É indiscutível que há regiões do país que não são rentáveis. Dão prejuízo. Basta olhar para o investimento em infraestruturas em algumas cidades ou regiões e concluir que nunca serão auto-sustentáveis. Talvez seja inevitável, mas é uma situação que as torna dependentes do resto do país e do poder central.
Portugal, no seu todo, não é diferente. Se enquadramos o país no contexto europeu, percebe-se que é para a Europa o que as tais regiões "deficitárias" são para Portugal. A conclusão não poderá ser outra - Portugal é dependente do "centro" da União Europeia.
Evita-se falar do saldo da balança comercial. É como lixo atirado para debaixo do tapete. E sabemos que o lixo continua a acumular, mas o tapete vai dando para receber as visitas e ignora-se o problema. Analisando os números do comércio internacional de Dezembro a Fevereiro verifica-se que o défice comercial com os países fora da UE é de 617 milhões de euros. Parece muito, mas nem é tanto. É comportável e até diminuiu, por força da crise económica. Mas face aos países da UE o saldo negativo manteve-se quase inalterado nos 3.75 mil milhões de euros (6 vezes mais do que com o resto do mundo). Esta sim, é uma situação insustentável.
Como não se perspectivam alterações estruturais, é de esperar uma cada vez maior dependência económica face aos países que nos financiam. Com a dependência económica virá, inexoravelmente, a dependência política.
E seja com um federalismo formal ou virtual, Portugal será cada vez mais uma mera província da Europa. Uma "região autónoma" que dá prejuízo.
Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Meia Hora em 15 de Maio de 2009
Portugal, no seu todo, não é diferente. Se enquadramos o país no contexto europeu, percebe-se que é para a Europa o que as tais regiões "deficitárias" são para Portugal. A conclusão não poderá ser outra - Portugal é dependente do "centro" da União Europeia.
Evita-se falar do saldo da balança comercial. É como lixo atirado para debaixo do tapete. E sabemos que o lixo continua a acumular, mas o tapete vai dando para receber as visitas e ignora-se o problema. Analisando os números do comércio internacional de Dezembro a Fevereiro verifica-se que o défice comercial com os países fora da UE é de 617 milhões de euros. Parece muito, mas nem é tanto. É comportável e até diminuiu, por força da crise económica. Mas face aos países da UE o saldo negativo manteve-se quase inalterado nos 3.75 mil milhões de euros (6 vezes mais do que com o resto do mundo). Esta sim, é uma situação insustentável.
Como não se perspectivam alterações estruturais, é de esperar uma cada vez maior dependência económica face aos países que nos financiam. Com a dependência económica virá, inexoravelmente, a dependência política.
E seja com um federalismo formal ou virtual, Portugal será cada vez mais uma mera província da Europa. Uma "região autónoma" que dá prejuízo.
Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Meia Hora em 15 de Maio de 2009
2 comentários:
Caro amigo,
Impressão minha ou estás a ficar mais pessimista acerca da economia portuguesa que anteriormente?
Quanto à ideia do federalismo europeu, totalmente de acordo. Dados os nossos desequilíbrios, nós portugueses, economicamente, temos muito mais a ganhar com MAIS EUROPA que com menos Europa. O problema do federalismo europeu, centralizado na Alemanha, é que vai encontrar muitos obstáculos de cariz emocional (e históricas) correndo o risco de nunca se concretizar. O que, pese embora o nosso orgulho nacional, será péssimo para Portugal porque, por um lado, não sairemos do euro agravando gradualmente a nossa agonia, por outro lado, ninguém tomará conta disto agravando as assimetrias internas que são cada vez maiores no nosso país.
Um verdadeiro drama!
Abraço,
Apesar de todas as dificuldades conhecidas, parece-me haver indícios de que se estão a registar algumas alterações estruturais na economia portuguesa. Não podemos ignorar a evolução das exportações nacionais em 2006 e 2007, com os crescimentos mais elevados da última década e com maior valor acrescentado dos sectores mais tradicionais. O aumento da exportação de produtos de média e alta tecnologia também evoluiu muito favoravelmente e, se compararmos com os restantes países europeus, tivemos um dos melhores desempenhos em toda a União Europeia. Algumas empresas inovadoras apareceram (Critical Software, YDreams, N Drive, Mobicomp, etc) e que foram fundamentais a esta alteração estrutural. Não me parece que este dinamismos vá parar, antes pelo contrário, acredito que é possível diminuir a dependência económica, mas também é preciso aceitar que as coisas possam piorar antes de melhorar.
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