Os retalhistas disseram que a época de Natal começou muito mal, concretizando os maus indícios que Novembro já trazia. Porém, à medida que as promoções foram avançando - umas mais às claras, outras com remarcações de preços - as vendas subiram e muito. Pode argumentar-se que tal apenas se deveu ao aproximar do dia 25 de Dezembro, com os consumidores a esquecerem a "crise".
Todavia a espectacular afluência do público que se seguiu à primeira vaga de saldos, ou a imaginativas campanhas de vendas como a do El Corte Ingles, afasta a ideia que terá sido apenas a vontade de trocar presentes a responsável pela (quase) salvação da época de Natal no retalho.
Os mais "neoclássicos" ligariam desde logo a maior procura a preços mais baixos e não discordo. Mas permito-me a ter uma leitura um pouco mais arrojada do fenómeno. Os consumidores terão comprado mais porque estava mais barato, mas sobretudo porque já esperavam que tal fosse suceder. Havia mais rendimento disponível do que se o processo de compra tivesse sido contínuo. Outros comportamentos do consumidor - como o "reservar" peças antes de saldos, comprando-as para as devolver e adquirir outras em simultâneo a seguir - mostram como já havia alguma premeditação na abordagem a estes saldos.
Suspeito que os consumidores já estarão cansados de comprar a 10 de Dezembro um artigo que custa 100€, no dia 20 70€, para depois de 28 de Dez. custar 50€ e sair em Fevereiro a 20€. É certo que talvez em Fevereiro já não haja a "tal" peça ou o "tal" tamanho, mas a enorme variedade de oferta disponível, os stocks elevados e as colecções intermédias fazem com que essa escassez não passe de uma ilusão.
É provável que estejamos a entrar numa fase em que o retalho terá de repensar as actuais estratégias de "skimming" porque os consumidores parece que estão a ficar menos parvos.