Nos dias de hoje cada vez mais se dá importância à felicidade. Numa altura em que os países desenvolvidos deixam apenas de focar a sua atenção em métricas de riqueza passando a avaliar também níveis de felicidade, não é de estranhar que a felicidade no trabalho desempenhe um papel importante nas sociedades modernas e também na vida das pessoas que nelas se integram.
Nesse sentido, e em linha com o que vem acontecendo há vários anos na revista Fortune, começa-se a dar atenção também em Portugal aos resultados que se publicam sobre as melhores empresas para trabalhar.
A satisfação no trabalho terá indubitavelmente não só um impacto importante na felicidade dos indivíduos mas também nos resultados das próprias empresas, porque não se trata de avaliar apenas as empresas que melhor cuidam os seus colaboradores mas também passará pela identificação daquelas cujos colaboradores mais contribuirão para o desenvolvimento das mesmas.
Poder-se-á erradamente considerar que o aspecto fundamental e que mais impacto terá na satisfação do trabalhador será o aspecto monetário. No entanto, diversos estudos demonstram que este aspecto é apenas um factor higiénico na relação e que deverá ser visto como um princípio base para que a relação se possa desenvolver. Isto é, a partir do momento em que o colaborador (e empregador) considera que a compensação monetária é justa para a função em causa a relação está pronta a começar.
De facto, o que é mais relevante na relação entre o colaborador e a empresa, como em qualquer relação de um casal, é a paixão!
A esta conclusão chega Gary Hamel no seu livro “O Futuro da Gestão”, onde a paixão pelo que se faz se sobrepõe a qualquer outra característica como a criatividade, inteligência ou a iniciativa dos colaboradores.
No entanto, temo que as empresas portuguesas de hoje não tenham tido a capacidade de desenvolver um modelo de gestão que permita cultivar a relação que se estabelece entre a empresa e o colaborador, de modo a atingir níveis de envolvimento elevados. Nem tão pouco terá sido capaz criar mecanismos de avaliação do nível de entrega que os seus colaboradores têm nas actividades que desenvolvem na empresa que representam. Este facto é tanto mais importante se considerarmos que da análise a um inquérito feito a 86 mil colaboradores de empresas de 16 países distintos, se verifica que apenas 14% destes se sentem realmente envolvidos com o seu trabalho.
Um artigo publicado na Harvard Business Review, dava também conta que um indivíduo deverá sempre trabalhar naquilo que realmente gosta, e que a melhor forma de reter e desenvolver esse mesmo trabalhador é fazer com que ele se sinta feliz nas suas actividades diárias, e esta felicidade está directamente dependente do ajuste que existe entre a função que desempenha e os seus interesses pessoais, designados por Deeply Embedded Life Interests.
Isto leva a que um indivíduo possa ser extremamente eficaz e produtivo numa determinada função mas que esta não o satisfaça minimamente, o que leva a que este mesmo indivíduo tenha no curto prazo boas avaliações de desempenho apesar de não retirar nenhuma felicidade no dia a dia do seu trabalho.
Neste tipo de situações, apesar das empresas considerarem o colaborador um activo valioso mas por também valorizarem os resultados de curto prazo, não incentivam a passagem do colaborador para uma outra função que este considere mais estimulante mas para a qual ainda não tenha provas dadas, visto que tal implicaria um risco que a organização hoje não está preparada para absorver.
No entanto esta inércia traduzir-se-á possivelmente para o colaborador num desinteresse pela sua actividade e para a empresa numa redução de produtividade do colaborador e/ou a perda do mesmo para o mercado.
Por acreditar que só a paixão é capaz de fazer o longe parecer perto, fazer o difícil parecer fácil e de tornar o impossível num objectivo alcançável, dever-se-á exigir às empresas portuguesas que consigam reinventar o seu modelo de gestão de forma a permitir, entre outras coisas, um melhor aproveitamento dos seus quadros de maneira a criar um dinamismo e uma entrega que hoje a gestão moderna exige.
Quando olhamos hoje em dia para os grandes nomes da arte, da música, do desporto ou da gestão o que vemos é uma enorme paixão das pessoas pela actividade que desenvolvem e essa paixão reflecte-se nos resultados que apresentam.
Por tudo isto se parar para pensar o quão apaixonado está pela sua empresa e pelo que faz, o que diria? E as pessoas que consigo trabalham? Digamos…de 0 a 10?
2 comentários:
Bom artigo Miguel. Partilho inteiramente deste pensamento. Ainda há de facto um longo caminho a percorrer na gestão de pessoas no mundo empresarial e que está directamente ligada ao nosso problema da Produtividade ... que tanto se tem falado.
Um pouco extenso para blogue mas muito oportuno e assertivo.
Concordo que um verdadeiro A Player, Star ou Talento, tem paixão como ingrediente essencial para a receita obter sucesso. E não digo "tem que ter", mas sim "tem", ou seja, para mim só será Talento se a Paixão estiver intrínseca, bem lá em baixo do iceberg de competências
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