sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Os Custos



Já é bastante clara a opção dos principais líderes mundiais na forma de lidar com a crise - Despesa Pública.

Pode perguntar-se se esta opção de cariz keynesiano não será uma escolha fácil e uma "fuga para a frente" ao simplesmente atirar dinheiro ao problema. Não pretenderão os governantes apenas ter mais poder? Não será uma solução com alcance limitado em cada país? Num mundo globalizado podem ser outros a beneficiar do dinheiro gasto, caso os projectos sejam mal escolhidos.

Reconheça-se que a política monetária dificilmente funcionará a partir de agora. A forma como os bancos centrais estão a baixar os juros e a injectar dinheiro poderá levar directamente de um eufórico e especulativo "Momento de Minsky" para uma enfadonha e recessiva "Armadilha de Liquidez", tal como aconteceu no Japão. Por isso entende-se a opção dos governos, já que não há muitas alternativas disponíveis.

Não se pode garantir o sucesso dos milhões que estão a ser atirados à economia, mas há custos que já se podem estimar. É de esperar que o custo da dívida pública aumente significativamente, que assistamos a um processo de subida prolongada e sustentada dos impostos e ao aumento da idade da reforma. Os governos passarão a ter mais influência na economia - o que trará sempre ineficiência - mas paradoxalmente terão menor margem de manobra em questões mais disruptivas, dadas as restrições orçamentais futuras. A regulação deverá apertar, o que terá um impacto difícil de prever.

Com tais custos a suportar, esperemos que o prémio Nobel da Economia esteja errado. Krugman prevê uma recessão de vários anos!

(vale a pena ver os links)

Filipe Garcia
Economista da IMF

Artigo publicado no jornal Meia Hora em 19 de Dezembro de 2008

5 comentários:

Anónimo disse...

Crise, soluções, previsões....palpites..todos temos um!

Não podemos estar à espera que o consumidor norte-americano seja o motor de crescimento mundial pois ele já está bastante endividado.

O que se poderia fazer de uma forma leiga para se sair desta crise?As famílias poderiam começar a consumir muito e as empresas a investir...sem dúvida uma medida, mas não a mais acertada numa altura destas!

E é aqui que entra a defendida Despesa Pública. Medida apontada por muitos como a alternativa...

Mas há que ter atenção a esta medida:

-porque vai ter que ser paga no futuro;
-porque esta pode levar a uma contracção do consumo e do investimento privado;
-porque a dívida pública portuguesa já é bastante significativa.

Medidas ponderadas,conscientes e acertadas é o que se precisa!

L.

Anónimo disse...

Esta crise pode ser muito interessante para a economia portuguesa. Acabou o fartar vilanagem de pedir dinheiro emprestado aos bancos estrangeiros para inflacionar o valor de terrenos e casas e comprar carros, viagens e alimentos a esse estrangeiro. Quem não tem dinheiro não tem vícios. A economia portuguesa não tem duas soluções, só tem uma: consumir o que é produzido em Portugal. Isso não é decidido por governos, isso faz parte da tal cidadania comprometida. O nosso futuro depende de onde as donas(os) de casa deste país põem os olhos e as mãos nas prateleiras dos supermercados. O défice da nossa balança comercial tem espaço para preencher muito emprego, muita receita fiscal, muito investimento, muito PIB. Quase tudo o resto são balelas.
N.

Ulf disse...

É verdade L, as opções que estão a ser agora seguidas terão custos e não são difíceis de identificar.
Penso que já não estamos na fase de decidir se vai haver Despesa Pública ou não, mas na fase de "QUE DESPESA".

Sócrates já disse que prefere a despesa ao corte de impostos porque assim garante que o dinheiro é gasto! (http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?id=1025065&div_id=1730 )

Confesso que vou passar a pedir ao Governo que tome outras decisões por mim! Por exemplo o que posso almoçar hoje Sr. Primeiro Ministro?

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N.

Eu confesso que tenho sentimentos contraditórios quanto a isso de "escolher Portugal".

Se em parte me parece lógico que ao consumir PT estou a manter o $ na economia nacional, q se poderá multiplicar e chegar a mais agentes, inclusivamente a mim, parece-me que não será mais do que subsidiar alguma ineficiencia.

Para mais, num mundo globalizado e qse sem fronteiras relevantes ao comércio, esse subsídio parece-me ser um indutor de imobilismo nas empresas nacionais...

Anónimo disse...

http://www.elpais.com/articulo/economia/Sebastian/pide/consumir/productos/espanoles/combatir/paro/elpepueco/20090121elpepueco_3/Tes

...Cá está o governo de nuestros hermanos a induzir o imobilismo das empresas espanholas.
... e a explicar a lucidez de alguns analistas económicos portugueses
N.

Ulf disse...

Também não sou grande adepto do "consuma Portugal"... em situações próxima à indiferença asmito que se possa escolher nacional, mas não acho que ninguém deve sacrificar a maximização da satisfação das suas necessidade só para "ajudar" empresas nacionais. Eu como consumidor quero bom, bonito, barato e ético. Quem me conseguir entregar isso ganha!

Filipe