A indústria tem coleccionado sucessivos tiros no pé desde os primeiros tempos do Napster e, incrivelmente, isso não mudou a mentalidade, apenas o tom, o timbre e o tempo do choro. O caso Português é bem típico – nos anos 80, a imagem do rolo compressor a passar por cima das cassetes pirata era frequente. Agora mudou-se o “bode expiatório”, mas o discurso mantém-se. Só que é difícil levar a sério todas as lamentações (que por vezes são legítimas) quando são as editoras e não o público a fazer os tops e a escolher discos de ouro ao bombardear os retalhistas, mesmo que os discos não sejam vendidos aos consumidores. Antes, como agora, controlam a quase totalidade do que passa na rádio. Para mais, é difícil distinguir se o Tozé Brito que defende hoje a criminalização é o administrador actual da SPA ou um antigo executivo das editoras... e ainda há aquela questão dos 41 milhões que a entidade deve aos autores.
Aqueles que querem fugir aos tops têm pouco para onde se virar: o MySpace e a blogosfera musical têm demasiado ruído, o YouTube apagou milhares de vídeos e a rádio serve apenas como companhia para o mínimo denominador comum. O cenário idílico desejado pelas editoras não irá salvar a indústria – irá sim assinar a sentença de morte da música.
Luís Silva
Crítico musical
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