segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Prioridades trocadas (*)

Nos últimos anos, quer o Governo quer a Presidência da República têm apontado o crescimento das exportações como a panaceia para os nossos males. Infelizmente, Panaceia – a deusa da cura – só houve uma e apenas existiu na mitologia grega. Em Portugal, o crescimento das exportações, podendo ajudar a atenuar alguns dos nossos problemas, em particular o défice comercial, não resolve, por si só, os desequilíbrios macroeconómicos evidenciados pelo país. Porque, de acordo com a OCDE, das nossas exportações, que representam cerca de 30% do PIB, quase 40% resulta da incorporação de bens previamente importados do estrangeiro! Portugal é hoje dos países mais endividados de toda a Europa. No sector privado, a dívida conjunta das empresas e das famílias corresponde a 150% do PIB. Quanto ao Estado, o endividamento público caminha para os 80% do PIB. Ao mesmo tempo, a nossa economia é das que tem evidenciado menor crescimento da produtividade (apenas 0,5% ao ano nos últimos oito) e maior aumento dos custos unitários do trabalho (um incremento de 20% face à Alemanha desde a introdução do euro). Estes sim, são alguns dos nossos verdadeiros problemas e que resultam da rigidez reguladora do nosso país, cuja resolução, curiosamente, está, na generalidade dos casos, ao alcance do Governo. Muito mais do que essa tarefa voluntariosa, mas hercúlea, que é a de tentar encontrar mercados para as nossas exportações pouco competitivas. (*): artigo publicado no jornal “METRO” a 2 de Novembro de 2009

2 comentários:

Anónimo disse...

"No sector privado, a dívida conjunta das empresas e das famílias corresponde a 150% do PIB. Quanto ao Estado, o endividamento público caminha para os 80% do PIB."

De onde se vê que, se o Estado é um gastador inveterado que vive além das suas capacidades, o setor privado não lhe fica atrás, bem pelo contrário.

"a resolução, curiosamente, está, na generalidade dos casos, ao alcance do Governo"

Como pode o Governo resolver a inveterada tendência dos privados para gastar exageradamente? Que pode o Governo fazer para conter esses estouvados?

Luís Lavoura

Anónimo disse...

Deixar de ser fiador.