sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A longa controvérsia sobre as vendas curtas



Alguns países europeus anunciaram a proibição de vendas a descoberto de acções, tentando mitigar a pressão vendedora enfrentada pelo sector financeiro. A péssima performance dos títulos nas últimas semanas e alguns rumores sobre dificuldades dos bancos, deram justificação moral aos supervisores para a proibição de vendas curtas.

A controvérsia em torno do "short-selling" dura há décadas. Os críticos argumentam que se trata de uma estratégia destrutiva para o mercado e empresas. Isto porque quem vende uma acção a descoberto terá de a comprar mais tarde, tendo interesse em que a sua cotação caia, de preferência rapidamente. Essa necessidade pode dar azo a que se façam circular rumores ou reunir outros "short-sellers" com o objectivo de derrubar a cotação de um título, o que poderá ter impacto para além dos mercados. No caso do sector financeiro, a prática agressiva de vendas curtas induz risco sistémico.

As vendas curtas têm um papel no mercado. Por exemplo, permitem aos investidores expressar uma opinião pessimista sobre uma empresa. Mas o seu papel mais importante está em darem liquidez ao mercado, tornando o processo de formação do preço quase sempre mais eficiente. Vários estudos provam que a acção dos "short-sellers" ajuda a reduzir a volatilidade, alisando os movimentos mais fortes, sejam de alta ou de baixa.

É uma discussão antiga e que perdurará. Porém, no contexto actual, as proibições feitas pelos reguladores aparentam não ser mais do que uma intervenção no mercado com o objectivo de fazer subir as cotações no curto prazo.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no Diário Económico em 17 de Agosto de 2011

UPDATE:
A proibição de “short-selling” nas acções do sector bancário europeu levou a que os investidores que continuam a acreditar na baixa das acções a fazê-lo através dos futuros. Ou seja, não podendo vender acções a descoberto, vendem-se contratos de futuros sobre os índices que, sendo uma “porta mais estreita”, provocaram uma queda muito forte da bolsa no dia 18 de Agosto, que começou no DAX e contagiou todas as outras praças mundiais.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Investidores "devem manter a calma" [porque "é muito fácil cometer erros nestes dias"]


(in Jornal de Negócios)

Em dias de grande instabilidade, como foi o de hoje nos mercados bolsistas, os investidores “devem manter a calma porque não são bons dias para estar no mercado”.

Filipe Garcia, analista da Informação de Mercados Financeiros (IMF), alerta mesmo para o facto de ser “muito fácil cometer erros nestes dias”.

O responsável aconselha os investidores a “rejeitarem estratégias que recorram a alavancagem”, de forma a protegerem de alguma forma os seus investimentos.

Já Octávio Viana, presidente da Associação dos Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM), questionado sobre o que devem os investidores fazerem nestes dias, defende que devem “equacionar o investimento que fizeram, os pressupostos e os seus objectivos que os moveram para essa decisão, procurando responder se fosse hoje (aos preços de hoje) que iniciassem esse investimento se ainda assim o fariam. Perante isso encontram a resposta relativamente ao que devem fazer.”

E como se podem proteger os investidores? Se conseguirem conviver com a volatilidade e procurarem retornos maiores que a inflação, Octávio Viana aponta para o ouro, “seja por via de produtos indexados ao valor do ouro, seja físico”. Se o convívio com a volatilidade não for fácil, o melhor é procurar um depósito, onde as suas poupanças estão mais seguras.

A sessão de hoje foi marcada por oscilações acentuadas e por uma forte volatilidade. As bolsas europeias afundaram de manhã e fecharam, em muitos casos, a subir mais de 1%.

Este comportamento reflecte “o medo” que os investidores estão a demonstrar. Há um “aumento da aversão ao risco, com receio de desaceleração económica, mas também de desconfiança face ao sistema financeiro a nível mundial, público e privado”, sublinha Filipe Garcia.

“Do lado europeu receia-se o contágio da crise da dívida soberana a Itália, Espanha e até França, com o mercado a perceber que qualquer dos cenários de resolução da crise também penalizará a Alemanha. Nos EUA o receio é que uma eventual desaceleração económica conduza a sérias dificuldades do sector financeiro e a uma maior dificuldade de os EUA conseguirem adoptar uma trajectória de consolidação orçamental”, adianta o responsável do IMF.

“O mercado parece querer empurrar a Fed para um ‘quantitative easing III”, acrescenta Filipe Garcia. Hoje, a Fed está reunida e o mercado especula que possa anunciar mais apoio à economia. Foi esta especulação que impulsionou os índices norte-americanos, que estão a subir mais de 2%, o que acabou por influenciar a negociação na Europa.

Octávio Viana considera que a “Europa encontra-se numa situação ainda mais frágil aos olhos dos credores. Primeiro porque não é fácil tomar uma decisão de ‘imprimir’ dinheiro como nos EUA. E, em segundo, porque a cultura europeia é de primeiro cumprir com as prestações sociais e só depois, se houver dinheiro, com os credores, o que é o inverso dos EUA.”