quinta-feira, 5 de março de 2009

Parados no trânsito

Num destes dias estava de carro com a família na nossa viagem matinal em direcção à escola e emprego, ouvindo no rádio as habituais notícias sobre a crise e os dantescos números de despedimentos. Questionei-me se estas circunstâncias, que ganham relevância quando associadas ao endividamento das famílias e à necessária prioridade nas opções de consumo, não deveriam ter efeito no número de viaturas particulares, por vezes ocupadas só pelo condutor, que diariamente asseguram os movimentos pendulares casa-trabalho. Esta utilização predominante do transporte particular em detrimento do colectivo tem um conhecido impacto na nossa “dependência energética”, no ambiente (emissões atmosféricas e ruído) e na sociedade (tempo dispendido nos trajectos, stress).
Como inverter esta situação? Que alertas transmitir à sociedade? Aplicar “portagens” à entrada de viaturas nos centros urbanos (como a Congestion Charge em Londres)? Aumentar os incentivos estatais para manter ou reduzir as tarifas dos transportes públicos? Dissuadir a utilização do transporte individual, favorecendo políticas de car-sharing? Melhorar a rede de transportes públicos, aumentando em particular a sua complementaridade e difusão? Todas estas soluções foram já testadas, com melhores ou piores resultados, mas é importante melhorar a mobilidade urbana, tornando-a mais sustentável a médio e longo prazo.
É urgente que este caminho seja desenvolvido privilegiando uma abordagem realista à nossa sociedade e às nossas cidades. Mas será que tudo não deveria começar numa política eficaz e coerente de ordenamento do território?
Francisco Parada
Publicado no Jornal Meia Hora, dia 5/3/2009

2 comentários:

Anónimo disse...

Francisco,
Realmente todas essas soluções já foram testadas e possivelmente não tem sido possível chegar aos resultados desejados... Uma outra forma que penso que terá excelentes resultados tanto a nível pessoal e familiar (aumentando o tempo que passamos com a nossa família) como em termos ambientais é o que se tem começado a colocar em prática em outros países e que se começa ver no nosso, nomeadamente em algumas Câmaras, como pude constatar numa reunião que tive recentemente, que consiste no Teletrabalho. Ou seja, em vez de o trabalhador ir diariamente ao encontro do trabalho, este vem ao seu encontro. Claro que tudo isto só será possível fazer recorrendo à utilização de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Este tipo de trabalho evita os movimentos pendulares, diminui os congestionamentos nas grandes cidades em hora de ponta, evita as horas que se perdem diariamente dentro do carro, melhora a organização do território promovendo o desenvolvimento dos subúrbios e do meio rural, reduz a poluição atmosférica, reduz para a empresa as despesas com imobiliário pela diminuição do espaço no escritório, etc. Mas nem tudo são coisas boas, este tipo de organização corta com a interacção entre colegas, que considero muito importante, e não sei se será possível aplicar com resultados satisfatórios no nosso país uma vez que os países latinos ainda tem muito uma cultura em que o “chefe” tem que “ver” os seus colaboradores para se convencer que estão efectivamente a trabalhar, assim como há trabalhadores que só trabalham se estiverem na presença deste… é este tipo de mentalidades que têm que ser mudadas e não é fácil!
Em relação à aplicação de “portagens” à entrada das cidades não concordo com essa medida e por uma razão muito simples, não me parece justo as pessoas que optaram por não viver nos centros urbanos, com objectivo de melhorar o seu nível de vida, tenham que pagar para entrar nos mesmos para vir trabalhar… nunca ninguém se lembrou de colocar portagens para quem vai para a praia ao fim de semana, eu vou a pé e acredita que preferia não ter montanhas de carros a circular ao fim de semana no local onde moro… se as pessoas não pagam para ir passear também não me parece justo que eu tenha que pagar para vir trabalhar, só porque o meu local de trabalho é no centro da cidade… fica a ideia :)

Anónimo disse...

Concordo que o teletrabalho é a única solução. Tem problemas? Sim e não são poucos.

Um deles, que raramente se pensa, é que pode aumentar a poluição.

Por exemplo. Eu teletrabalho tipicamente 2 dias por semana, o que me causa algumas desvantagens, mas é um bom começo.

"Infelizmente" às vezes não resisto, vou sexta à noite para a casa que já foi dos meus antepassados, teletrabalho sábado, domingo, segunda e terça, quarta levanto-me muito cedo e chego a horas a Lisboa.

Durante cerca de 2 horas (+ duas horas para cá) a minha velocidade não desce dos 120 e quando estou relativamente consciente que não há polícia e estou sozinho, no carro e na estrada, vou MUITO acima.

Faz fiz as contas e gasto + gasolina que nas bichas...

José Simões