terça-feira, 25 de novembro de 2008

A "desgraça" por anunciar - ACTUALIZAÇÃO 2



Mais uma actualização relativamente à economia chinesa.

Segundo o JP Morgan o consumidor chinês já está a dar sinais de alguma ansiedade. É certo que o governo está a tentar segurar a confiança, mas não é nada certo que tenha sucesso. O comentário a este report do JPM pode ser visto aqui no Financial Times.

Signs are emerging that the anxiety gripping consumers around the world is spreading to China, says Jing Ulrich, managing director and chairman of China equities at JPMorgan. “Despite the global economic slowdown, falling stock markets, multiple natural disasters and a stagnant housing sector, Chinese consumer spending had been remarkably resilient for most of this year – until what appears to have been markedly slower growth following the “Golden Week holiday in early October,” she says.

Ms Ulrich says major Chinese department stores have seen lighter traffic in recent weeks and the outlook is for continued deceleration in sales growth. “Our discussions with operators have found a similar slowdown among some apparel and luxury goods retailers. Even mass-market food retailers and fast food chains have shown signs of moderation since mid-October.”

Os defensores da teoria do decoupling (ver aqui) têm razões para reverem as suas posições, o que aliás já está acontecer (ver aqui).

NEW YORK (Reuters) - The notion that the U.S. is no longer the driver of world economic growth is in vogue on Wall Street, yet the idea that Europe and Asia have "decoupled" from the American economic engine may be more an investor hope than a sound investment theory.




Este era o texto de 12 de Novembro:

Apenas para dar nota de um dado novo a este texto. A China anunciou ontem que o seu superavit comercial foi o mais alto de sempre. Uma leitura desatenta resultaria numa conclusão simples: continuamos na mesma tendência, nada mudou, o "decoupling" está em curso. Mas isso não é verdade. Este record acontece devido ao abrandamento das importações. Da Economia sabemos que o Investimento é leading e o Consumo é lagging. Ou seja, já se nota a forte redução de investimento na China, mas as exportações [de bens de consumo] ainda resistem, se bem que já a desacelerar. Uma análise destes números pode ser encontrada aqui.

Os mais atentos poderão invocar o plano apresentado pela China como algo que evitará males maiores. Pode até ser que sim, mas deve dizer-se que a maior parte das despesas já tinham sido anunciadas ,pelo que não há muito de novo neste anúncio. Há realmente motivos para preocupação.







Este era o texto de 31 de Outubro:

Já toda a gente está a contar com um cenário no mínimo "cinzento" para os próximos tempos. Talvez grande parte das más notícias já se encontre descontada pelos mercados e por cada um de nós.
Mas parece ainda faltar um anúncio, uma má notícia por dar.

A China tem crescido a taxas perto de 10% nos últimos anos. Alguns analistas têm avisado que a economia chinesa já está a desacelerar, a ponto de este ano crescer "apenas" 7%. Infelizmente parece ser uma previsão optimista. A China pode já ter mesmo "parado" e a situação ser bem pior do que se diz. Alguns economistas "no terreno" têm dado conta do encerramento de muitas empresas, diminuição brusca do
consumo privado, mercado imobiliário em queda de 20% a 40%, excesso de stocks de matérias primas e queda de 30% no consumo de carvão nas centrais térmicas de produção de energia. Se a isto juntarmos a recente actuação do banco central e o excesso de navios nos portos, vazios e sem carga para transportar, temos razões para pensar que falta anunciar esta "desgraça" - o grande motor da economia mundial dos últimos anos já parou!

A crise só poderá "bater no fundo" quando todas as más notícias forem divulgadas. Até lá há que ter muita paciência e sangue frio. As empresas devem estar atentas à deterioração do seu ambiente operacional e que consequências isso terá na sua situação financeira. O nível de endividamento actual poderá ser adequado hoje, mas o mesmo pode não acontecer daqui a alguns meses. E nessa altura não é certo que a banca possa ter a liquidez necessária para emprestar a todos os que dela necessitam.

Filipe Garcia

Economista da IMF

Artigo publicado no jornal Meia Hora em 31 de Outubro de 2008 (pág. 9)


4 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se estás de acordo, mas as autoridades chinesas ainda tentarão lançar nos próximos meses algumas medidas expansionistas, se bem que já não evitarão um crescimento do PIB a 1 digito.

Ulf disse...

viva!

pois vao lançar... mas isso é apenas o reconhecimento de um abrandamento que ate aqui nao estava a ser descontado pelo mercado

o meu post inicial tinha esse propósito - falar do que ainda nao se falava

no fundo esse é talvez um dos grandes objectivos do Mercado Puro - tentar estar sempre um passinho à frente...

Ulf disse...

e ja agora, a proposito...
fresquinho!



http://www.actionforex.com/fundamental-analysis/daily-forex-fundamentals/china,-china,-china-...-a-nightmare-in-the-making?-2008120170435/

Anónimo disse...
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