segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Dragão



Parece trivial, mas não é. A China e a Argentina chegaram a acordo para a criação de uma linha de troca de divisas - yuans e pesos - de aproximadamente 10 mil milhões de dólares. Este tipo de instrumento - denominado de swap - permite que cada país possa aceitar as moedas do outro como pagamento no comércio bilateral, sem necessidade de passar pelo dólar. Actualmente a moeda americana é utilizada nas trocas, dado que nem o peso nem o yuan têm convertibilidade internacional. Este tipo de acordo poderá ser utilizado com outros países da América Latina, com os quais a China tem um relacionamento comercial que ascende a cerca de 112 mil milhões de dólares por ano.

Com esta “ferramenta cambial” a China conseguirá trabalhar vários objectivos em simultâneo. Por um lado contornará a dificuldade da não convertibilidade das moedas, facilitando as transacções. Ao mesmo tempo poderá fortalecer as relações comerciais e políticas com diferentes países, fidelizando-os como clientes, conquistando influências e assumindo-se como uma potência global. Finalmente, tentará construir uma alternativa ao dólar, e mesmo ao euro, como principais moedas de transacção internacional.
 
Os chineses (e não só) estão desconfortáveis com a sua exposição ao dólar e começam a mover influências para que o seu peso seja reduzido a favor dos "Direitos Especiais de Saque" - uma espécie de divisa do FMI. Fala-se do progressivo abandono do dólar devido à possível perda do seu carácter de reserva de valor e da credibilidade que indubitavelmente a moeda ainda tem. O processo está longe de estar em marcha rápida, mas conhece-se bem o método chinês de actuar – com muita calma, dando o tempo ao tempo.

Sem pressas, sem pausas.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Artigo publicado no jornal Meia Hora de 6 de Abril de 2009


Sem comentários: