Um dos chavões mais repetidos nos últimos meses é que o "vinil irá salvar a indústria discográfica". Isto porque tem sido enorme o crescimento percentual que se tem registado na venda de música neste formato, em alguns casos a ultrapassar os mil por cento. Esses números dizem pouco em termos concretos - afinal de contas, um aumento de 25000% sobre 1 são apenas mais 250 discos, mas há outras leituras a fazer.
A música é actualmente consumida quase exclusivamente no formato digital - desde os omnipresentes leitores de MP3 portáteis e computadores até às aparelhagens ou auto-rádios capazes de reproduzir música a partir de uma memória usb. Este formato tem diversas vantagens sobre os restantes, mas não inclui algo que os CDs ainda oferecem - a componente física. O objecto de suporte desapareceu.
Hoje a tendência é que quem compra "discos", fá-lo mais pelo objecto em si e não pela música, que provavelmente já conhece bem. Ou seja, o formato sonoro do objecto acaba por ser irrelevante, já que a música irá ser sempre ouvida a partir do formato mais conveniente para o consumidor. É por isso que algumas editoras oferecem o álbum em formato digital na compra do vinil. Note-se que do ponto de vista financeiro, comprar um álbum digital e não comprar o álbum "físico" não traz grandes vantagens, excepto para os consumidores de singles ou de quantidades industriais de música que consigam fazer grandes poupanças com os poucos euros de diferença entre os dois formatos.
O potencial do formato físico deve ser aproveitado para oferecer mais que "música numa rodela". Tornar o próprio formato parte da experiência de ouvir a música pode ser uma das soluções para aumentar as vendas.
Luís Silva, crítico musical
Publicado no jornal Meia Hora a 27 de Maio de 2009
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