sexta-feira, 8 de maio de 2009

Iniquidades (*)

Nas últimas semanas, a discussão em redor dos salários voltou à berlinda. Depois da desajustada revisão salarial na Função Pública, em alta, apesar da terrível conjuntura económica, aguardava-se para este primeiro semestre de 2009 a reacção do sector privado. Embora os dados sejam ainda parcos, a evidência parece apontar para a estagnação, na melhor hipótese, ou até para a redução do nível geral dos salários, a par do aumento do desemprego. O fenómeno é mundial, embora a economia portuguesa seja das mais débeis de toda a Europa. De resto, alguns sinais deste fenómeno já vêm de 2008 – pelo menos, no sector privado. De acordo com dados publicados pelo Jornal de Negócios, no ano passado, entre as 20 empresas cotadas no PSI20, em 8 destas registou-se uma redução do salário dos trabalhadores (administração excluída). Em média, um decréscimo de 8%. E entre os salários dos administradores, o corte foi ainda mais severo: quase 30%. Apesar de tudo, não o suficiente para reduzir o fosso entre salários médios dos administradores e dos restantes colaboradores que, agora, se situa em 22 vezes mais. Este valor, infelizmente, ainda é superior à média europeia, que aponta para uma diferença de apenas 15 vezes mais. Assim, a bem da paz social, as próximas reduções salariais devem voltar a repercutir-se mais do que proporcionalmente entre os administradores e não entre as hierarquias inferiores. É que a falta de produtividade ou os elevados custos unitários do trabalho não resultam apenas da baixa qualificação dos nossos trabalhadores. Decorrem também destas iniquidades. (*) Artigo publicado no jornal Meia Hora a 8/05/2009

1 comentário:

Ulf disse...

Penso que o espírito do artigo vai no sentido de dizer que há indivíduos que decidem em favor de causa própria e atribuem-se salários obscenos. Estou de acordo. Isso tem que acabar e é prejudicial ao bom funcionamento do mercado de emprego e leva a que as empresas estagnem já que os gestores já se encontram 'satisfeitos'.

Porém, essa mudança não se deve confundir com a decisão estapafúrdia de taxar a 75% os prémios. Isso será tema para um post (do Pedro Barbosa na próxima 2ª feira