segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Uma questão de honra

Durante a idade média a Igreja vendia as chamadas indulgências, que permitia aos pecadores chegar ao reino dos céus mediante uma doação monetária. Por alto, esse é o conceito da taxa fixa que muitos defendem como último recurso para tentar lucrar com o download ilegal - o utilizador paga uma determinada quantia mensal e durante esse mês tem uma "amnistia" para as suas actividades.

Apesar de estar longe de ser uma solução livre de problemas - desde logo o dinheiro iria certamente para aqueles que menos precisam dele - os artistas que com ou sem pirataria vendem milhares de unidades - é uma solução que pode ser interessante caso seja equilibrada; nem uma mensalidade muito baixa de modo a que as editoras não se sintam defraudadas, nem tão alta que afaste potenciais clientes dispostos a aderir a este "sistema de honra". E não podemos esquecer aqueles que compram os discos e frequentam concertos!

Uma forma eficaz de incentivar a compra seria criar algo no mesmo formato que um cartão de descontos de um supermercado, em que uma determinada percentagem de cada compra seria descontada na mensalidade seguinte. Isto não só permitia distribuir as taxas de uma forma mais equilibrada, como devolver algo aos que de facto "compram se gostarem" ou suportam economicamente a banda a ir aos seus concertos.

Num mundo imperfeito são raras as soluções perfeitas e ainda menos a que têm sucesso. Mas qualquer tentativa é melhor que a forma como a indústria lida, actualmente, com o download ilegal e quem o pratica.

Luís Silva
Crítico musical

Públicado no jornal Metro do dia 7 de Setembro

3 comentários:

Rui C. Alves disse...

Acho que é fácil encarar isso do nosso lado, mas do lado do artista é outra coisa.
Em Portugal são muito poucos os que sobrevivem no mundo da música porque muitas vezes teem de ter uma profissão paralela para poder ser artistas. E ter uma profissão paralela, mais fazer gravações\ensaios, mais espectáculos, parece um calendário sobrecarregado. Ainda por cima depois de lançar um disco que demorou 2-3 anos a ser feito, toda a gente o tem mas só 1 duzia de gatos pingados o compra, porque passados 5 minutos já esta no youtube.
A mensalidade é uma ideia, mas longe pa ideia perfeita, num mundo em que o desenrasque continua a ser o modus operandi.

lookingforjohn disse...

Check this out:... http://www.youtube.com/watch?v=_4Lp_RFQQe8&eurl=http%3A%2F%2Fmiguelangeloaka.blogspot.com%2F2009%2F02%2Fspeakers-cornerindiegenteant3na160209.html&feature=player_embedded
(principalmente a partir aí dos 3,5 minutos…)

Silva disse...

A questão dos artistas é interessante porque a opinião varia muito, dependendo de quem se pergunta. Há aqueles que preferem a exposição a meia dúzia de vendas (porque podem recuperar ao fazer um concerto mais composto) e há os que têm a mesma postura que a indústria. Tudo depende do ponto de vista de cada um.

E a verdade é que muito dificilmente algum músico, onde quer que seja, pode viver unicamente do seu trabalho como tal. Um dos sites de referência (Stereogum) tem mesmo uma secção onde entrevistam músicos e perguntam o que fazem no dia a dia - uma das bandas que tem o que vai ser considerado como um dos álbuns do ano por muitos sites e revistas, e até estiveram em Paredes de Coura neste verão apareceram por lá ainda recentemente.

Quanto ao video/audio do Miguel Ângelo, acho que nunca o ouvi a dizer tantas coisas acertadas. É bastante positivo ver músicos com uma carreira estabelecida com uma capacidade de olhar em frente e pensar no que se pode fazer.