terça-feira, 23 de junho de 2009

Subsídios Imorais

Parece quase um lugar comum afirmar que o desemprego é, nesta altura, o mais importante dos índices, sobretudo pela relevante correlação com o consumo interno privado, que tem a importância que se conhece. A subir de forma quase descontrolada e com previsões de agravamento em 2010 o desemprego, como qualquer regulação, tem um lado de grande promiscuidade, que convém suster, em particular no presente momento.
A questão que se põe é: o que fazem esses milhares de portugueses que usufruem do fundo de desemprego ou rendimento social de inserção? Uns não fazem nada, outros fazem trabalhos não declarados e uma minoria procura efectivamente emprego. É esta a realidade de um país que trata melhor os que não contribuem do que aqueles que geram valor para a Nação, para a economia e para os fundos que alimentam os “não inseridos”. Numa sociedade madura e onde se espera que as pessoas não fujam ao pagamento dos seus impostos, torna-se vital um processo de transparência para os que recebem esses rendimentos.
Nomeadamente, proponho que os receptores de subsídios de desemprego façam trabalhos de importância marginal para o Estado e que de outra forma não seriam feitos, mas que lhes ocupem o tempo e criem algum valor, devolvendo moralidade ao sistema. Impõe-se ainda a criação de um sistema de controle em toda a linha, sobretudo na aceitação de novas propostas de trabalho. Um sistema de “cliente mistério” resolveria parte das situações, reduzindo os encargos que o Estado paga todos os meses a quem não quer trabalhar e criando espaço para os que efectivamente procuram um novo rumo para a sua vida.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

De retalhar o passado a inventar o Futuro

As revoluções tecnológicas que se têm vindo a assistir nas últimas décadas e que têm tido impactos impressionantes no modo de vida das pessoas não tiveram, salvo em raras excepções, um reflexo de igual dimensão nas estruturas públicas e nas empresas privadas.

Um exemplo dessa mudança são as comunidades virtuais online, onde os jovens de hoje se movimentam com total à vontade, permitindo-lhes uma ligação à sua rede de contactos (quase) grátis e 24 horas por dia.

Num momento em que que se questiona e analisa a educação que queremos dar às novas gerações, verificamos que estamos na presença de tecnologias que há 10 anos não existiam. Olhando para a forma como a Educação está a caminhar em Portugal teremos que nos perguntar: até que ponto não será esta parecida com aquela que eu próprio tive, onde os telemóveis e as comunidades virtuais faziam parte de um futuro ainda por inventar? E até que ponto será ela hoje radicalmente diferente do modelo de educação que os meus pais tiveram?

Note-se que esta realidade não se aplica apenas à Educação, aplicando-se também à Saúde, à Justiça, à Política ou em tantos outros sectores onde o futuro tem vindo a ser construído com remendos ao passado e com soluções baseadas na história e na pesada herança que arrastamos.

Para mudar, antes demais é necessário um forte desejo de mudança que não será possível se não se considerar a mudança como necessária (o que me parece óbvio no caso de Portugal e para os Portugueses que o vivem e constroem).

Para tal teremos que ser capazes de olhar o país e o mundo com outros olhos ou pelo menos através de umas lentes que nos permitam inventar e criar um novo futuro, e não apenas remediar o passado ou copiar realidades que não se adequam à nossa.

E porque não começar por mudar radicalmente a forma de como a Educação é feita em Portugal? Não só aproveitando a tecnologia disponível e que começa já a fazer parte do passado mas indo ainda mais longe escrevendo páginas de um futuro ainda por inventar.

Teremos que em conjunto inventar um novo futuro para Portugal e para os Portugueses, sem ficar à espera que o destino ou alguém o faça por nós. Obviamente muitos dirão que é uma loucura. Mas qual será a loucura maior? A daquele que julga que pode mudar o mundo ou a de quem para ele olha e nada tenta mudar?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O novo paradigma da consultoria financeira

Nos últimos meses temos vindo a assistir a uma profunda crise financeira que está a provocar mudanças significativas na forma como se está a oferecer produtos financeiros ao mercado. Neste cenário, a consultoria financeira está também a evoluir e tem um papel fundamental a desempenhar como um importante agente do mercado financeiro. O peso estrutural do canal clássico que representa o retalho bancário, tem diminuído relativamente ao surgimento de outros canais alternativos, nomeadamente a Internet. Por outro lado, a pressão da optimização dos resultados em face da diminuição da margem de intermediação financeira, tem conduzido a uma redução global dos custos operacionais das Instituições Financeiras. Este emagrecimento dos custos reflecte-se sobretudo numa maior dificuldade na prestação de um serviço personalizado aos seus clientes. Esta área de actividade tem permitido, desde então, sobretudo na área do crédito oferecer um serviço de aconselhamento financeiro independente e muito mais amplo que aquele que é facultado por um banco ou financeira. Isto para além de ser um serviço mais personalizado e próximo do cliente final, sem o estigma de estar a negociar com uma Instituição Financeira, numa luta negocial muito desequilibrada. A sua posição de charneira entre as Instituições Financeiras e quem acede aos seus produtos, aliado à independência e especialização da sua actividade, concorre para que os particulares e as empresas procurem estes profissionais para encontrar, não apenas a melhor solução de financiamento, mas fundamentalmente, um serviço financeiro integrado que lhes permita obter uma solução personalizada e adequada às suas necessidade actuais em consonância com as suas perspectiva de futuro.
--Publicada por António Godinho em Mercado Puro a 6/18/2009 01:50 AM

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Harvard Trends #8 - Neuroplasticidade

Uma descoberta recente na área da neurologia tem despertado particular interesse entre estudantes e professores de Harvard. Trata-se de uma discussão em torno da capacidade de inteligência, enquanto factor de criação de informação célere e acertada para a melhor tomada de decisão, bem assim como na sua correlação com a criatividade. Apesar de fenómenos da vida real sugerirem que as pessoas mais activas mentalmente exercitavam mais o cérebro e assim tinham maior capacidade intelectual do que as demais, a ciência postulava que uma parte importante dos neurónios morriam depois da adolescência. Agora a mesma ciência prova que estímulos naturais desencadeados a pedido do cérebro criam novas séries de neurónios – a nova buzzword chama-se neuroplasticidade.
Num outro registo, a importância desta descoberta encontra-se no fenómeno que maximiza este efeito de dinâmica cerebral – a saída da rotina para interesses altamente desafiantes. É neste contexto que pela primeira vez se sugere de forma racional e apoiada que tem melhores condições os gestores quando não se centram apenas nos seus trabalhos, famílias e rotinas, mas também em outras paixões, que desafiem o seu intelecto a ir mais longe, fazer diferentee adaptar-se constantemente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

A necessária partilha de esforços

O Dia Mundial do Ambiente (5 de Junho) fica este ano marcado na agenda das acções para o combate às alterações climáticas.
O Ministério do Ambiente lançou uma plataforma online com disponibilização de informação sobre o cumprimento dos objectivos nacionais definidos no Protocolo de Quioto (http://www.cumprirquioto.pt/). Também neste dia foram publicadas no Jornal Oficial das Comunidades quatro directivas comunitárias que servirão de base para a implementação do pacote “Energia e Clima” da União Europeia. Tratam-se sem dúvida de mais “ferramentas” que apoiarão o País e a UE a concretizar a sua política energética e de combate às alterações climáticas.
No entanto, uma semana depois, as notícias internacionais nesta matéria não são tão decisivas. Em Bona, a 12 de Junho, terminaram de forma inconclusiva duas semanas de negociações com vista à preparação de um acordo, sucedâneo do Protocolo de Quioto, que será concretizado em Dezembro em Copenhaga. Os 183 países não chegaram a acordo sobre a partilha de esforço na redução das emissões de gases com efeito de estufa. Porquê? Porque o próximo acordo global obrigará a uma participação activa de todos os grandes emissores, quer eles sejam países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Todos os países sabem da urgência em limitar as emissões de gases com efeito de estufa, mas existe preocupação sobre o seu impacto nas economias nacionais.
Certo é que quaisquer decisões a serem tomadas sobre este assunto terão reflexo na regulamentação aplicável às empresas, mas também, e cada vez mais, nos nossos hábitos de consumo e na nossa vida quotidiana.
Publicado dia 16 de Junho no Jornal Meia-Hora

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Piratas e Falsários

O costume, é verdade, tem servido de escusa a muitos disparates e excepções. O hábito e a tradição, não raramente, abafam o argumento e a razão. Se cá estivessem os avós que com suposição nada mais do que egocêntrica tradição dizem querer respeitar, nada mais soltariam do que um lamento. Um lento e agoniado lamento.
Em tempo de Internet a 100 Mbps e neuroplasticidade, os portugueses convivem tranquilamente com o que se passa todas as semanas, todos os dias, nas feiras.
Pior, fazem-no sem o mais ténue sentido de critica ou, ainda menos, culpa. Refiro-me não à venda legal de artigos que complementam o comércio tradicional, mas à enorme e revoltante malga de ilegalidades que se pratica nas feiras. Desde logo, porque a factura como documento é quase sempre uma miragem e o IVA um insulto. É grave, mas é pouco quando se compara com a óbvia contrafacção de marcas, digna de países como poderia ser o Sudão ou o Congo Francês. A cereja no topo do bolo é o policiamento, pago por todos os contribuintes, por aquelas mesmas unidades que o MAI insiste em cobrar em recintos desportivos e outros espectáculos. Em nome de um comércio desleal mas policiado, supremo da ironia.
Uma palavra também para as “vendas de alimentos” das feiras. Numa loja de rua, aqueles espaços duravam pouco tempo. Num centro comercial duravam um dia ou dois. Na feira, só falta serem elogiados. Muitas vezes sem as mínimas condições para operar dentro dos limites de higiene e segurança, oferecem “produtos tradicionais” que aumentam desnecessariamente o risco alimentar.
Quando mais tempo precisam os portugueses de perceber que estas ilegalidades retiram valor, pilham o orçamento do Estado e surripiam emprego legal? Quanto mais tempo precisam as autoridades para regular devidamente estes espaços e controlar falsários e piratas?

domingo, 14 de junho de 2009

Harvard Trends #7 - Humble Bee

Desde há algum tempo que existem em Harvard inúmeras discussões, trabalhos, e frameworks para testar a maximização da utilidade das redes sociais no ambiente empresarial, nomeadamente as que se centram no ambiente Web 2.0, como o LinkedIn, Twitter, Facebook ou Myspace.
A corrente dominante apoia o método Humble Bee - as abelhas organizam-se enviando “escuteiros” à procura de espaços para captação de pólen, e num momento seguinte enviam grupos de teste que confirmam, através de uma dança, os melhores locais, e na sequência da decisão das pequenas maiorias, tomam decisões.
O que o processo Humble Bee traz de novo é uma clara separação entre o que o que é recolha/ descoberta/ invenção e o que é integração de informação. O sucesso do processo de comunicação das abelhas centra-se no facto de gerirem estas duas necessidades de formas distintas, sugerindo que nas empresas deve haver uma estrutura que permita um comportamento mais individual/de poucas interacções na captação de informação das redes wiki ou na gestão de criatividade e outro de grande intensidade comunicacional (ex: grupos de trabalho) na fase de integração da informação recolhida/criatividade desenvolvida. Gerir convenientemente será saber adoptar a cada momento o adequado processo comunicacional.

sábado, 13 de junho de 2009

Puramente #21 - A Sense Of Urgency

Nome: A Sense of Urgency
Autor: John Kotter
Data Original: Dezembro2008
Frase: "Success produces complacency, failure conduces frenetic activity – both threats to organizations."
Keywords: Real sense of urgency; Change Management; Crisis Opportunities; Nono; The Outside In
Apreciação: ***
Este livro surge na sequência do bestseller “Leading Change”, lançado pelo mesmo autor alguns anos antes. Nesse livro, o Framework de oito passos do processo de gestão tinha como ponto inicial a consciencialização do sentido de urgência. Kotter é peremptório ao afirmar que este é, de entre as oito fases, a mais importante e influente num processo de mudança.
Kotter defende que o sucesso produz complacência, um mal que se encontra frequentemente em grande número em empresas de topo, fruto do seu glorioso passado recente. Os complacentes são inibidores à evolução, mas não se encontram entre os castradores de processos de mudança. Situação mais grave e de maior dificuldade de resolução são os casos de falso sentido de urgência, onde as actividades frenéticas e inconsequentes são consequência de falta de estratégia.
O livro propõe uma estratégia para a criação de um sentido de urgência em toda a organização, assente em quatro tácticas complementares: Visão “outside-in”; atitude de gestão de topo coerente em permanência; encontrar oportunidades nas crises; gerir os “nonos” que existem em todas empresas e que, ao contrário dos cépticos – que podem ser uma mais valia num processo deste tipo – apenas destroem e portanto devem ser geridos com cuidado, em vez de ignorados. As tácticas são originais e curiosas, propondo o autor inclusivamente a criação de crises por parte do gestor como forma de evoluir mais rápida e controladamente no processo!
Para quem procura um livro de gestão de mudança para lidar da melhor forma com esse tipo de processos, este não é o livro ideal, por não ser suficientemente abrangente. Está antes indicado para os que já leram algumas obras e procuram detalhar aspectos e procurar novas tendências do processo.
Publicado no Jornal de Negócios dia 9/06/2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

PuraMente #20 - José Mourinho


Nome: José Mourinho

Autor: Luís Lourenço

Data: Julho de 2003 - Prime Books

Frase: "Confiança, determinação, vontade de transmitir a indómita vontade de vencer""

Palavras Chave: Treino; Descoberta Guiada; Grupo; Chicotada Metodológica;

Apreciação: **

Há algum risco em apresentar  "José Mourinho", já que se fala muito de futebol e de episódios que estiveram, ou poderiam ter estado, num jornal desportivo. Já passaram seis anos desde os factos relatados neste livro de Luís Lourenço e Mourinho já conquistou mais títulos. No entanto, Mourinho não foi sempre campeão e tem derrotas importantes no seu currículo. Mesmo o melhor dos líderes não tem a capacidade de mudar tudo e, mais do que isso, não atinge o sucesso sozinho. Mourinho vence devido à sua energia, trabalho e competências, mas precisa estar inserido em boas organizações, alavancando-as e promovendo a mudança. Não há sucesso nas organizações sem bons líderes e bons líderes, por si só, também resolvem pouco. Esta é a primeira lição que o livro oferece.

O prefácio é "obrigatório". Em duas páginas Manuel Sérgio extrai o essencial das 180 seguintes. Explica o que faz de Mourinho melhor e diferente e nunca separa o líder da organização em que se insere. Põe em cima da mesa conceitos "chave" como tribo, respeito, amizade, estudo, decisão, planeamento, discernimento, liderança.

Ao longo do livro - que termina com a vitória da Taça Uefa - sucedem-se episódios que permitem conhecer a linha de acção e raciocínio do líder, sem esconder os maus momentos, erros e arrependimentos.

Na minha leitura destacaria três pontos para reflexão:
- Mourinho como disruptivo dentro da sua classe, um "first mover".
- Os jogos contra a Lázio e o conflito "Ética vs Legalidade"
- O jogador como um todo: técnica, inteligência, potencial de progressão, solidariedade, carácter.

Obviamente que não se trata de um livro conceptualmente sólido, mas de exemplos de liderança. Só que os temas abordados são aplicáveis a muitas áreas fora do desporto, a linguagem é simples e são apresentados casos, exemplos e personagens com que a maioria estará muito familiarizada. É aqui que reside o verdadeiro poder diferenciador deste livro - o seu alcance em termos de público leitor. "José Mourinho" pode ser a forma mais simples de transmitir conceitos base de liderança a quase todos.

Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

www.puramenteonline.org

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sexy Convém?

A última década e meia foi fértil em novos formatos de comércio integrado. Centros comerciais, retail parks e outlet centers foram nascendo pelo país, em particular nas zonas suburbanas que circundam as duas maiores metrópoles. Esse movimento está na fase de maturação, com os próximos anos a trazerem pouco mais do que novas unidades de pequena e média dimensão em cidades que são precisamente de pequena e média dimensão. Esta é, desde logo, uma incontornável mas quase invisível vantagem que resulta da actual crise: aumento de sustentabilidade da oferta existente no médio prazo.
Incontornável é também que os portugueses, como quase todos os povos civilizados, não gostam de centros comerciais. Não gostam, mas compram. Desprezam, mas usam. O curioso é que muitos deles começaram por dizer que não gostavam “de ir ao centro comercial” por pressão social dos seus círculos, mas acabaram por verdadeiramente não gostar da experiência de comprar nesses espaços, e muito menos elegê-lo como destino de lazer.
No extremo oposto, a baixa do Porto está ao rubro, com noites loucas de milhares de pessoas na rua, parques de estacionamento que transbordam, bares a abrir a cada semana, restaurantes a multiplicarem-se, festas a sucederem-se. A baixa está trendy. Está sexy.
Os centros comerciais não são sexy, mas são outra coisa que hoje ainda vale mais : são convenientes. Boa oferta, estacionamento, segurança, limpeza, ou seja uma proposta que racionalmente aumenta o risco de satisfação, embora também de previsibilidade.
A questão que sobra é: Até quando o conveniente convém mais do que o sexy?

"Stop loss" (*)

Na bolsa, a longevidade e o sucesso dos investidores não depende necessariamente do número de vezes em que se acerta. Mais importante do que a taxa de acerto é a diferença entre aquilo que se ganha quando se acerta e aquilo que se perde quando se falha. Ou seja, o valor esperado da estratégia de transacção. Ao mesmo tempo, a evidência mostra que, na bolsa, uma taxa de acerto igual ou superior a 60% é considerada muito boa, resultando daqui que, em média, qualquer investidor acertará e falhará um número aproximadamente igual de vezes. Portanto, para que o valor esperado seja positivo, a perda média não deverá ser superior ao ganho médio. Infelizmente, a natureza humana equipou-nos muito mal neste domínio! Por um lado, a maioria das pessoas não está disposta a admitir que, em média, acerta e falha de forma quase indiferenciada. Por outro lado, em geral, a natureza humana revela-se muito intolerante com os ganhos, tomando mais valias de forma relativamente prematura, e muitíssimo tolerante com as perdas, permitindo a acumulação de menos valias. Isto não acontece apenas na bolsa; também acontece nas empresas. Nas boas – distribuindo recompensas demasiado generosas em épocas de vacas gordas. E nas más – adiando, em tempo útil, a inadiável liquidação dessas mesmas sociedades. O caso que afecta o BPN é um claro exemplo deste tipo de conduta. Desde a sua nacionalização, o Estado português já lá meteu quase 2,5 mil milhões de euros que, provavelmente, nunca mais recuperará. E, desgraçadamente, não há fim à vista. Não há “stop loss”. (*) Artigo publicado no jornal “Meia Hora” a 3 de Junho de 2009.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Janela 80-20

No estudo que realizou, em 1897, sobre a distribuição dos rendimentos, Vilfredo Pareto chegou à conclusão que 80% da riqueza se concentrava em 20% da população. Nos anos de 1940, Joseph Juran, um dos “pais” da Gestão da Qualidade, alargou o princípio de Pareto a esta área de trabalho, com particular ênfase na relação entre os problemas observados e as respectivas causas. Concluiu Juran que, também aqui, se verificava a relação 80-20 e, em homenagem ao engenheiro e economista italiano, estabeleceu a conhecida “Lei de Pareto”. Nos 160 anos que medeiam entre o nascimento de Pareto (1848) e a morte de Juran (2008) a sociedade experimentou profundas transformações. A esperança média de vida situa-se actualmente no patamar dos 80 anos. Em Portugal coexistem dois fenómenos preocupantes, que tendem a tornar-se estruturais: i) a dificuldade em encontrar trabalho para os que chegam a este mercado, que se estendem por vezes até aos 30/35 anos; ii) a falta de oportunidades para as pessoas que chegam à faixa dos 50/55 anos. Verificamos, pois, que o período potencial de aproveitamento da capacidade profissional das pessoas se restringe a uma janela de cerca de 20 anos, num horizonte de vida de 80 anos. São poucos anos a produzir e muitos a consumir. Os problemas de índole social que emergem desta janela tão estreita já estão aí, por exemplo nos elevados índices de stress com que vivemos ou nas dificuldades de sustentabilidade da Segurança Social. A Lei de Pareto aplica-se a muitas situações. Será que estamos em presença de mais uma?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Safety car

Gosto da perspectiva revelada ao olhar o actual momento da economia mundial como o da entrada em pista do “safety car”– embora condicionada, a corrida continua. Este elemento (a crise), impondo uma velocidade mais lenta e concentrando os competidores, faz ver uma (nova) oportunidade.
Assim, quando as empresas questionam o que fazer neste interregno, encontram resposta: preparem-se para uma nova aceleração. Como? Assumindo uma clara orientação para o mercado, através de dois grandes desafios: reduzir o “time-to-market” e melhorar o acesso a mercados.
Desenvolver empresas ágeis, com menos gordura (combate feroz ao desperdício) e mais massa muscular (capacidade de resposta); ou seja, melhorar as competências internas críticas (concepção, logística, serviço, etc.) para uma rápida e eficaz resposta ao mercado. Se há tendência que está consolidada é esta compressão do tempo.
Aprender a usar a informação para o sucesso de estratégias internacionais. Demasiado penduradas no “velho Mundo”, precisam apostar mais em mercados emergentes, como seja o Norte de África pacífico, a Europa Central e Oriental ou o Próximo e Médio Oriente. Que oportunidades conhecem nestes mercados? Quais os factores críticos de sucesso? Podem estar preparadas para aí competir?
As empresas vivem tempos duros mas óptimos para quebrar mitos. Mais do que subserviência a subsídios, é necessária resiliência, para os próximos meses, e audácia com trabalho duro – apostando na criatividade, no conhecimento, na inovação, na cooperação – para desenhar o futuro.
Publicado no Jornal Meia-Hora em 01-Jun-09.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

PuraMente #19 - A Lógica Oculta da Vida

Nome: A Lógica Oculta da Vida
Autor: Tim Harford
Data (Original): Janeiro 2008
Frase:”Quando o preço das bebidas aumenta, os alcoólicos são aqueles que mais reduzem o consumo de bebida”
Keywords: Economia; Lógica; Racional; Motivação; Incentivo; Ponto Focal; Externalidade; Sexo Oral
Apreciaçao: ****
O autor do “Economista Disfarçado” volta com mais uma obra no mesmíssimo estilo - princípios económicos elementares aplicados aos exemplos do dia a dia, com conclusões curiosas, que abrem uma perspectiva muito própria sobre temas tão diversos como o racismo, os salários de gestores de topo, o divórcio ou o sexo oral.
A obra, que poderia num plano mais imediato ser referenciada de “ensaio de economia para leigos”, tem o dom de chamar modelos teóricos e estudos estatísticos, explicar buzzwords da nova geração, e citar directa ou indirectamente outros livros que gravitam à volta de assuntos comuns, como “Freakanomics” ou “O Mundo é Plano”.
A ideia que suporta este livro do já famoso colunista do Financial Times é a percepção da lógica, frequentemente oculta, que sustenta o comportamento humano, incluindo aquele que é efectuado a comando do inconsciente – o que estimula uma nova perspectiva da racionalidade, eixo central da economia na visão deste autor.
Publicado em português pela Editorial Presença em Setembro 2008, este manual de “economia racional” investe na explicação das lógicas escondidas atrás de uma série de diferentes situações, em alguns casos quase axiomaticamente aceites, demonstrando com estes exemplos que há uma economia lógica em cada situação, mesmo quando não parece. Um livro destinado a todos, pela fascinante e explosiva mistura de humor com seriedade no tratamento de assuntos vulgares, absoluta simplicidade na prosa e universalidade das causas e efeitos estudados.
Embora menos inovador do que o genial “Economista Disfarçado”, esta edição encontra-se limite do obrigatório aos que ambicionem compreender com maior transparência a razão de ser do mundo que os rodeia.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Harvard Trends #6 - Brain Outsourcing

A mais importante escola de negócios do mundo tem debatido crescentemente um assunto relacionado com as funções centrais de cada empresa. Ao longo das últimas décadas e depois da fase da verticalização, tornou-se um standard de mercado o outsourcing de um conjunto de funções que permitiu ganhar em competitividade e eficácia.
A questão que hoje se debate é se a tomada de decisões deve ser colocada em outsourcing. O tema, denominado nos Class Forum de “Brain Outsourcing”, levanta sérias dúvidas, nomeadamente porque põe em causa do domínio do core. Os primeiros ensaios, com empresas especializadas em Business Analysis & Decision Taking que operam maioritariamente na India, revelarem resultados muito bons. A questão é polémica, porque existe um quase consenso sobre o principio de domínio das actividades core por parte das empresas.
Os entusiastas deste tipo de subcontratação alegam que a tomada de decisão pode não ser a actividade core da empresa, argumento não aceite pelos resistentes, que refutam com base na importância da decisão em qualquer processo da alta-estratégia. A discussão prossegue…

Let´s get physical

Um dos chavões mais repetidos nos últimos meses é que o "vinil irá salvar a indústria discográfica". Isto porque tem sido enorme o crescimento percentual que se tem registado na venda de música neste formato, em alguns casos a ultrapassar os mil por cento. Esses números dizem pouco em termos concretos - afinal de contas, um aumento de 25000% sobre 1 são apenas mais 250 discos, mas há outras leituras a fazer.
A música é actualmente consumida quase exclusivamente no formato digital - desde os omnipresentes leitores de MP3 portáteis e computadores até às aparelhagens ou auto-rádios capazes de reproduzir música a partir de uma memória usb. Este formato tem diversas vantagens sobre os restantes, mas não inclui algo que os CDs ainda oferecem - a componente física. O objecto de suporte desapareceu.
Hoje a tendência é que quem compra "discos", fá-lo mais pelo objecto em si e não pela música, que provavelmente já conhece bem. Ou seja, o formato sonoro do objecto acaba por ser irrelevante, já que a música irá ser sempre ouvida a partir do formato mais conveniente para o consumidor. É por isso que algumas editoras oferecem o álbum em formato digital na compra do vinil. Note-se que do ponto de vista financeiro, comprar um álbum digital e não comprar o álbum "físico" não traz grandes vantagens, excepto para os consumidores de singles ou de quantidades industriais de música que consigam fazer grandes poupanças com os poucos euros de diferença entre os dois formatos.
O potencial do formato físico deve ser aproveitado para oferecer mais que "música numa rodela". Tornar o próprio formato parte da experiência de ouvir a música pode ser uma das soluções para aumentar as vendas.
Luís Silva, crítico musical
Publicado no jornal Meia Hora a 27 de Maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

Puramente #18 - Competitive Intelligence

Nome: Competitive Intelligence
Autor: Rob Duncan
Data Original: Junho 2008
Frase: "Agile time frames are measured in weeks and moths, not years"
Keywords: Competitive Intelligence; CI Matrix; KISS; Consistent; Getting Info; Ethics; Fast & Cheap;
Apreciação: ***
Este não parece ser um livro para todos, antes para um nicho de gestores nas áreas de Marketing ou Research que se dedicam a recolher e trabalhar informação como está o mercado, nomeadamente os concorrentes ou potenciais concorrentes. Este não parece ser um livro para todos. Mas é.
Trata-se de uma obra de rápida leitura, com pouco mais de 100 páginas escritas de uma forma directa e muito prática, sem poesias ou exageradas deambulações sobre sub-temas. O assunto é o estudo da inteligência competitiva, um processo de recolha, análise e gestão de informações externas, mas que podem influenciar de forma importante os negócios da empresa.
Ao contrário de outros registos sobre este tema, Duncan prefere uma abordagem directa, onde explica porque a IC tem necessariamente de ser realizada de forma célere, barata e ética, esclarecendo de forma assertiva as habituais confusões sobre espionagem e delimitando valiosas fronteiras.
A lógica deste livro assenta nas características necessárias à prática da IC, que se dividem entre core skills e applied skills, com uma bem estruturada dissertação sobre cada uma, com enfoque nos factores potenciadores de uma comunicação eficaz. O autor ora aposta na explicação dos factores críticos, ora delata técnicas essenciais à recolha de informação relevante de forma prática, eficiente e sobretudo sustentável.
Competitive Intelligence pode ser lido por todos, porque a todos diz respeito – mas tem especial prescrição para os que actuam profissionalmente nesta área. Por outro lado, constitui uma óptima oportunidade para ler sobre novas buzzwords, como executive profiling, hourglasses, blogpulsing ou elicitations.

Porque sobe o preço do petróleo?



Os preços do petróleo subiram cerca de 75% desde os mínimos no final de 2008. É de esperar que o preço esteja correlacionado com os níveis de actividade económica e pode parecer estranho que os preços subam num contexto de crise. Qual o motivo da subida?

Do lado da oferta não se pode falar de uma escassez de petróleo, mas nota-se que os membros da OPEP estão a agir de forma mais concertada.

É na procura que se encontram as causas. A procura "física" de petróleo não está ainda a aumentar, excepção feita aos reforços de reservas estratégicas de alguns países. Já a procura para investimento tem aumentado consideravelmente. É habitual que os mercados antecipem os ciclos económicos, pelo que esta procura por investidores é sinal de confiança. Há outros factores, mais interessantes. Receia-se uma espiral inflacionista no futuro, provocada pelas injecções de liquidez feitas pelos bancos centrais e pelos planos de intervenção dos governos. Compra-se petróleo para cobrir o risco de inflação já que se os preços subirem, o petróleo tenderá a subir mais. O dólar poderá desvalorizar mais, o que também atrai compradores às matérias-primas. Em resumo, a subida é mais suportada no investimento que na procura "física".

Investir em petróleo é possível em várias formas: contratos de futuros e equiparados, fundos, índices e acções do sector. Mas é pouco sensato que um investidor não experimentado entre no mercado sem aconselhamento adequado. Não que a sua opinião seja pior que a dos "experts", mas porque são instrumentos financeiros com complexidade, em que é simples perder-se muito dinheiro sem se saber muito bem porquê.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Meia Hora em 26 de Maio de 2009

 

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A nossa neve


A modalidade de Golfe lidera a nível mundial em número de praticantes Federados, e o prazer que esta prática induz espalha-se pelo Globo, movimentando enormes receitas ao nível do turismo. Portugal, e a zona do Algarve em particular, reúne condições fantásticas para a prática desta modalidade, a nível do clima, em número de campos e infra-estruturas turísticas de apoio aos jogadores, conseguindo captar praticantes de todo o mundo ao longo de todo o ano. No Centro e Norte do país, onde aliás existem dois dos campos mais antigos da Europa, o Oporto e o Lisbon, a modalidade tem vindo a crescer mais lentamente dado o menor fluxo de turistas, contudo surgem iniciativas e projectos para o desenvolvimento sustentado desta modalidade, pese embora muito dependente de grandes projectos imobiliários, cujos impactos ambientais tem sido desde sempre uma preocupação do Ministério do Ambiente.

A recente publicação de normas ambientais para o planeamento, projecto, construção e exploração dos campos de golfe, vem ajudar a desmistificar a ideia de que o Golfe é inimigo do ambiente. Na realidade, é a prática desportiva que mais interage com o ambiente e que se preocupa cada vez mais com estas questões, com relevância no crescimento do mercado europeu de golfe, estimado em 1 milhão de viagens por ano (motivação primária) e prevendo-se uma duplicação deste valor até 2015.

A nova visão do Golfe que se tem vindo a sentir por parte dos organismos e entidades em matéria de ambiente, tem assim contribuído para que o golfe se afirme cada vez mais como um sector estratégico da economia nacional que, bem dinamizado, poderá representar para um futuro não muito longínquo, o que a neve representa para a receita turística de muitos países europeus.

Pedro Sequeira

Será que pega?



Há décadas que se fala dos automóveis eléctricos como os “carros do futuro”. Durante muito tempo nada aconteceu de relevante para além do sucesso relativo dos veículos híbridos, mas que são dependentes do motor de combustão. O panorama do sector poderá sofrer uma alteração significativa, primeiro com a introdução de veículos com sistema paralelo (desenhados para um funcionamento com motor eléctrico e com a combustão como suporte) e depois com o aparecimento de carros 100% eléctricos. A duração das baterias tem constituído um obstáculo lógico, mas a tecnologia está a evoluir.

Um dos sinais de que um produto poderá singrar é o tipo de investidores que nele aposta. Warren Buffet adquiriu no Outono passado 10% da BYD por 230 milhões de dólares. Esta empresa chinesa de automóveis eléctricos obrigou-o a abandonar um dos seus princípios - conhecer bem o negócio. No entanto, entendeu que estava perante uma enorme oportunidade, num sector que ainda é estranho para a maioria.

Esta semana, os Estados Unidos aprovaram novos e ambiciosos limites para as emissões de gases por veículos automóveis. A lei, a responsabilidade ambiental e a moda tenderão a ajudar o carro eléctrico a conquistar mercado, logo que as performances e autonomia sejam aceitáveis.

A indústria tem resistido a desenvolver o mercado, dado que parte importante das receitas advém da manutenção e não da venda dos veículos. Sabe-se que os motores eléctricos necessitam menos de manutenção, pelo que há uma ameaça ao modelo de negócio. Porém, há a consciência por parte dos construtores da oportunidade “única” na renovação global do parque automóvel, em que o first mover será muito premiado.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Meia Hora de 22 de Maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Harvard Trends #7 - Crédito Peer to Peer

Tendência emergente: Crédito peer-to-peer – directamente entre duas pessoas ou entidades, sem intervenção de entidades financeiras. As vantagens são o acesso a taxas mais baixas e menor exposição a factores macroeconómicos no decurso das operações. A dificuldade situa-se no campo da legalidade e da gestão de confiança dos parceiros, ou em substituição deste factor, a caução/fiança/aval. É neste ponto que entra, como grande novidade, o factor de redes sociais alavancadas com o mercado Web. Numa dinâmica que pode vir a ser o grande suporte de redes como o Linkedin, The Star Tracker, Hi5 ou Facebook no futuro, este tipo de negócios alimentará das redes sociais as garantias necessárias (reputação, endorsements, fianças).
O Google estará certamente atento a esta oportunidade, que se adequa ao core de competências da empresa: capacidade de construir um sistema de ratings pessoais (como fez nas páginas), ligadas aos sistemas de informação locais, redes de contactos, Google Checkout, Froogle, etc com algoritmos de pontuações e referências capazes de mudar em tempo real, evitando fraudes. Neste novo futuro, o Google & Companhia serão os concorrentes da banca tradicional.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Período de Lazer - Importante em Época de Crise

É evidente a relevância do período de lazer para a Economia, pois entre outros contributos, origina muitos actos de consumo, networking e permite o equilíbrio Trabalho vs. Vida Pessoal. Um bom conhecimento sobre o comportamento social e as preferências dos consumidores na ocupação dos tempos livres; potencia a geração de oportunidades de negócio e/ou ajustamentos em produtos e serviços já existentes. Foi recentemente publicado o estudo da OCDE “Society at a Glance 2009” onde são analisadas as tendências sociais dos seus Países. É dedicado um capítulo ao tema “Período de Lazer” que, infelizmente, não contém informação sobre Portugal; impossibilitando análises comparativas com outros Países e, por consequência, maior dificuldade na identificação de eventuais oportunidades. È certo que um estudo deste género não é suficiente para a tomada de decisões empresariais inerentes à exportação; contudo constitui uma base para a abordagem ao tema. Saliento, alguma informação sobre Países relevantes para as exportações portuguesas, como a dominância que tem “Ver Televisão” nos EUA e no Reino Unido, por oposição à França, Espanha e Alemanha, onde dominam as “Outras Actividades de Lazer” (net, hobbies, etc.) e também a relevante actividade de “Participar ou Assistir a Eventos” na Alemanha, Reino Unido e Espanha; onde também o “Desporto” apresenta considerável preferência. Seria desejável que Portugal começasse a produzir este tipo de informação, com carácter sistemático e com base comparável. Para mais informações sobre o estudo, consultar: http://www.oecd.org/document/24/0,3343,en_2649_34637_2671576_1_1_1_1,00.html#press
António Jorge Consultor em Estratégia, Marketing e Vendas (ant.jorge@netcabo.pt) Publicado no jornal “Meia Hora” a 19Mai09

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Último Tango

Os EUA e China constituem um par de dançarinos notável: Então vejamos, um consome o outro produz que é o mesmo que dizer que um gasta e o outro poupa. Um desenvolve, conceptualiza, o outro copia e implementa.
A Balança de Pagamentos dos EUA é equilibrada pela China que além de comprar activos Americanos, também suporta a dívida externa dos EUA através da compra de títulos de tesouro. Assim permite que o Americano viva acima das suas possibilidades, aumentando o seu poder de compra de bens e serviços Chineses. As empresas dos EUA também beneficiam do capital extra disponível para poderem efectuar os seus investimentos que frequentemente acabam por incorporar uma rubrica Made In China. O Sistema Financeiro dos EUA, o mais evoluído do Globo vê-se com milhões a chover o que permite desenvolver produtos financeiros de tal sofisticação e criatividade que fazem o Sr. Lavoisier mexer‑se na tumba, contribuindo para que a amplificação da actividade económica dos EUA entre em ressonância. Aos Americanos cabe-lhes policiar o mundo, intervindo aqui e acolá com a colossal máquina de guerra paga pelo Chineses.
Esta generosidade, favorecendo a compra Made In China, aumenta o excedente Chinês que se vê impelido a emprestar novamente aos EUA. Os Americanos, deverão sentir-se anestesiados. É viciante!
A divida Norte Americana é em dólares. Se os EUA entenderem desvalorizar a moeda, essa mingaria de tal forma que todo o sistema financeiro mundial robusto ruiria. Aos Chineses resta-lhes continuar a suportá-la, no curto e médio prazo porque a longo prazo a balança tende para oriente.
Publicado no jornal Meia Hora em 20 de Maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Primeiro Aniversário

Foi há um ano que surgiu este espaço, que decidimos baptizar de Mercado Puro.

Os 6 fundadores continuam hoje a escrever regularmente neste espaço, onde se privilegiam intervenções pensadas e centradas não tanto em opiniões momentâneas, mas em conteúdos "de fundo".

Num ano e mais de 250 intervenções, das quais 220 publicadas em jornais nacionais, o Mercado Puro parece ter vindo para ficar. Hoje, está ligado a vários jornais - Meia Hora, Jornal de Negócios e Vida Económica como mais regulares - que publicam em primeira mão estas colaborações de cerca de 40 autores diferentes. Mas é sobretudo ao Sérgio Coimbra que queremos agradecer, por ter acreditado na fiabilidade e potencial do projecto desde o primeiro dia.

Vários textos do Mercado Puro são hoje publicados em órgãos de comunicação de referência em países como Moçambique ou Cabo Verde e muitas outras novidades estão a ser preparadas, sempre com este posicionamento 100% livre, desligado de interesses de quaisquer natureza que não sejam a discussão de temas que entendemos de importância.

As últimas e mais importantes palavras ficam para os incansáveis autores que fazem do Mercado Puro o espaço que é hoje. O tempo vai passando, a memória fica e não há como vos agradecer.

Filipe Garcia e Pedro Barbosa

Domingos rotativos

Discutido vezes sem conta, o assunto da abertura das grandes superfícies aos Domingos e feriados já atingiu um estado de quase-consenso entre economistas e gestores do país. Provado que está que a medida gera mais emprego para o país e é catalizadora de aceleração da competitividade que tão fundamental é para o país no contexto internacional, o Governo continua a travar a liberalização, por motivos de natureza politica. À semelhança do que se passa com os impostos Robin Hood, são medidas que evitam o progresso, em nome da satisfação relativa da esquerda, que neste âmbito lidera a demagogia nacional, introduzindo temas fantasma como “protecção do comércio tradicional” .
Os variadíssimos estudos sobre esta matéria são claros : a abertura aos Domingos não prejudicam o comércio tradicional, até porque hoje existem centenas de supermercados abertos ao Domingo, para não falar dos centros comerciais. Se havia danos colaterais, eles estão absorvidos.
Nesta altura de crise de emprego, a abertura do comércio ao Domingo permitiria insuflar na economia milhares de novos postos de trabalho, combatendo o mais complicado problema de 2009 : o emprego.
No entanto, e se o Governo português não tiver a coragem politica para tomar esta iniciativa, sugere-se a introdução de fechos rotativos, ou seja, da obrigatoriedade de fecho um dia (neste caso em todas as lojas e não só nas que têm mais de 2.000m2), escolhendo cada operador qual o dia da semana que optar por permanecer fechado. Desta forma gera-se mais emprego, beneficia-se os clientes finais e os impactos no comércio tradicional são fortemente positivos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Portugal dá prejuízo



É indiscutível que há regiões do país que não são rentáveis. Dão prejuízo. Basta olhar para o investimento em infraestruturas em algumas cidades ou regiões e concluir que nunca serão auto-sustentáveis. Talvez seja inevitável, mas é uma situação que as torna dependentes do resto do país e do poder central.

Portugal, no seu todo, não é diferente. Se enquadramos o país no contexto europeu, percebe-se que é para a Europa o que as tais regiões "deficitárias" são para Portugal. A conclusão não poderá ser outra - Portugal é dependente do "centro" da União Europeia.

Evita-se falar do saldo da balança comercial. É como lixo atirado para debaixo do tapete. E sabemos que o lixo continua a acumular, mas o tapete vai dando para receber as visitas e ignora-se o problema. Analisando os números do comércio internacional de Dezembro a Fevereiro verifica-se que o défice comercial com os países fora da UE é de 617 milhões de euros. Parece muito, mas nem é tanto. É comportável e até diminuiu, por força da crise económica. Mas face aos países da UE o saldo negativo manteve-se quase inalterado nos 3.75 mil milhões de euros (6 vezes mais do que com o resto do mundo). Esta sim, é uma situação insustentável.

Como não se perspectivam alterações estruturais, é de esperar uma cada vez maior dependência económica face aos países que nos financiam. Com a dependência económica virá, inexoravelmente, a dependência política.

E seja com um federalismo formal ou virtual, Portugal será cada vez mais uma mera província da Europa. Uma "região autónoma" que dá prejuízo.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Meia Hora em 15 de Maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Finalmente a Cultura?

Foto: Luís Ferreira

Vencidos os programas infra-estruturais; completadas as mais marcantes necessidades de equipamentos sociais; esgotadas as grandes verbas para arranjos urbanísticos; é tempo das cidades pensarem e decidirem o seu futuro – como e onde se querem posicionar na disputa pela qualidade de vida dos cidadãos.

Já não basta ter largos passeios enquadrados por modernos edifícios com esplêndidas vistas. À nova cidade exige-se mais: inconformismo, irreverência, pluralismo. Que seja lugar pleno, onde o talento possa encontrar a criatividade.

Assim, queria que a próxima equipa a liderar a minha cidade fosse capaz de nos desafiar para respondermos juntos à mais elementar das questões: que valores vamos promover na nossa cidade nos próximos 4 anos? Desde o início, onde a visão vem muito antes das políticas (as opções), importa debater: como vamos redesenhar este espaço-tempo para que seja mais e melhor para todos? Como queremos que a nossa qualidade de vida se desenvolva? Depois, para além do conformismo e do impossível, será importante a capacidade de concretizar estratégias inovadoras, arrojadas e desafiantes.

Como alterar a cultura da nossa cidade? – Este seria um bom mote para o debate público (que também pode ser político) que se avizinha. Esta mudança só pode ser feita através de comunicação implicativa, que demanda relação e transparência; exige informação clara e directa; e constante envolvimento dos cidadãos, co-responsabilizando-os nas decisões, nas escolhas, enfim, na construção do futuro colectivo.

Publicado no Jornal "Meia-Hora" em 12-Mai-09.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

PuraMente #17 - Tribos



Nome: Tribos - Precisamos de um líder

Autor: Seth Godin

Data: Outubro de 2008 - Lua de Papel

Frase: "Ideias que se propagam, vencem"

Palavras Chave: Mudança; Iniciativa; Líder vs Gestor; Comunicação; Envolvimento; Status quo; Medo;

Apreciação: ***


Seth Godin é um fenómeno da geração web. Considerado o blogger mais influente do mundo, é o autor de alguns dos livros de marketing mais vendidos de sempre e tem uma enorme legião de seguidores. É um líder e tem a sua tribo.

"Tribos" fala sobre aquela que é considerada a forma de marketing e comunicação mais poderosa - a liderança - e de como qualquer um de nós se pode tornar líder, criando movimentos que interessem às pessoas. O livro gerou um "buzz" instantâneo ao mostrar que temos mesmo o poder e a capacidade de promover a mudança. O autor defende que todos desejam identificar-se com uma ideia, uma tarefa ou um objectivo e que, por isso, precisam de ser lideradas. Ou seja, queremos algo de novo, queremos mudança, mas o papel de cada um pode variar entre a liderança, a simples adesão ou a indiferença.

A primeira surpresa do livro é que não tem, aparentemente, uma estrutura organizada. Não há uma introdução, capítulos, conclusão ou um índice, o que concretiza a vontade de o autor em quebrar com o status quo, algo que nos acompanha ao longo de "Tribos". As ideias são passadas através de pequenos textos, muitas vezes independentes entre si. Isso permite que a qualquer momento se folheie o livro e se leia um par desses textos, o que é uma vantagem e se enquadra na tendência actual de passar mensagens de forma rápida, directa e acessível. Os textos oscilam quase sempre entre as ideias de tribo, liderança, promoção da mudança e motivação para a acção.

Seth Godin explica que "liderar não é gerir", sendo muito crítico relativamente aos gestores. Liderar é criar a mudança em que se acredita, enquanto que gerir é a mera manipulação de recursos para se fazer um trabalho que já se sabe. Gerir não provoca mudança: pelo contrário, promove uma estabilidade que o autor considera ilusória.

O livro é de leitura simples e rápida, embora seja algo repetitivo. Não será essencial para todos, mas ajudará a entender melhor este conceito de "tribo" e poderá servir de elemento motivacional para os leitores.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

www.puramenteonline.org



domingo, 10 de maio de 2009

Harvard Trends #6 - Quickwins

Num mercado em que os gestores são limitados pela pressão de resultados trimestrais, tornou-se habitual em lideres novos a procura de quickwins – programas que procuram resultados imediatos – como forma de afirmação pessoal. Grande parte destas iniciativas revelam-se contudo precipitadas e culminam em resultados decepcionantes.
Estudos em Harvard sugerem a existência de 5 tipos de armadilhas nos quickwins: demasiado enfoque nos detalhes (principal), reacção excessiva ao criticismo, conclusões precipitadas e gestão excessivamente directa dos colaboradores mais próximos. Mesmo quando os resultados são atingidos, os recursos dispendidos são excessivos e a capacidade de liderar está comprometida.
Em vez de se procurarem afirmar pessoalmente, os novos líderes devem centrar-se em em quickwins colectivos - envolvendo grupos de trabalho motivados por objectivos comuns e recompensas partilhadas, em projectos que conjuguem valor, exequibilidade, e aportação mútua - ou em estratégias duradouras : programas estruturais e com visão de longo prazo com resultados finais mais eficazes. Saber gerir a informação trimestral torna-se assim competência de crescente importância.

PuraMente #16- The Future of Management



Nome: The Future of Management

Autor: Gary Hamel

Data (Original): Dezembro 2007

Frase: ”Management is out of date”

Keywords: Management Innovation; Management DNA disruption; Reinvent; Adaptability; Change;Discipline & Freedom;New Management S-Curve

Apreciação: *****

Gary Hamel pertencia à shortlist dos melhores teorizadores de estratégia e gestão do mundo antes
deste livro. Hoje, O professor da reputada London Business School tornou-se absolutamente incontornável, tanto em MBA´s como no top executive mindset das mais importantes empresas do planeta. Este é talvez o melhor elogio ao “Future of Management”.

O livro começa precisamente por dizer que a gestão actual está ultrapassada e que não serve para o futuro. O autor estabelece que, depois de anos a optimizar a eficiência operacional, as empresas devem agora centrar-se na eficiência estratégica, cujo impacto é importante para o presente e determinante para o futuro. Hamel é claro quando refere que a obra não tem a presunção de partilhar uma visão com os leitores, antes de ajudar os gestores a inventar o futuro. Da inspiração à realidade, o autor conduz os leitores por técnicas e tácticas, estratégias e teorias, sempre personalizadas com exemplos reais, descritos com o detalhe que um livro destes merece.

O livro está organizado em quatro partes, que explicam a razão e acção da Gestão da Inovação e exploram a imaginação e construção de um futuro sustentável reinventado por gestores que apostam na mudança disruptiva do modelo. O autor centra parte importante do livro a como se manter enfocado no negócio de hoje enquanto se constrói o de amanhã, um contributo fundamental para estar na linha da frente do processo de adaptação organizacional. Hamel assegura que a “tecnologia da gestão” será reinventada e que esta é a oportunidade de ser magnânimo: o modelo do século 21 estará assente em honra, iniciativa, criatividade e paixão.

As 255 páginas desta obra são de uma densidade insolúvel e obrigam a um relevante esforço de concentração. O payoff compensa.

Pedro Barbosa
www.puramenteonline.com

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Iniquidades (*)

Nas últimas semanas, a discussão em redor dos salários voltou à berlinda. Depois da desajustada revisão salarial na Função Pública, em alta, apesar da terrível conjuntura económica, aguardava-se para este primeiro semestre de 2009 a reacção do sector privado. Embora os dados sejam ainda parcos, a evidência parece apontar para a estagnação, na melhor hipótese, ou até para a redução do nível geral dos salários, a par do aumento do desemprego. O fenómeno é mundial, embora a economia portuguesa seja das mais débeis de toda a Europa. De resto, alguns sinais deste fenómeno já vêm de 2008 – pelo menos, no sector privado. De acordo com dados publicados pelo Jornal de Negócios, no ano passado, entre as 20 empresas cotadas no PSI20, em 8 destas registou-se uma redução do salário dos trabalhadores (administração excluída). Em média, um decréscimo de 8%. E entre os salários dos administradores, o corte foi ainda mais severo: quase 30%. Apesar de tudo, não o suficiente para reduzir o fosso entre salários médios dos administradores e dos restantes colaboradores que, agora, se situa em 22 vezes mais. Este valor, infelizmente, ainda é superior à média europeia, que aponta para uma diferença de apenas 15 vezes mais. Assim, a bem da paz social, as próximas reduções salariais devem voltar a repercutir-se mais do que proporcionalmente entre os administradores e não entre as hierarquias inferiores. É que a falta de produtividade ou os elevados custos unitários do trabalho não resultam apenas da baixa qualificação dos nossos trabalhadores. Decorrem também destas iniquidades. (*) Artigo publicado no jornal Meia Hora a 8/05/2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Crime e Castigo



A evolução do emprego é preocupante, mas nada acontece por acaso. As tendências no mercado de trabalho são o "castigo"  para uma economia que não soube ou não quis flexibilizar as regras em tempo útil. Cometeu-se um "crime".

Em economia, tudo é uma questão de tempo. Era necessário reduzir a rigidez do mercado e dos custos associados à criação de emprego. Não aconteceu “a bem”, mudando a legislação numa conjuntura mais favorável a acomodar os efeitos negativos. Acontece agora “a mal”, com as empresas a procederem aos acertos necessários ou, pior, a cortes irremediáveis que acompanham o seu processo de falência.
 
Há três tendências a notar: o desemprego, o outsourcing laboral e o subemprego. Do desemprego muito se fala, mas há outros fenómenos que merecem atenção. As empresas estão a deixar de contratar, recorrendo a empresas de trabalho temporário. Através deste outsourcing flexibilizam a mão-de-obra e o trabalhador é pago a “recibos verdes”. Mais grave é a situação de subemprego. Há cada vez mais trabalhadores a receber em dinheiro vivo, salários baixos, que acumulam ao subsídio de desemprego. Sabe-se de empresas que despedem os funcionários, voltando a “contratá-los” com total informalidade. Perde o Estado e perde o trabalhador.

Enquanto não se compreender que flexibilizar dá sustentabilidade ao mercado do trabalho e que as as medidas proteccionistas implicarão mais emprego precário, continuaremos a ter períodos de ineficiência seguidos de desemprego, subemprego, outsourcing e economia informal. Não será por acaso que as receitas do IVA desceram muito mais do que o PIB.

É o castigo.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Publicado no jornal Meia Hora em 6 de Maio de 2009


segunda-feira, 4 de maio de 2009

As Novas Gestapo

14 de Abril, voo Ryanair de Girona para o Porto. Assisto com espanto uma discussão entre clientes e tripulação, em que os segundos literalmente gritam aos primeiros, sem o mínimo de educação e saber estar, independente do juízo de valor sobre razão. Três dias depois, Porto-Madrid com a mesma companhia. Um membro da tripulação irlandesa – Oliver - avisou os passageiros que só se podiam sentar a partir da fila 7, num tom assertivo.
Os passageiros, que se assemelhavam mais a gado transportado do que clientes de uma companhia aérea, seguiram as ordens. Vários sentaram-se nas últimas filas, mas foram levantados pelo mesmo membro da tripulação, que decidiu depois que "depois da fila 21" também ninguém se sentava. Naturalmente, os passageiros protestavam, mas Oliver não vacilava, referindo que eram eles que deviam ter procurado "ficar todos juntos" no centro do avião (!) advertindo num tom jocoso e espanhol macarrónico : "quem não cumprir fica em terra".
É como a odiosa Gestapo : chegaria a ter piada de tão comicamente pouco razoável se não fosse verdade. O que preocupa nestes exemplos é a tendência. À medida que as empresa têm tanto sucesso que se afirmam numa liderança imbatível, surgem os tiques de autoritarismo típicos de um regime monopolista e a tendência para degradação de condições, agora que os concorrentes têm diminuta expressão.
Para o caso das empresas que pretendem ganhar quotas de mercado abusadoras por aquisição de unidades concorrentes existe a AdC. E para as empresas de sucesso, como se pode evitar que ganhem tanto espaço que se transformem num ninho de vespas repleta de mini ditadores?

domingo, 3 de maio de 2009

As Crises e os seus Ciclos

Ao longo da nossa História ocorreram várias crises e apesar da actual - “bolha” imobiliária e de crédito nascida nos EUA em 2007/2008 - ainda não ter terminado, também já faz parte dos registos dessa História. Os mais incautos demonstram sempre uma grande surpresa pelo surgimento das crises, tentando encontrar rapidamente os seus responsáveis e as razões da sua origem, levando à exploração máxima da sua teorização e, consequentemente, à divulgação de estudos e opiniões que tentem ajudar a encontrar saídas para a crise, muitas vezes desmistificando-a para tentar criar uma “onda” de optimismo que, ajude a ultrapassar os obstáculos e detectar oportunidades.
Mas, olhando para um estudo da variação percentual do Índice S&P 500, http://wallstreetblips.dailyradar.com/story/total_returns_from_1825_to_2008/, http://pt.wikipedia.org/wiki/S&P_500 podemos constatar que dos últimos 184 anos 30% apresentam variações negativas, ou seja um total de 55 anos. Ainda com base na análise deste Índice, o ano de 2008 ficará para a história como um dos piores de sempre, apresentando uma variação negativa superior a 30%. Igual ou pior só mesmo os anos de 1931 e 1937, com variações negativas superiores a 40 e 30%, respectivamente.
As crises acompanham-nos portanto ao longo de décadas e a actual, só deve ser considerada uma surpresa pela dimensão com que se manifestou, havendo quem a compare a um misto da Grande Depressão (1929-1932) e do Choque Petrolífero (1970). Aliás, se compararmos as principais características destas duas crises com a actual, em todas elas tivemos crise, no crédito, uma “bolha” nas matérias-primas, um problema de inflação e um problema de deflação (ainda possível na actual crise). A incógnita que ainda permanece é a duração que esta recessão global vai durar, incerteza que perturba a apetência pelo risco por parte dos investidores.
Mas, apesar dos mercados do crédito ainda não estarem a funcionar normalmente, dificultando o financiamento da actividade económica, e o mercado habitacional dos EUA ainda não ter estabilizado, já se nota que os menos incautos (investidores bem informados) andam a aproveitar alguma tendência flat do mercado, assumindo maiores riscos e a melhorar os seus retornos.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Investimento ao Vento

Muito se tem discutido sobre o investimento em obras públicas no nosso país, quais os projectos prioritários, e o seu real contributo como catalisador da economia nacional. O governo anuncia avanços, mas nunca apresentou um plano global de investimento, nem tão pouco apresentou medidas que pudessem acelerar os processos de adjudicação. Outro grande desígnio nacional tem sido a aposta em energias renováveis, mas na área em que se prevêem impactos mais significativo, os parques eólicos off shore, nada se apresentou. E o que anda a fazer o resto da Europa a este respeito? Dois exemplos muito recentes podem ser apontados:
Os nossos vizinhos, à boleia de uma renovação ministerial, traçaram um plano para o investimento em infra-estruturas públicas de aproximadamente 20.000 milhões divididos por alta velocidade, rede ferroviária, estradas e aeroportos. Reduzirão prazos nas declarações de impacto ambiental e eliminarão obstáculos burocráticos na disponibilização das verbas. Quanto ao critério da distribuição geográfica dos investimentos, pressões políticas à parte, será o da criação de maior número de postos de trabalho. O Reino Unido acaba de anunciar um concurso público para instalar 25.000 (MW) de energia eólica marinha até 2020 (que ocupará cerca de 3.600 Km2 de mar). Em 2025 esta fonte de energia no mar gerará mais emprego do que a terrestre. O ano eleitoral vem baralhar o avanço de investimentos estruturantes no nosso país, mas não pode servir de desculpa. Porque na verdade, como em vários outros aspectos, basta saber olhar para os lados para não nos enganarmos muito no caminho. Publicado no Jornal Meia-hora em 28.04.2009