quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A "desgraça" por anunciar - ACTUALIZAÇÃO 3



Mais uma actualização relativamente à economia chinesa.

Hoje foram anunciados mais dois números que dão que pensar.

Por um lado temos a inflação a descer vertiginosamente, sobretudo os preços das vendas a retalho.

Mais grave ainda para a economia mundial, as importações chinesas recuaram 17% em Novembro... Agora talvez já tudo está (ainda) mais claro...





"BEIJING, Dec 10 – China’s wholesale price inflation collapsed in November, undershooting expectations by a wide margin and raising the risk that the once-sizzling economy could find itself mired in deflation before long.
Producer price inflation fell to 2.0 percent in the year to November, well down from October’s reading of 6.6 percent, the National Bureau of Statistics said on Wednesday.
(..)
Consumer inflation figures for November, due on Thursday, are likely to underscore the dramatic retreat in price pressures as energy and commodity costs slide and domestic demand weakens in tandem with the global economic downturn."




Este era o texto de 31 de Outubro:

Já toda a gente está a contar com um cenário no mínimo "cinzento" para os próximos tempos. Talvez grande parte das más notícias já se encontre descontada pelos mercados e por cada um de nós.
Mas parece ainda faltar um anúncio, uma má notícia por dar.

A China tem crescido a taxas perto de 10% nos últimos anos. Alguns analistas têm avisado que a economia chinesa já está a desacelerar, a ponto de este ano crescer "apenas" 7%. Infelizmente parece ser uma previsão optimista. A China pode já ter mesmo "parado" e a situação ser bem pior do que se diz. Alguns economistas "no terreno" têm dado conta do encerramento de muitas empresas, diminuição brusca do
consumo privado, mercado imobiliário em queda de 20% a 40%, excesso de stocks de matérias primas e queda de 30% no consumo de carvão nas centrais térmicas de produção de energia. Se a isto juntarmos a recente actuação do banco central e o excesso de navios nos portos, vazios e sem carga para transportar, temos razões para pensar que falta anunciar esta "desgraça" - o grande motor da economia mundial dos últimos anos já parou!

A crise só poderá "bater no fundo" quando todas as más notícias forem divulgadas. Até lá há que ter muita paciência e sangue frio. As empresas devem estar atentas à deterioração do seu ambiente operacional e que consequências isso terá na sua situação financeira. O nível de endividamento actual poderá ser adequado hoje, mas o mesmo pode não acontecer daqui a alguns meses. E nessa altura não é certo que a banca possa ter a liquidez necessária para emprestar a todos os que dela necessitam.

Filipe Garcia

Economista da IMF

Artigo publicado no jornal Meia Hora em 31 de Outubro de 2008 (pág. 9)


2 comentários:

Pedro Barbosa disse...

Filipe,

Senbdo obvio que o abrandamento das importaçoes da China e um factor leading e que isso anteve uma serie de outros problemas, que danos reais te parece que vai causar, ou que causas reais poe a vista de todos?

Sera que estes dados vem dar força aos que insistem em 2009 como o pior ano do consumo ocidental da era moderna do comercio? Ou sera que tambem a China refrea estrategicamente pela descionfiança global e nao por reduçao real da sua capacidade exportadora

Ulf disse...

Apesar do impacto em termos de bens de consumo, a China foi nos últimos anos um cliente crucial em termos de bens de investimentos, commodities e bens de consumo de elevado valor acrescentado.

O abrandamento das importações chinesas implica que se está:
1. a produzir bem menos - o menor consumo de energia é outro indicador
2. a consumir menos - o que significa menos mercado para empresas europeias
3. a investir menos - o que significa que ainda vai piorar

tudo isto é mau para o ocidente que continuará a importar da china até pq é mais barato, mas deixará de exportar - aliás é ja o que os numeros dizem


a china refreia pq o decoupling verdadeiramente nao existe , mas a sua grande competitividade continua a colocar a china num patamar melhor que os demais em termos de comercio internacional

PORÉM, crescimentos na casa dos 10% sao para esquecer por agora, a china parou de investir