sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A "desgraça" por anunciar



Já toda a gente está a contar com um cenário no mínimo "cinzento" para os próximos tempos. Talvez grande parte das más notícias já se encontre descontada pelos mercados e por cada um de nós.
Mas parece ainda faltar um anúncio, uma má notícia por dar.

A China tem crescido a taxas perto de 10% nos últimos anos. Alguns analistas têm avisado que a economia chinesa já está a desacelerar, a ponto de este ano crescer "apenas" 7%. Infelizmente parece ser uma previsão optimista. A China pode já ter mesmo "parado" e a situação ser bem pior do que se diz. Alguns economistas "no terreno" têm dado conta do encerramento de muitas empresas, diminuição brusca do
consumo privado, mercado imobiliário em queda de 20% a 40%, excesso de stocks de matérias primas e queda de 30% no consumo de carvão nas centrais térmicas de produção de energia. Se a isto juntarmos a recente actuação do banco central e o excesso de navios nos portos, vazios e sem carga para transportar, temos razões para pensar que falta anunciar esta "desgraça" - o grande motor da economia mundial dos últimos anos já parou!

A crise só poderá "bater no fundo" quando todas as más notícias forem divulgadas. Até lá há que ter muita paciência e sangue frio. As empresas devem estar atentas à deterioração do seu ambiente operacional e que consequências isso terá na sua situação financeira. O nível de endividamento actual poderá ser adequado hoje, mas o mesmo pode não acontecer daqui a alguns meses. E nessa altura não é certo que a banca possa ter a liquidez necessária para emprestar a todos os que dela necessitam.

Filipe Garcia
Economista da IMF

Artigo publicado no jornal Meia Hora em 31 de Outubro de 2008 (pág. 9)


6 comentários:

Anónimo disse...

Demasiado pessimista! Embora seja um facto que a fiabilidade das notícias que saem de fontes governamentais chineses seja de duvidar...

Quanto ao endividamento actual, e necessidade futura de ajustamento em baixa, concordo. Aliás, a Merrill Lynch publicou um estudo muito interessante acerca do endividamento do sector privado. O universo de análise foi os EUA, mas julgo que se poderá aplicar à Europa, embora em menor escala. As conclusões do estudo estão aqui:

http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2008/10/deflao_28.html

Ricardo Arroja

Anónimo disse...

A capacidade de mudança que "este novo mundo chinês" tem vindo a demonstrar é enorme. Estou convicto de que a agilidade desta economia é um bom prenúncio de para conseguir ultrapassar os obstáculos desta crise mais cedo do que se espera, conseguindo inclusive ser uma "âncora" para muitas economias mundiais e marcar a agenda mundial em muitos sectores.

Miguel Garcês disse...

A China milenar tal como a conhecemos e interpretamos é minha convicção ser uma percepção distorcida e enviesada da realidade. A China tem aproximadamente sete bancos, estatais. A China, aquando das negociações para a entrada na Organização Mundial do Comércio levou até às últimas consequências a abertura e liberalização do mercado financeiro. A China é um mundo dentro do mundo. A China tem 900.000M$ em reservas fora o investimento de carteira que tem feito em activos Norte Americanos nas duas últimas décadas.

Questões?

A China tem o poder de comprar os activos e participações nos maiores bancos e instituições financeiras Norte Americanos e Europeus?

A China tem o poder de controlar o tecido financeiro Norte Americano e Europeu?

A China tem um mercado interno, que fechado sobre si mesmo constitui um motor de desenvolvimento, se estimulado o consumo interno?

A China tem as chaves para colocar esse motor em funcionamento, através da valorização da moeda?

A China tem a possibilidade de usar o nível de poupança, aproximadamente 40% do GDP, como chave para ignição do consumo interno?

O Governo Chinês, tem a possibilidade de tomar medidas Keynesianas, utilizando as poupanças e ter um superávit, para estimular o investimento público e estimular o investimento privado?

A China tem influência política e economia regional na região para que se constitua uma espécie de mercado único (por exemplo com a Índia, Coreia, Japão e outros)?

A resposta positiva a estas questões, leva-me a pensar que a China tem vários graus de liberdade para reagir positivamente a esta crise!!!

A resposta positiva a estas questões manifesta a ironia do destino. Parte da solução da crise mundial, se existisse um mercado aberto e livre, passaria pela possibilidade de Países como a China e a Faixa Magrebina e Árabe injectarem capital tomando posições nas instituições que compõe a o tecido financeiro Norte-americano e Europeu. Mas isso, meus amigos, levar-nos-ia a outras questões de Geopolítica e Geoestratégia.

Ulf disse...

bom comentário Miguel, muito estruturado

não tenho duvidas nenhumas que a china está no caminho que quer e que esta crise não terá grande consequências de longo prazo

não responderia que sim a todas as 'questões', mas concordo que os chineses não estarão demasiadamente preocupados

agora o 'ponto' do meu post não era dizer que a china está mal; a minha ideia é q a china desacelerou e isso terá impacto no resto do mundo que estava a ser muito vendedor de matérias primas, tecnologia, bens de equipamento e produtos de maior valor acrescentado

a falta de procura da china provocará uma crise mais profunda no ocidente
é esse o meu ponto!

Filipe

Ulf disse...

é aí que eu já discuto
os indicadores que existem sao de setembro e no caso da alemanha, por exemplo, mostram uma queda de 1.6% homologa (estou a dizer os numeros de cabeça)

estou convencido que outubro vai ser pior e novembro pior ainda

como sabe,m já defendo isto ha uns tempos, ver em http://mercadopuro.blogspot.com/2008/10/o-que-vem-seguir-completo.html mas admito que possa estar errado, é claro

mas... nao creio :)

Ulf disse...

lá está, pelos vistos era mesmo preciso dar uma mãozinha...


News from Danske Research

On Sunday, the Chinese government announced a major new stimulus package estimated at CNY4 trillion (about USD570bn), to be spent over the next two years. The total size of the stimulus package is about 14.5% of GDP (based on 2008 estimates), or roughly 7% of GDP in spending per year.


Flash Comment - China: Massive fiscal stimulus package announced