quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O que vem a seguir? (3)

O que vem a seguir?
3. Os Mercados
Lembrando um texto do passado dia 11 de Setembro:
"A história é cíclica. A liberdade e a democracia estão a ser ameaçadas pelo regresso do autoritarismo. Os indícios são muitos e à vista de todos [...]  E às vezes o liberalismo também se "põe a jeito". A ganância e a fraca supervisão permitiram ao sistema financeiro aceitar riscos que hoje se pagam." 
A Regulação
É o tema "quente" do momento. Nesta altura procuram-se culpados para a crise e soluções simples, rápidas e eficazes. Sem discutir a pertinência de processos regulatórios mais fortes, parece claro que vão surgir, quanto mais não seja por exigência popular (e governamental). O caminhar para um ambiente de mercado menos liberal já não vem de agora e é coerente com uma tendência de maior autoritarismo a nível mundial. Tem-se notado uma certa tentação de os governos tomarem um papel mais interventivo nas economias. a actual crise oferece o terreno ideal para que tal suceda. consideramos que será cada vez mais díficil assegurar a independência total de entidades como os bancos centrais.
Ao nível do sistema financeiro é de esperar uma redobrada vigilância e legislação sobre a engenharia de produtos financeiros e sistemas de incentivos. Os activos das instituições financeiras, nomeadamente participações em empresas, serão mais escrutinados e as aquisições e alienações poderão mesmo ser alvo de validação prévia governamental. Os sistemas de rating, cujo carácter obsoleto veio à tona, deverão ser completamente modificados. Alguns aspectos de "Basileia II" serão colocados em causa - a crise ou acelerará a sua implementação ou o seu abandono. A regra do "mark-to-market" terá que ser revista de forma a prever situações extremas em que o mercado poderá não ter condições de formular um preço "razoável". De resto, a aplicação total do "mark-to-market" poderia levar à implosão do sistema.
Algumas destas medidas mostram-se hoje necessárias, mas não acreditamos que o futuro nos traga uma sistema financeiro mais eficiente e imune a crises desta ou de maior dimensão. 
Investimentos e tendências
Numa primeira fase é de esperar que os investidores passem a ter mais atenção ao risco de contraparte, até aqui muito negligenciado. Ou seja, importa saber, por exemplo num produto estruturado de capital garantido,  quem é o tomador firme do produto. Os riscos em geral passarão a ser mais valorizados, pelo menos durante algum tempo. O regresso às acções será paulatino e demorado, mas não nos parece que seja muito diferente de outros períodos da história. Os gestores de investimentos passarão a dar mais importância aos cenários menos prováveis. Tal implica a adopção de estratégias um pouco mais defensivas, sempre limitando as perdas.
Nestas alturas promove-se uma série de alterações com a expectativa que no futuro tudo será diferente. Não é isso que nos mostra a história. Mesmo que as medidas a ser tomadas venham a ter sucesso nos próximos tempos, será inocente pensar que não voltaremos a estar perante uma grave crise nos próximos 10 a 15 anos - o tempo necessário a que chegue aos lugares de chefia uma geração que ainda não sentiu verdadeiramente os efeitos de uma crise provocada pelo excesso.
(Esta é a terceira parte da Trilogia "O que vem a seguir?" 1. O Consumidor; 2. A Economia [portuguesa]; 3. Os Mercados)

3 comentários:

Anónimo disse...

Bons artigos!

Só não entendo por que é que escreves na primeira pessoa do plural!

E só não concordo contigo no que diz respeito ao mark to market. O princípio é excelente e surgiu na sequêcnia da fraude Enron. Por isso, o problema não é a aplicação da regra. É o lixo sobre a qual se tem de aplicar a regra!

abraço,
Ricardo Arroja

Ulf disse...

viva
qto ao plural depois explico-te por mail

no que diz respeito ao mark to market ver o comentario no portugal compemporaneo que passo a reproduzir

Apoio o mark-to-market `por todos os motivos e mais algum :) E' absolutamente essencial. Agora e' preciso que exista 'market' para fazer o 'mark'!

Apenas mecanicamente registar um preco que sabe-se la' com que liquidez foi efectuado so' porque foi a ultima negociacao... calma la'!

Alem que em momentos de panico nao ha bids e a consequencia da falta de liquidez do mercado pode ter consequencias graves nas instituicoes detentoras...

Um dia tentarei escrever algo mais consistente sobre o assunto, mas simplesmente fazer 'mark-to-market' cego... tenho as minhas duvidas...

Ulf disse...

ja agora so um alerta, os artigos sao na base do que eu acho que vai acontecer e nao tanto no que acho q devesse mudar!