Falta liquidez na economia. É difícil ter "dinheiro na mão" e os tempos do crédito fácil já terminaram.
A situação é mais grave em Portugal, onde há muitos anos impera a prática de não respeitar os prazos de pagamento. Empresas, Estado e particulares financiam-se de graça junto dos que não conseguem evitar o abuso e que são depois obrigados a fazer o mesmo. Um ciclo vicioso. Note-se que aproveitar os diferentes prazos de pagamento não é desleal se for contratualizado. É desta forma que a distribuição baseia grande parte do seu negócio e do seu modelo de criação de valor.
O actual contexto exige a criação de medidas legislativas que pelo menos mitiguem esta prática. Se é certo que já existe a figura dos juros de mora, raramente se aplicam porque exigem frequentemente a intervenção judicial. Urge então definir um quadro de penalização automática a quem atrase pagamentos, preferencialmente através de multas. Não adiantaria aumentar uma divida que já não está a ser paga pois o mais provável é que ficasse por pagar.
Sem prejuízo da solução a encontrar, é necessário lutar contra esta crescente perturbação no mercado que beneficia apenas quem consegue reter pagamentos. Tal como o sangue tem que chegar a todas as partes do corpo, também o dinheiro deve circular e não ficar bloqueado. Quem não receber liquidez a tempo e horas definha e morre. Morre a economia.
P.S. - Num outro registo, continuo a estranhar as lojas que oferecem facilidades de pagamento em prestações sem juros, mas que não dão desconto a quem pretende comprar a pronto. Castiga-se quem paga a horas!
Filipe Garcia
Artigo publicado no Jornal Meia-Hora em 5 de Dezembro de 2008
8 comentários:
Grande post meu caro.
Este problema deriva da ineficácia do nosso sistema judicial, que beneficia os espertalhões em prejuízo dos cumpridores. Em Portugal, não há boa fé contratual.
Infelizmente, não me parece que essa tua alternativa seja possível de implementar sem suporte jurídico. Porque em última instância só os tribunais podem zelar pelo efectivo cumprimento dos contratos.
Ricardo Arroja
Obrigado,
Eu por acaso tenho uma ideia de como isso poderia ser posto em prática, sem necessidade de recorrer aos tribunais, só que não cabia neste espaço. Talvez a apresente depois. Mas ainda hoje estava a falar com o nosso ROC que nos diz que os prazos de recebimento estão a disparar... pois!
"continuo a estranhar as lojas que oferecem facilidades de pagamento em prestações sem juros, mas que não dão desconto a quem pretende comprar a pronto."
Não estranhe, lembre-se apenas que as empresas de crédito pagam comissão aos lojistas por cada crédito contratado.
"Mas ainda hoje estava a falar com o nosso ROC que nos diz que os prazos de recebimento estão a disparar... pois!"
Já para não falar dos casos, que também dispararam, dos clientes que são transparentes: "Olhe, na realidade não sei quando vou poder pagar-lhe essa factura"
Claro que as lojas ganham com o crédito e essa nem sequer é a única razão. Mas é um sintoma de como o sistema faz pouco sentido.
Sobre as empresas que dizem q não sabm qdo vão pagar... Pois, é essa mesmo a realidade, tem razão! Mas as empresas só fazem isso porque sabem que o podem fazer! Se fossem penalizadas por não cumprir talvez pensassem antes de comprar e alugar os recursos dos outros a custo zero.
E entretanto até o IVA ja foi liquidado.
Uma imoralidade.
Não é liquido que as lojas ganhem com creditos. Trata-se de um formato que permite minorar as quebras de vendas, e fazer face aos concorrentes, fidelizando as pos clientes. os descontos one shot não fidelizam ninguém.
Por outro lado, nem sempr e é facil de operacionalizar uma coisa ou outra.
Se as empresas não pagam é porque não têm dinheiro. Penaliza-las vai aumentar as falencias e não te esqueças que quem recebe primeiro é o estado e os trabalhadores.
Dar credito é um risco. Quem não quer correr esse risco tem sempre a solução de não dar credito.
Negocios sem risco são porreiros.
Eu gostava de ter um
Sobre "as lojas que oferecem facilidades de pagamento em prestações sem juros", há efectivamente comissões, apesar de haver algumas excepções. O consumidor de uma forma geral sai penalizado. O desconto de pp que o lojista pode fazer, é em muitos casos partilhado com a financeira, o que deturpa a relação comercial com o cliente, que se pretende que permaneça fiel à marca/loja. Infelizmente os clientes andam cegos. A maioria só pensa se a prestação encaixa no seu orçamento.
Quanto aos prazos de pagamento, as empresas tem que saber gerir melhor o risco da sua actividade. Muito melhor. Mais rigor para quem vendem, usar seguros de crédito (abdicando de alguma margem e não ultrapassar plafonds atribuídos), usar DUN e MOPE, etc, etc. É confrangedor ver dia após dia empresas continuarem a vender sem um mínimo de análise de risco do devedor. Como vender é fácil, esquecem-se de pensar como vão cobrar. Por outro lado, enquanto não existir uma lista negra (a sério e não a brincar como a que existe) onde empresas que passam cheques sem provisão são "banidas do sistema" e os seus responsáveis são severamente penalizados, e enquanto o banco de portugal não colocar regras aos bancos muito mais rigidas na atribuição de cheques, meios de pagamento e crédito, esse problema não melhora.
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