O provérbio diz que à mulher de César não basta ser séria – também precisa de o parecer. Pois bem, na sequência do apoio governamental concedido nos últimos meses à banca, os principais executivos do sector ligaram-se ao Estado num estranho matrimónio em que todos tentam parecer sérios, mas muitos não o são. Refiro-me, em particular, ao pagamento de prémios variáveis em instituições insolventes, resgatadas com o aval dos contribuintes, mas em que nem assim os banqueiros deixam de fazer pagar prémios nem deixam de os receber. O exemplo mais paradigmático é o que aconteceu na defunta Merrill Lynch (ML) – outrora o terceiro maior banco de investimento do mundo, mas que, mergulhada em más apostas “subprime”, entrou em falência técnica, tendo sido adquirida pelo Bank of América (BoA) com o aval parcial do Estado.
Soube-se na semana passada que em Dezembro, uns dias antes da aquisição se concretizar, foram pagos milhares de milhões de dólares em prémios variáveis aos quadros da ML, ao que consta sem a permissão do seu comprador, o BoA. A polémica está a dar que falar e, entretanto, o principal executivo da ML, John Thain, aquele que negociou a venda da empresa e que agora ficaria na administração do BoA, já foi demitido. Independentemente de quem tenha dado a ordem final, não é aceitável que os prémios sejam pagos. Na verdade, os accionistas de ambas as instituições deviam exigir a sua devolução. Porque o primeiro critério na atribuição generalizada de prémios tem sempre de ser o sucesso global da instituição e só depois a contribuição individual de cada um para esse sucesso.
(Artigo publicado no jornal Meia Hora a 27/12/2009)
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