluna dos "saqueadores" compulsivos. No entanto, isso nunca impediu as editoras de combinar projecções de venda irrealistas com números de downloads ilegais tirados de uma cartola para justificar os seus males.
Apesar de serem um bom tema de conversa, estas estatísticas reflectem pouco mais que o ponto de vista de quem fez o estudo. Estará afinal o copo meio cheio, ou meio vazio?

Luís Silva crítico musical

Publicado no jornal Metro de 18 de Novembro

domingo, 15 de novembro de 2009

PuraMente #33 - "FREE"

Nome: FREE

Autor: Chris Anderson

Data Original : Julho 2009

Frase: “People are making lots of money charging nothing”

Keywords: Free; Marginal Cost; Freemium; Piracy; Freeconomics; Nonmonetary markets

Apreciação: *****

Depois do êxito de “The Long Tail”, Chris Anderson regressa em grande com “FREE – The Future of a Radical Price”, candidato natural a livro do ano, na esfera dos negócios.

O livro aborda a economia do “grátis” de uma forma inovadora e consistente, explicando como tantos negócios se tendem a fazer em torno de pricings nulos com rentabilidades interessantes.

A obra sistematiza 4 diferentes formatos de gratuito : “direct cross-subsidies”, “three party market”, “freemium” e “nonmonetary markets”. O primeiro modelo é o tradicional (ex: promoção “2 por 1”); no segundo junta-se um terceiro que subsidia totalmente o custo marginal da transacção – um exemplo clássico é a rádio, gratuita a troco de investimentos em publicidade; o terceiro é o modelo mais explorado no livro e consiste em ter a esmagadora maioria dos clientes com um serviço gratuito enquanto uma pequena minoria o paga – portanto uns clientes subsidiam os demais - , com base em limites estabelecidos no serviço gratuito, como limitação de tempo, dimensão, velocidade, abrangência ou tipo de cliente; o quarto representa um mercado não monetário, onde blogs e wikipedia são um bom exemplo – o acesso gratuito deve-se ao facto de milhões de pessoas estarem dispostas a produzir sem incentivo financeiro, sendo compensadas com notoriedade ou reputação.

Free constitui um milestone na nova abordagem aos mercados, com uma sistematização economicamente consistente – a escassez e a abundância suportam a razão em grande parte dos capítulos – e detalhadamente explicitada. O autor não deixa de explorar a diferença entre o físico e o digital (atoms & bits), estudando as diferenças, importantes sobretudo na qualidade do produto e no

custo marginal.

Uma obra absolutamente obrigatória.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PuraMente #32 - "Green to Gold"

Nome: "Know-How"

Autor: Daniel Esty e Andrew Winston

Data: Outubro 2006 Yale University Press

Frase: "Empresas inteligentes conquistam vantagens competitivas através da gestão estratégica dos desafios ambientais"

Palavras Chave: "Green Wave"; "Eco Advantage"; "Environment lens"; "Natural Capital"

Apreciação: ****

"Green to Gold" está presente em quase todas as listas de leituras recomendadas, sobretudo nos cursos de pós-graduação em gestão ou estratégia. Trata-se, por isso e pelos temas abordados, de um "best seller" quase obrigatório. A capa do livro é muito esclarecedora quanto ao conteúdo: "Como empresas inteligentes utilizam a estratégia ambiental para inovar, criar valor e construir vantagens competitivas". O objectivo dos autores é fazer a ponte entre os mundos da preservação do planeta e da estratégia empresarial, sempre com um tom realista; ou seja, considerando que a moral e os valores são importantes, mas não totalmente imperativos. A orientação e necessidades do negócio têm primazia e por isso a preocupação com o ambiente é estratégica.

Actualmente "Green to Gold" já não é tão inovador como em 2006. Muito mudou desde então e os argumentos de marketing ambiental já são "mainstream". A meu ver, esse facto não retira interesse ao livro, pelo contrário. O número de pessoas que precisa de o ler livro aumentou, já que a interacção entre ambiente e negócio é agora uma realidade e não apenas uma aspiração. Por outro lado, o leitor já pode analisar os conceitos e estratégias propostos de uma forma mais madura e até com conhecimento de causa.

Após uma introdução pertinente, o livro apresenta-se em quatro partes: "Preparando um mundo novo", "A construção de eco-vantagens", "O que fazem as empresas-líder" e "Juntando tudo". Considero que as duas primeiras partes, mais conceptuais, são as mais interessantes e enriquecedoras. O 12º capítulo descreve as ideias e frameworks do livro, sendo escrito como se de um artigo para uma revista de gestão se tratasse.

Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Publicado em 8 de Setembro de 2009 no Jornal de Negócios

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Manifesto pelo talento

Foto: Luís Ferreira
Distraídos com “fait-divers” de uma enferma classe política que já provou não merecer atenção, esquecemos o essencial. Vencer a guerra pelo talento é determinante para Portugal: promovendo a excelência, o arrojo e a persistência; combatendo, implacavelmente, a mediocridade, a preguiça e o facilitismo.
Em tempos de crise mais do que nunca, o talento é matéria-prima preciosa. Promove a capacidade de adaptação, facilita a assertividade na tomada de decisão em situações de elevada incerteza, e possibilita ágil condução em momentos de complexa mudança. Não resolve o futuro, mas facilita o sucesso.
Consequentemente, não é de estranhar que exista uma guerra pelo talento. Não só empresas ou organizações, mas também cidades, regiões e países, querem ter o melhor talento disponível. Enquanto a procura cresce, Portugal vê sérias dificuldades para atrair e reter talento. Num país sem horizonte de longo prazo, sem consistentes apostas e estímulos, com excesso de politiquice, burocracia e corrupção, cansa labutar, desgasta combater as adversidades e penar por genuínas oportunidades. Não espanta que o sucesso de tantos seja lá fora…
Assim, para além do imoral défice orçamental, do explosivo défice externo, debatemo-nos hoje com um aflitivo défice de talento. O futuro torna-se incerto num País que não valoriza talento. Urge inverter esta situação – mobilizemo-nos!

Publicada no Jornal "METRO" em 11-Nov-09

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

As lições do Pinho, de Pepe e do Padre



Há umas semanas atrás, o padre de Covas de Barroso foi detido por posse ilegal de 16 armas, entre pistolas, revólveres e caçadeiras, munições, engenhos pirotécnicos e pólvora.  O caso dá que pensar, porque o acesso às armas potencia o acontecimento de tragédias, como as que sucederam nos EUA na semana passada.

Momentos de desespero podem surgir do nada. Quando o jogador Pepe fez um penalty perto do fim do jogo, compreendeu que um golo do Getafe colocava o Real Madrid fora do título. Entrou em desespero, pontapeou o adversário várias vezes e quase agredia o árbitro. Na Assembleia da República, Manuel Pinho faz os célebres "corninhos" à bancada do PCP. Esgotado, física e mentalmente, sentiu-se injustiçado e cansou-se de ouvir as provocações em surdina de Bernardino Soares, um deputado que nunca faz parte da solução. Pepe e Pinho sucumbiram à pressão e perderam a cabeça, felizmente sem uma arma à mão. Pediram desculpas, foram "castigados", mas as consequências não foram realmente graves.

Pensemos agora no médico que matou na semana passada 13 colegas na maior base militar dos EUA no Texas. Ou em Jason Rodriguez que na 5ª feira expressou o seu desepero pela situaçao de desemprego da pior maneira, matando uma pessoa e ferindo outras cinco. O que fez a diferença, pela negativa, nos casos americanos não foi a cultura. O desespero é sempre o mesmo, mas o contexto e o acesso à armas é que podem transformar uma explosão emocional numa tragédia.

Imagine-se, se um dia o padre Fernando Guerra entra na missa revoltado... e de caçadeira!


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Metro em 26 de Outubro de 2009



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Um Natal Feliz, Apesar da Crise

O início da época de Natal, suscitou-me a interrogação, “Como será o Natal num ano de Crise?”; e a positiva conclusão de que vai ser “Feliz”. O cérebro humano busca coerência e prazer, por isso, quando o deixamos fazer o seu trabalho; isto é, quando mesmo nas piores vivências procuramos ou deixamos que ele procure os efeitos positivos que sempre se podem tirar de qualquer experiência humana, podemos viver, na crise, momentos de elevada riqueza emocional. Na actualidade o Natal é um equilíbrio entre a componente emocional (sua verdadeira origem) e a componente consumista (fruto da dinâmica de Mercado). Obviamente que em tempos de crise, para uma igual satisfação, teremos de privilegiar a componente emocional, ou seja, atendermos mais aos aspectos elementares e fundamentais da dimensão social; a vida em família e amigos enquanto elemento crucial da condição humana. Esta realidade tem uma dupla vantagem, pois para além da felicidade natalícia, reincorpora com um peso maior; talvez o adequado; a dimensão emocional, social e humana da Sociedade; relativizando a dimensão económica que, sem hipocrisias, é importante; contudo tem assumido uma preponderância às vezes selvática e desprovida de princípios e valores; facto que aliás está na raiz desta crise. Vivamos um Natal emocionalmente rico e recuperaremos forças que contribuirão para o fim da crise. António Jorge Consultor em Estratégia Marketing e Vendas Publicado no Jornal Metro de 4NOV09

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Prioridades trocadas (*)

Nos últimos anos, quer o Governo quer a Presidência da República têm apontado o crescimento das exportações como a panaceia para os nossos males. Infelizmente, Panaceia – a deusa da cura – só houve uma e apenas existiu na mitologia grega. Em Portugal, o crescimento das exportações, podendo ajudar a atenuar alguns dos nossos problemas, em particular o défice comercial, não resolve, por si só, os desequilíbrios macroeconómicos evidenciados pelo país. Porque, de acordo com a OCDE, das nossas exportações, que representam cerca de 30% do PIB, quase 40% resulta da incorporação de bens previamente importados do estrangeiro! Portugal é hoje dos países mais endividados de toda a Europa. No sector privado, a dívida conjunta das empresas e das famílias corresponde a 150% do PIB. Quanto ao Estado, o endividamento público caminha para os 80% do PIB. Ao mesmo tempo, a nossa economia é das que tem evidenciado menor crescimento da produtividade (apenas 0,5% ao ano nos últimos oito) e maior aumento dos custos unitários do trabalho (um incremento de 20% face à Alemanha desde a introdução do euro). Estes sim, são alguns dos nossos verdadeiros problemas e que resultam da rigidez reguladora do nosso país, cuja resolução, curiosamente, está, na generalidade dos casos, ao alcance do Governo. Muito mais do que essa tarefa voluntariosa, mas hercúlea, que é a de tentar encontrar mercados para as nossas exportações pouco competitivas. (*): artigo publicado no jornal “METRO” a 2 de Novembro de 2009