quinta-feira, 28 de maio de 2009

PuraMente #19 - A Lógica Oculta da Vida

Nome: A Lógica Oculta da Vida
Autor: Tim Harford
Data (Original): Janeiro 2008
Frase:”Quando o preço das bebidas aumenta, os alcoólicos são aqueles que mais reduzem o consumo de bebida”
Keywords: Economia; Lógica; Racional; Motivação; Incentivo; Ponto Focal; Externalidade; Sexo Oral
Apreciaçao: ****
O autor do “Economista Disfarçado” volta com mais uma obra no mesmíssimo estilo - princípios económicos elementares aplicados aos exemplos do dia a dia, com conclusões curiosas, que abrem uma perspectiva muito própria sobre temas tão diversos como o racismo, os salários de gestores de topo, o divórcio ou o sexo oral.
A obra, que poderia num plano mais imediato ser referenciada de “ensaio de economia para leigos”, tem o dom de chamar modelos teóricos e estudos estatísticos, explicar buzzwords da nova geração, e citar directa ou indirectamente outros livros que gravitam à volta de assuntos comuns, como “Freakanomics” ou “O Mundo é Plano”.
A ideia que suporta este livro do já famoso colunista do Financial Times é a percepção da lógica, frequentemente oculta, que sustenta o comportamento humano, incluindo aquele que é efectuado a comando do inconsciente – o que estimula uma nova perspectiva da racionalidade, eixo central da economia na visão deste autor.
Publicado em português pela Editorial Presença em Setembro 2008, este manual de “economia racional” investe na explicação das lógicas escondidas atrás de uma série de diferentes situações, em alguns casos quase axiomaticamente aceites, demonstrando com estes exemplos que há uma economia lógica em cada situação, mesmo quando não parece. Um livro destinado a todos, pela fascinante e explosiva mistura de humor com seriedade no tratamento de assuntos vulgares, absoluta simplicidade na prosa e universalidade das causas e efeitos estudados.
Embora menos inovador do que o genial “Economista Disfarçado”, esta edição encontra-se limite do obrigatório aos que ambicionem compreender com maior transparência a razão de ser do mundo que os rodeia.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Harvard Trends #6 - Brain Outsourcing

A mais importante escola de negócios do mundo tem debatido crescentemente um assunto relacionado com as funções centrais de cada empresa. Ao longo das últimas décadas e depois da fase da verticalização, tornou-se um standard de mercado o outsourcing de um conjunto de funções que permitiu ganhar em competitividade e eficácia.
A questão que hoje se debate é se a tomada de decisões deve ser colocada em outsourcing. O tema, denominado nos Class Forum de “Brain Outsourcing”, levanta sérias dúvidas, nomeadamente porque põe em causa do domínio do core. Os primeiros ensaios, com empresas especializadas em Business Analysis & Decision Taking que operam maioritariamente na India, revelarem resultados muito bons. A questão é polémica, porque existe um quase consenso sobre o principio de domínio das actividades core por parte das empresas.
Os entusiastas deste tipo de subcontratação alegam que a tomada de decisão pode não ser a actividade core da empresa, argumento não aceite pelos resistentes, que refutam com base na importância da decisão em qualquer processo da alta-estratégia. A discussão prossegue…

Let´s get physical

Um dos chavões mais repetidos nos últimos meses é que o "vinil irá salvar a indústria discográfica". Isto porque tem sido enorme o crescimento percentual que se tem registado na venda de música neste formato, em alguns casos a ultrapassar os mil por cento. Esses números dizem pouco em termos concretos - afinal de contas, um aumento de 25000% sobre 1 são apenas mais 250 discos, mas há outras leituras a fazer.
A música é actualmente consumida quase exclusivamente no formato digital - desde os omnipresentes leitores de MP3 portáteis e computadores até às aparelhagens ou auto-rádios capazes de reproduzir música a partir de uma memória usb. Este formato tem diversas vantagens sobre os restantes, mas não inclui algo que os CDs ainda oferecem - a componente física. O objecto de suporte desapareceu.
Hoje a tendência é que quem compra "discos", fá-lo mais pelo objecto em si e não pela música, que provavelmente já conhece bem. Ou seja, o formato sonoro do objecto acaba por ser irrelevante, já que a música irá ser sempre ouvida a partir do formato mais conveniente para o consumidor. É por isso que algumas editoras oferecem o álbum em formato digital na compra do vinil. Note-se que do ponto de vista financeiro, comprar um álbum digital e não comprar o álbum "físico" não traz grandes vantagens, excepto para os consumidores de singles ou de quantidades industriais de música que consigam fazer grandes poupanças com os poucos euros de diferença entre os dois formatos.
O potencial do formato físico deve ser aproveitado para oferecer mais que "música numa rodela". Tornar o próprio formato parte da experiência de ouvir a música pode ser uma das soluções para aumentar as vendas.
Luís Silva, crítico musical
Publicado no jornal Meia Hora a 27 de Maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

Puramente #18 - Competitive Intelligence

Nome: Competitive Intelligence
Autor: Rob Duncan
Data Original: Junho 2008
Frase: "Agile time frames are measured in weeks and moths, not years"
Keywords: Competitive Intelligence; CI Matrix; KISS; Consistent; Getting Info; Ethics; Fast & Cheap;
Apreciação: ***
Este não parece ser um livro para todos, antes para um nicho de gestores nas áreas de Marketing ou Research que se dedicam a recolher e trabalhar informação como está o mercado, nomeadamente os concorrentes ou potenciais concorrentes. Este não parece ser um livro para todos. Mas é.
Trata-se de uma obra de rápida leitura, com pouco mais de 100 páginas escritas de uma forma directa e muito prática, sem poesias ou exageradas deambulações sobre sub-temas. O assunto é o estudo da inteligência competitiva, um processo de recolha, análise e gestão de informações externas, mas que podem influenciar de forma importante os negócios da empresa.
Ao contrário de outros registos sobre este tema, Duncan prefere uma abordagem directa, onde explica porque a IC tem necessariamente de ser realizada de forma célere, barata e ética, esclarecendo de forma assertiva as habituais confusões sobre espionagem e delimitando valiosas fronteiras.
A lógica deste livro assenta nas características necessárias à prática da IC, que se dividem entre core skills e applied skills, com uma bem estruturada dissertação sobre cada uma, com enfoque nos factores potenciadores de uma comunicação eficaz. O autor ora aposta na explicação dos factores críticos, ora delata técnicas essenciais à recolha de informação relevante de forma prática, eficiente e sobretudo sustentável.
Competitive Intelligence pode ser lido por todos, porque a todos diz respeito – mas tem especial prescrição para os que actuam profissionalmente nesta área. Por outro lado, constitui uma óptima oportunidade para ler sobre novas buzzwords, como executive profiling, hourglasses, blogpulsing ou elicitations.

Porque sobe o preço do petróleo?



Os preços do petróleo subiram cerca de 75% desde os mínimos no final de 2008. É de esperar que o preço esteja correlacionado com os níveis de actividade económica e pode parecer estranho que os preços subam num contexto de crise. Qual o motivo da subida?

Do lado da oferta não se pode falar de uma escassez de petróleo, mas nota-se que os membros da OPEP estão a agir de forma mais concertada.

É na procura que se encontram as causas. A procura "física" de petróleo não está ainda a aumentar, excepção feita aos reforços de reservas estratégicas de alguns países. Já a procura para investimento tem aumentado consideravelmente. É habitual que os mercados antecipem os ciclos económicos, pelo que esta procura por investidores é sinal de confiança. Há outros factores, mais interessantes. Receia-se uma espiral inflacionista no futuro, provocada pelas injecções de liquidez feitas pelos bancos centrais e pelos planos de intervenção dos governos. Compra-se petróleo para cobrir o risco de inflação já que se os preços subirem, o petróleo tenderá a subir mais. O dólar poderá desvalorizar mais, o que também atrai compradores às matérias-primas. Em resumo, a subida é mais suportada no investimento que na procura "física".

Investir em petróleo é possível em várias formas: contratos de futuros e equiparados, fundos, índices e acções do sector. Mas é pouco sensato que um investidor não experimentado entre no mercado sem aconselhamento adequado. Não que a sua opinião seja pior que a dos "experts", mas porque são instrumentos financeiros com complexidade, em que é simples perder-se muito dinheiro sem se saber muito bem porquê.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Meia Hora em 26 de Maio de 2009

 

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A nossa neve


A modalidade de Golfe lidera a nível mundial em número de praticantes Federados, e o prazer que esta prática induz espalha-se pelo Globo, movimentando enormes receitas ao nível do turismo. Portugal, e a zona do Algarve em particular, reúne condições fantásticas para a prática desta modalidade, a nível do clima, em número de campos e infra-estruturas turísticas de apoio aos jogadores, conseguindo captar praticantes de todo o mundo ao longo de todo o ano. No Centro e Norte do país, onde aliás existem dois dos campos mais antigos da Europa, o Oporto e o Lisbon, a modalidade tem vindo a crescer mais lentamente dado o menor fluxo de turistas, contudo surgem iniciativas e projectos para o desenvolvimento sustentado desta modalidade, pese embora muito dependente de grandes projectos imobiliários, cujos impactos ambientais tem sido desde sempre uma preocupação do Ministério do Ambiente.

A recente publicação de normas ambientais para o planeamento, projecto, construção e exploração dos campos de golfe, vem ajudar a desmistificar a ideia de que o Golfe é inimigo do ambiente. Na realidade, é a prática desportiva que mais interage com o ambiente e que se preocupa cada vez mais com estas questões, com relevância no crescimento do mercado europeu de golfe, estimado em 1 milhão de viagens por ano (motivação primária) e prevendo-se uma duplicação deste valor até 2015.

A nova visão do Golfe que se tem vindo a sentir por parte dos organismos e entidades em matéria de ambiente, tem assim contribuído para que o golfe se afirme cada vez mais como um sector estratégico da economia nacional que, bem dinamizado, poderá representar para um futuro não muito longínquo, o que a neve representa para a receita turística de muitos países europeus.

Pedro Sequeira

Será que pega?



Há décadas que se fala dos automóveis eléctricos como os “carros do futuro”. Durante muito tempo nada aconteceu de relevante para além do sucesso relativo dos veículos híbridos, mas que são dependentes do motor de combustão. O panorama do sector poderá sofrer uma alteração significativa, primeiro com a introdução de veículos com sistema paralelo (desenhados para um funcionamento com motor eléctrico e com a combustão como suporte) e depois com o aparecimento de carros 100% eléctricos. A duração das baterias tem constituído um obstáculo lógico, mas a tecnologia está a evoluir.

Um dos sinais de que um produto poderá singrar é o tipo de investidores que nele aposta. Warren Buffet adquiriu no Outono passado 10% da BYD por 230 milhões de dólares. Esta empresa chinesa de automóveis eléctricos obrigou-o a abandonar um dos seus princípios - conhecer bem o negócio. No entanto, entendeu que estava perante uma enorme oportunidade, num sector que ainda é estranho para a maioria.

Esta semana, os Estados Unidos aprovaram novos e ambiciosos limites para as emissões de gases por veículos automóveis. A lei, a responsabilidade ambiental e a moda tenderão a ajudar o carro eléctrico a conquistar mercado, logo que as performances e autonomia sejam aceitáveis.

A indústria tem resistido a desenvolver o mercado, dado que parte importante das receitas advém da manutenção e não da venda dos veículos. Sabe-se que os motores eléctricos necessitam menos de manutenção, pelo que há uma ameaça ao modelo de negócio. Porém, há a consciência por parte dos construtores da oportunidade “única” na renovação global do parque automóvel, em que o first mover será muito premiado.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Meia Hora de 22 de Maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Harvard Trends #7 - Crédito Peer to Peer

Tendência emergente: Crédito peer-to-peer – directamente entre duas pessoas ou entidades, sem intervenção de entidades financeiras. As vantagens são o acesso a taxas mais baixas e menor exposição a factores macroeconómicos no decurso das operações. A dificuldade situa-se no campo da legalidade e da gestão de confiança dos parceiros, ou em substituição deste factor, a caução/fiança/aval. É neste ponto que entra, como grande novidade, o factor de redes sociais alavancadas com o mercado Web. Numa dinâmica que pode vir a ser o grande suporte de redes como o Linkedin, The Star Tracker, Hi5 ou Facebook no futuro, este tipo de negócios alimentará das redes sociais as garantias necessárias (reputação, endorsements, fianças).
O Google estará certamente atento a esta oportunidade, que se adequa ao core de competências da empresa: capacidade de construir um sistema de ratings pessoais (como fez nas páginas), ligadas aos sistemas de informação locais, redes de contactos, Google Checkout, Froogle, etc com algoritmos de pontuações e referências capazes de mudar em tempo real, evitando fraudes. Neste novo futuro, o Google & Companhia serão os concorrentes da banca tradicional.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Período de Lazer - Importante em Época de Crise

É evidente a relevância do período de lazer para a Economia, pois entre outros contributos, origina muitos actos de consumo, networking e permite o equilíbrio Trabalho vs. Vida Pessoal. Um bom conhecimento sobre o comportamento social e as preferências dos consumidores na ocupação dos tempos livres; potencia a geração de oportunidades de negócio e/ou ajustamentos em produtos e serviços já existentes. Foi recentemente publicado o estudo da OCDE “Society at a Glance 2009” onde são analisadas as tendências sociais dos seus Países. É dedicado um capítulo ao tema “Período de Lazer” que, infelizmente, não contém informação sobre Portugal; impossibilitando análises comparativas com outros Países e, por consequência, maior dificuldade na identificação de eventuais oportunidades. È certo que um estudo deste género não é suficiente para a tomada de decisões empresariais inerentes à exportação; contudo constitui uma base para a abordagem ao tema. Saliento, alguma informação sobre Países relevantes para as exportações portuguesas, como a dominância que tem “Ver Televisão” nos EUA e no Reino Unido, por oposição à França, Espanha e Alemanha, onde dominam as “Outras Actividades de Lazer” (net, hobbies, etc.) e também a relevante actividade de “Participar ou Assistir a Eventos” na Alemanha, Reino Unido e Espanha; onde também o “Desporto” apresenta considerável preferência. Seria desejável que Portugal começasse a produzir este tipo de informação, com carácter sistemático e com base comparável. Para mais informações sobre o estudo, consultar: http://www.oecd.org/document/24/0,3343,en_2649_34637_2671576_1_1_1_1,00.html#press
António Jorge Consultor em Estratégia, Marketing e Vendas (ant.jorge@netcabo.pt) Publicado no jornal “Meia Hora” a 19Mai09

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Último Tango

Os EUA e China constituem um par de dançarinos notável: Então vejamos, um consome o outro produz que é o mesmo que dizer que um gasta e o outro poupa. Um desenvolve, conceptualiza, o outro copia e implementa.
A Balança de Pagamentos dos EUA é equilibrada pela China que além de comprar activos Americanos, também suporta a dívida externa dos EUA através da compra de títulos de tesouro. Assim permite que o Americano viva acima das suas possibilidades, aumentando o seu poder de compra de bens e serviços Chineses. As empresas dos EUA também beneficiam do capital extra disponível para poderem efectuar os seus investimentos que frequentemente acabam por incorporar uma rubrica Made In China. O Sistema Financeiro dos EUA, o mais evoluído do Globo vê-se com milhões a chover o que permite desenvolver produtos financeiros de tal sofisticação e criatividade que fazem o Sr. Lavoisier mexer‑se na tumba, contribuindo para que a amplificação da actividade económica dos EUA entre em ressonância. Aos Americanos cabe-lhes policiar o mundo, intervindo aqui e acolá com a colossal máquina de guerra paga pelo Chineses.
Esta generosidade, favorecendo a compra Made In China, aumenta o excedente Chinês que se vê impelido a emprestar novamente aos EUA. Os Americanos, deverão sentir-se anestesiados. É viciante!
A divida Norte Americana é em dólares. Se os EUA entenderem desvalorizar a moeda, essa mingaria de tal forma que todo o sistema financeiro mundial robusto ruiria. Aos Chineses resta-lhes continuar a suportá-la, no curto e médio prazo porque a longo prazo a balança tende para oriente.
Publicado no jornal Meia Hora em 20 de Maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Primeiro Aniversário

Foi há um ano que surgiu este espaço, que decidimos baptizar de Mercado Puro.

Os 6 fundadores continuam hoje a escrever regularmente neste espaço, onde se privilegiam intervenções pensadas e centradas não tanto em opiniões momentâneas, mas em conteúdos "de fundo".

Num ano e mais de 250 intervenções, das quais 220 publicadas em jornais nacionais, o Mercado Puro parece ter vindo para ficar. Hoje, está ligado a vários jornais - Meia Hora, Jornal de Negócios e Vida Económica como mais regulares - que publicam em primeira mão estas colaborações de cerca de 40 autores diferentes. Mas é sobretudo ao Sérgio Coimbra que queremos agradecer, por ter acreditado na fiabilidade e potencial do projecto desde o primeiro dia.

Vários textos do Mercado Puro são hoje publicados em órgãos de comunicação de referência em países como Moçambique ou Cabo Verde e muitas outras novidades estão a ser preparadas, sempre com este posicionamento 100% livre, desligado de interesses de quaisquer natureza que não sejam a discussão de temas que entendemos de importância.

As últimas e mais importantes palavras ficam para os incansáveis autores que fazem do Mercado Puro o espaço que é hoje. O tempo vai passando, a memória fica e não há como vos agradecer.

Filipe Garcia e Pedro Barbosa

Domingos rotativos

Discutido vezes sem conta, o assunto da abertura das grandes superfícies aos Domingos e feriados já atingiu um estado de quase-consenso entre economistas e gestores do país. Provado que está que a medida gera mais emprego para o país e é catalizadora de aceleração da competitividade que tão fundamental é para o país no contexto internacional, o Governo continua a travar a liberalização, por motivos de natureza politica. À semelhança do que se passa com os impostos Robin Hood, são medidas que evitam o progresso, em nome da satisfação relativa da esquerda, que neste âmbito lidera a demagogia nacional, introduzindo temas fantasma como “protecção do comércio tradicional” .
Os variadíssimos estudos sobre esta matéria são claros : a abertura aos Domingos não prejudicam o comércio tradicional, até porque hoje existem centenas de supermercados abertos ao Domingo, para não falar dos centros comerciais. Se havia danos colaterais, eles estão absorvidos.
Nesta altura de crise de emprego, a abertura do comércio ao Domingo permitiria insuflar na economia milhares de novos postos de trabalho, combatendo o mais complicado problema de 2009 : o emprego.
No entanto, e se o Governo português não tiver a coragem politica para tomar esta iniciativa, sugere-se a introdução de fechos rotativos, ou seja, da obrigatoriedade de fecho um dia (neste caso em todas as lojas e não só nas que têm mais de 2.000m2), escolhendo cada operador qual o dia da semana que optar por permanecer fechado. Desta forma gera-se mais emprego, beneficia-se os clientes finais e os impactos no comércio tradicional são fortemente positivos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Portugal dá prejuízo



É indiscutível que há regiões do país que não são rentáveis. Dão prejuízo. Basta olhar para o investimento em infraestruturas em algumas cidades ou regiões e concluir que nunca serão auto-sustentáveis. Talvez seja inevitável, mas é uma situação que as torna dependentes do resto do país e do poder central.

Portugal, no seu todo, não é diferente. Se enquadramos o país no contexto europeu, percebe-se que é para a Europa o que as tais regiões "deficitárias" são para Portugal. A conclusão não poderá ser outra - Portugal é dependente do "centro" da União Europeia.

Evita-se falar do saldo da balança comercial. É como lixo atirado para debaixo do tapete. E sabemos que o lixo continua a acumular, mas o tapete vai dando para receber as visitas e ignora-se o problema. Analisando os números do comércio internacional de Dezembro a Fevereiro verifica-se que o défice comercial com os países fora da UE é de 617 milhões de euros. Parece muito, mas nem é tanto. É comportável e até diminuiu, por força da crise económica. Mas face aos países da UE o saldo negativo manteve-se quase inalterado nos 3.75 mil milhões de euros (6 vezes mais do que com o resto do mundo). Esta sim, é uma situação insustentável.

Como não se perspectivam alterações estruturais, é de esperar uma cada vez maior dependência económica face aos países que nos financiam. Com a dependência económica virá, inexoravelmente, a dependência política.

E seja com um federalismo formal ou virtual, Portugal será cada vez mais uma mera província da Europa. Uma "região autónoma" que dá prejuízo.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Meia Hora em 15 de Maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Finalmente a Cultura?

Foto: Luís Ferreira

Vencidos os programas infra-estruturais; completadas as mais marcantes necessidades de equipamentos sociais; esgotadas as grandes verbas para arranjos urbanísticos; é tempo das cidades pensarem e decidirem o seu futuro – como e onde se querem posicionar na disputa pela qualidade de vida dos cidadãos.

Já não basta ter largos passeios enquadrados por modernos edifícios com esplêndidas vistas. À nova cidade exige-se mais: inconformismo, irreverência, pluralismo. Que seja lugar pleno, onde o talento possa encontrar a criatividade.

Assim, queria que a próxima equipa a liderar a minha cidade fosse capaz de nos desafiar para respondermos juntos à mais elementar das questões: que valores vamos promover na nossa cidade nos próximos 4 anos? Desde o início, onde a visão vem muito antes das políticas (as opções), importa debater: como vamos redesenhar este espaço-tempo para que seja mais e melhor para todos? Como queremos que a nossa qualidade de vida se desenvolva? Depois, para além do conformismo e do impossível, será importante a capacidade de concretizar estratégias inovadoras, arrojadas e desafiantes.

Como alterar a cultura da nossa cidade? – Este seria um bom mote para o debate público (que também pode ser político) que se avizinha. Esta mudança só pode ser feita através de comunicação implicativa, que demanda relação e transparência; exige informação clara e directa; e constante envolvimento dos cidadãos, co-responsabilizando-os nas decisões, nas escolhas, enfim, na construção do futuro colectivo.

Publicado no Jornal "Meia-Hora" em 12-Mai-09.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

PuraMente #17 - Tribos



Nome: Tribos - Precisamos de um líder

Autor: Seth Godin

Data: Outubro de 2008 - Lua de Papel

Frase: "Ideias que se propagam, vencem"

Palavras Chave: Mudança; Iniciativa; Líder vs Gestor; Comunicação; Envolvimento; Status quo; Medo;

Apreciação: ***


Seth Godin é um fenómeno da geração web. Considerado o blogger mais influente do mundo, é o autor de alguns dos livros de marketing mais vendidos de sempre e tem uma enorme legião de seguidores. É um líder e tem a sua tribo.

"Tribos" fala sobre aquela que é considerada a forma de marketing e comunicação mais poderosa - a liderança - e de como qualquer um de nós se pode tornar líder, criando movimentos que interessem às pessoas. O livro gerou um "buzz" instantâneo ao mostrar que temos mesmo o poder e a capacidade de promover a mudança. O autor defende que todos desejam identificar-se com uma ideia, uma tarefa ou um objectivo e que, por isso, precisam de ser lideradas. Ou seja, queremos algo de novo, queremos mudança, mas o papel de cada um pode variar entre a liderança, a simples adesão ou a indiferença.

A primeira surpresa do livro é que não tem, aparentemente, uma estrutura organizada. Não há uma introdução, capítulos, conclusão ou um índice, o que concretiza a vontade de o autor em quebrar com o status quo, algo que nos acompanha ao longo de "Tribos". As ideias são passadas através de pequenos textos, muitas vezes independentes entre si. Isso permite que a qualquer momento se folheie o livro e se leia um par desses textos, o que é uma vantagem e se enquadra na tendência actual de passar mensagens de forma rápida, directa e acessível. Os textos oscilam quase sempre entre as ideias de tribo, liderança, promoção da mudança e motivação para a acção.

Seth Godin explica que "liderar não é gerir", sendo muito crítico relativamente aos gestores. Liderar é criar a mudança em que se acredita, enquanto que gerir é a mera manipulação de recursos para se fazer um trabalho que já se sabe. Gerir não provoca mudança: pelo contrário, promove uma estabilidade que o autor considera ilusória.

O livro é de leitura simples e rápida, embora seja algo repetitivo. Não será essencial para todos, mas ajudará a entender melhor este conceito de "tribo" e poderá servir de elemento motivacional para os leitores.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

www.puramenteonline.org



domingo, 10 de maio de 2009

Harvard Trends #6 - Quickwins

Num mercado em que os gestores são limitados pela pressão de resultados trimestrais, tornou-se habitual em lideres novos a procura de quickwins – programas que procuram resultados imediatos – como forma de afirmação pessoal. Grande parte destas iniciativas revelam-se contudo precipitadas e culminam em resultados decepcionantes.
Estudos em Harvard sugerem a existência de 5 tipos de armadilhas nos quickwins: demasiado enfoque nos detalhes (principal), reacção excessiva ao criticismo, conclusões precipitadas e gestão excessivamente directa dos colaboradores mais próximos. Mesmo quando os resultados são atingidos, os recursos dispendidos são excessivos e a capacidade de liderar está comprometida.
Em vez de se procurarem afirmar pessoalmente, os novos líderes devem centrar-se em em quickwins colectivos - envolvendo grupos de trabalho motivados por objectivos comuns e recompensas partilhadas, em projectos que conjuguem valor, exequibilidade, e aportação mútua - ou em estratégias duradouras : programas estruturais e com visão de longo prazo com resultados finais mais eficazes. Saber gerir a informação trimestral torna-se assim competência de crescente importância.

PuraMente #16- The Future of Management



Nome: The Future of Management

Autor: Gary Hamel

Data (Original): Dezembro 2007

Frase: ”Management is out of date”

Keywords: Management Innovation; Management DNA disruption; Reinvent; Adaptability; Change;Discipline & Freedom;New Management S-Curve

Apreciação: *****

Gary Hamel pertencia à shortlist dos melhores teorizadores de estratégia e gestão do mundo antes
deste livro. Hoje, O professor da reputada London Business School tornou-se absolutamente incontornável, tanto em MBA´s como no top executive mindset das mais importantes empresas do planeta. Este é talvez o melhor elogio ao “Future of Management”.

O livro começa precisamente por dizer que a gestão actual está ultrapassada e que não serve para o futuro. O autor estabelece que, depois de anos a optimizar a eficiência operacional, as empresas devem agora centrar-se na eficiência estratégica, cujo impacto é importante para o presente e determinante para o futuro. Hamel é claro quando refere que a obra não tem a presunção de partilhar uma visão com os leitores, antes de ajudar os gestores a inventar o futuro. Da inspiração à realidade, o autor conduz os leitores por técnicas e tácticas, estratégias e teorias, sempre personalizadas com exemplos reais, descritos com o detalhe que um livro destes merece.

O livro está organizado em quatro partes, que explicam a razão e acção da Gestão da Inovação e exploram a imaginação e construção de um futuro sustentável reinventado por gestores que apostam na mudança disruptiva do modelo. O autor centra parte importante do livro a como se manter enfocado no negócio de hoje enquanto se constrói o de amanhã, um contributo fundamental para estar na linha da frente do processo de adaptação organizacional. Hamel assegura que a “tecnologia da gestão” será reinventada e que esta é a oportunidade de ser magnânimo: o modelo do século 21 estará assente em honra, iniciativa, criatividade e paixão.

As 255 páginas desta obra são de uma densidade insolúvel e obrigam a um relevante esforço de concentração. O payoff compensa.

Pedro Barbosa
www.puramenteonline.com

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Iniquidades (*)

Nas últimas semanas, a discussão em redor dos salários voltou à berlinda. Depois da desajustada revisão salarial na Função Pública, em alta, apesar da terrível conjuntura económica, aguardava-se para este primeiro semestre de 2009 a reacção do sector privado. Embora os dados sejam ainda parcos, a evidência parece apontar para a estagnação, na melhor hipótese, ou até para a redução do nível geral dos salários, a par do aumento do desemprego. O fenómeno é mundial, embora a economia portuguesa seja das mais débeis de toda a Europa. De resto, alguns sinais deste fenómeno já vêm de 2008 – pelo menos, no sector privado. De acordo com dados publicados pelo Jornal de Negócios, no ano passado, entre as 20 empresas cotadas no PSI20, em 8 destas registou-se uma redução do salário dos trabalhadores (administração excluída). Em média, um decréscimo de 8%. E entre os salários dos administradores, o corte foi ainda mais severo: quase 30%. Apesar de tudo, não o suficiente para reduzir o fosso entre salários médios dos administradores e dos restantes colaboradores que, agora, se situa em 22 vezes mais. Este valor, infelizmente, ainda é superior à média europeia, que aponta para uma diferença de apenas 15 vezes mais. Assim, a bem da paz social, as próximas reduções salariais devem voltar a repercutir-se mais do que proporcionalmente entre os administradores e não entre as hierarquias inferiores. É que a falta de produtividade ou os elevados custos unitários do trabalho não resultam apenas da baixa qualificação dos nossos trabalhadores. Decorrem também destas iniquidades. (*) Artigo publicado no jornal Meia Hora a 8/05/2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Crime e Castigo



A evolução do emprego é preocupante, mas nada acontece por acaso. As tendências no mercado de trabalho são o "castigo"  para uma economia que não soube ou não quis flexibilizar as regras em tempo útil. Cometeu-se um "crime".

Em economia, tudo é uma questão de tempo. Era necessário reduzir a rigidez do mercado e dos custos associados à criação de emprego. Não aconteceu “a bem”, mudando a legislação numa conjuntura mais favorável a acomodar os efeitos negativos. Acontece agora “a mal”, com as empresas a procederem aos acertos necessários ou, pior, a cortes irremediáveis que acompanham o seu processo de falência.
 
Há três tendências a notar: o desemprego, o outsourcing laboral e o subemprego. Do desemprego muito se fala, mas há outros fenómenos que merecem atenção. As empresas estão a deixar de contratar, recorrendo a empresas de trabalho temporário. Através deste outsourcing flexibilizam a mão-de-obra e o trabalhador é pago a “recibos verdes”. Mais grave é a situação de subemprego. Há cada vez mais trabalhadores a receber em dinheiro vivo, salários baixos, que acumulam ao subsídio de desemprego. Sabe-se de empresas que despedem os funcionários, voltando a “contratá-los” com total informalidade. Perde o Estado e perde o trabalhador.

Enquanto não se compreender que flexibilizar dá sustentabilidade ao mercado do trabalho e que as as medidas proteccionistas implicarão mais emprego precário, continuaremos a ter períodos de ineficiência seguidos de desemprego, subemprego, outsourcing e economia informal. Não será por acaso que as receitas do IVA desceram muito mais do que o PIB.

É o castigo.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Publicado no jornal Meia Hora em 6 de Maio de 2009


segunda-feira, 4 de maio de 2009

As Novas Gestapo

14 de Abril, voo Ryanair de Girona para o Porto. Assisto com espanto uma discussão entre clientes e tripulação, em que os segundos literalmente gritam aos primeiros, sem o mínimo de educação e saber estar, independente do juízo de valor sobre razão. Três dias depois, Porto-Madrid com a mesma companhia. Um membro da tripulação irlandesa – Oliver - avisou os passageiros que só se podiam sentar a partir da fila 7, num tom assertivo.
Os passageiros, que se assemelhavam mais a gado transportado do que clientes de uma companhia aérea, seguiram as ordens. Vários sentaram-se nas últimas filas, mas foram levantados pelo mesmo membro da tripulação, que decidiu depois que "depois da fila 21" também ninguém se sentava. Naturalmente, os passageiros protestavam, mas Oliver não vacilava, referindo que eram eles que deviam ter procurado "ficar todos juntos" no centro do avião (!) advertindo num tom jocoso e espanhol macarrónico : "quem não cumprir fica em terra".
É como a odiosa Gestapo : chegaria a ter piada de tão comicamente pouco razoável se não fosse verdade. O que preocupa nestes exemplos é a tendência. À medida que as empresa têm tanto sucesso que se afirmam numa liderança imbatível, surgem os tiques de autoritarismo típicos de um regime monopolista e a tendência para degradação de condições, agora que os concorrentes têm diminuta expressão.
Para o caso das empresas que pretendem ganhar quotas de mercado abusadoras por aquisição de unidades concorrentes existe a AdC. E para as empresas de sucesso, como se pode evitar que ganhem tanto espaço que se transformem num ninho de vespas repleta de mini ditadores?

domingo, 3 de maio de 2009

As Crises e os seus Ciclos

Ao longo da nossa História ocorreram várias crises e apesar da actual - “bolha” imobiliária e de crédito nascida nos EUA em 2007/2008 - ainda não ter terminado, também já faz parte dos registos dessa História. Os mais incautos demonstram sempre uma grande surpresa pelo surgimento das crises, tentando encontrar rapidamente os seus responsáveis e as razões da sua origem, levando à exploração máxima da sua teorização e, consequentemente, à divulgação de estudos e opiniões que tentem ajudar a encontrar saídas para a crise, muitas vezes desmistificando-a para tentar criar uma “onda” de optimismo que, ajude a ultrapassar os obstáculos e detectar oportunidades.
Mas, olhando para um estudo da variação percentual do Índice S&P 500, http://wallstreetblips.dailyradar.com/story/total_returns_from_1825_to_2008/, http://pt.wikipedia.org/wiki/S&P_500 podemos constatar que dos últimos 184 anos 30% apresentam variações negativas, ou seja um total de 55 anos. Ainda com base na análise deste Índice, o ano de 2008 ficará para a história como um dos piores de sempre, apresentando uma variação negativa superior a 30%. Igual ou pior só mesmo os anos de 1931 e 1937, com variações negativas superiores a 40 e 30%, respectivamente.
As crises acompanham-nos portanto ao longo de décadas e a actual, só deve ser considerada uma surpresa pela dimensão com que se manifestou, havendo quem a compare a um misto da Grande Depressão (1929-1932) e do Choque Petrolífero (1970). Aliás, se compararmos as principais características destas duas crises com a actual, em todas elas tivemos crise, no crédito, uma “bolha” nas matérias-primas, um problema de inflação e um problema de deflação (ainda possível na actual crise). A incógnita que ainda permanece é a duração que esta recessão global vai durar, incerteza que perturba a apetência pelo risco por parte dos investidores.
Mas, apesar dos mercados do crédito ainda não estarem a funcionar normalmente, dificultando o financiamento da actividade económica, e o mercado habitacional dos EUA ainda não ter estabilizado, já se nota que os menos incautos (investidores bem informados) andam a aproveitar alguma tendência flat do mercado, assumindo maiores riscos e a melhorar os seus retornos.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Investimento ao Vento

Muito se tem discutido sobre o investimento em obras públicas no nosso país, quais os projectos prioritários, e o seu real contributo como catalisador da economia nacional. O governo anuncia avanços, mas nunca apresentou um plano global de investimento, nem tão pouco apresentou medidas que pudessem acelerar os processos de adjudicação. Outro grande desígnio nacional tem sido a aposta em energias renováveis, mas na área em que se prevêem impactos mais significativo, os parques eólicos off shore, nada se apresentou. E o que anda a fazer o resto da Europa a este respeito? Dois exemplos muito recentes podem ser apontados:
Os nossos vizinhos, à boleia de uma renovação ministerial, traçaram um plano para o investimento em infra-estruturas públicas de aproximadamente 20.000 milhões divididos por alta velocidade, rede ferroviária, estradas e aeroportos. Reduzirão prazos nas declarações de impacto ambiental e eliminarão obstáculos burocráticos na disponibilização das verbas. Quanto ao critério da distribuição geográfica dos investimentos, pressões políticas à parte, será o da criação de maior número de postos de trabalho. O Reino Unido acaba de anunciar um concurso público para instalar 25.000 (MW) de energia eólica marinha até 2020 (que ocupará cerca de 3.600 Km2 de mar). Em 2025 esta fonte de energia no mar gerará mais emprego do que a terrestre. O ano eleitoral vem baralhar o avanço de investimentos estruturantes no nosso país, mas não pode servir de desculpa. Porque na verdade, como em vários outros aspectos, basta saber olhar para os lados para não nos enganarmos muito no caminho. Publicado no Jornal Meia-hora em 28.04.2009