Uma das primeiras coisas que se aprendem nos cursos de informática é a distinção entre dados e informação, onde estes são dados propriamente tratados. Infelizmente, essa distinção poucas vezes é feita quando o assunto são estudos estatísticos, onde simples dados numéricos são apresentados como factos, sem qualquer contexto ou laço com o mundo real.
As estatísticas recentemente publicadas, que indicam que os ouvintes que mais utilizam o download ilegal são os que mais compram, não dizem nada de novo. São o mesmo que dizer que os amantes de carros são os maiores compradores das revistas sobre o tema. Não pode surpreender ninguém que os mais interessados numa área sejam os mais dispostos a investir dinheiro nela.
Da mesma forma, é inconcebível poder levar a sério os números apresentados pela indústria quando tenta equiparar um download ilegal a uma venda perdida. Não é honesto apresentar os compradores de formatos não digitais (como o vinil), mas que mesmo assim querem algo para ouvir no leitor de MP3, ou os que de facto compraram determinado álbum mais tarde na mesma coluna dos "saqueadores" compulsivos. No entanto, isso nunca impediu as editoras de combinar projecções de venda irrealistas com números de downloads ilegais tirados de uma cartola para justificar os seus males.
Apesar de serem um bom tema de conversa, estas estatísticas reflectem pouco mais que o ponto de vista de quem fez o estudo. Estará afinal o copo meio cheio, ou meio vazio?
Luís Silva
crítico musicalPublicado no jornal Metro de 18 de Novembro
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