quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O que vem a seguir? (2)

O que vem a seguir?
2. A Economia [portuguesa]
Portugal é uma economia aberta que está sujeita aos ciclos económicos dos principais parceiros. O facto de existirem poucos mecanismos proteccionistas e de se integrar de forma quase plena em todos os grandes mercados (monetário, cambial, capitais, mercadorias e serviços) apenas ilusoriamente se traduz numa maior vulnerabilidade a um 'outlook' económico negativo. Pelo contrário, é a integração da economia portuguesa que permite que se vá ajustando de forma contínua, dificultando a ocorrência de choques mais graves como os que prevemos acontecer em economias de dimensão semelhante, mas mais rígidas e intervencionadas como as da América Latina.
Em face do sucedido nos mercados financeiros a nível global, o PIB mundial terá de ser revisto em baixa de forma substancial. O FMI fala num crescimento mundial de 3% em 2009, números que consideramos muito optimistas. É discutível se iremos sequer testemunhar um crescimento positivo a nível global no próximo ano.
Portugal não estará imune a este cenário. Em 2008 a economia deverá crescer em cima dos 1% (talvez abaixo), com um prognóstico muito reservado para o ano seguinte. Analisemos então cada uma das componentes do PIB:
Consumo Privado - Já analisado no ponto 1. Como já referimos as perspectivas não são animadoras. Esperamos uma forte desaceleração no consumo privado, sobretudo em 2009, com a enorme dificuldade na obtenção de crédito a piorar o cenário. Melhorias só no fim de 2009, sendo optimista.
Consumo Público - É uma enorme interrogação. A equipa do Ministério das Finanças deve estar neste momento com uma grande dor de cabeça ao pensar no orçamento de 2009. Nesta altura ainda não é certo que tipo de meios terá de aplicar no auxílio ao sistema financeiro e às famílias, neste ano ou no próximo. Por outro lado o modelo escolhido para as obras públicas passa pelas parcerias público-privadas, mas as actuais dificuldades de financiamento obrigarão o Estado ou a avançar com mais verbas ou a cancelar inciativas. A tudo isto acresce a imprevisibilidade das receitas fiscais para 2009. 
Investimento - Regra geral investir implica confiança e uma expectativa positiva quanto à economia no médio prazo. Em face de tudo o que se tem observado as empresas estão mais preocupadas em sobreviver do que em crescer e, por outro lado, mesmo os investimentos de reposição e modernização poderão ficar comprometidos por falta de financiamento ou de confiança. Pelo menos até meados de 2009 não é de esperar alterações neste cenário negativo.
Comércio Externo - Uma parte significativa do crescimento estava a ser conseguido pelo bom desempenho do sector exportador. A queda do euro ajuda os exportadores, mas os nossos principais clientes - Espanha, Alemanha, EUA, Inglaterra e França - estão no epicentro da crise. A paralisação na Auto Europa é um aviso do que pode vir por aí. A queda dos preços do petróleo deverá ajudar a  Balança comercial, mas a menor procura de produtos refinados deve prejudicar uma das exportações com mais peso. Dada a rigidez de grande parte das importações nacionais é de esperar uma evolução negativa no comércio externo.
Então o quadro é péssimo para Portugal? Em termos relativos nem tudo será mau porque haverá países em piores circunstâncias, mas seria irrealista traçar um panorama risonho para os próximos 12 meses. 
O país deve aproveitar precisamente o que muitos apontam como sendo uma debilidade - a sua grande integração, nomeadamente no euro. Será no quadro da UE e da UEM que Portugal se poderá destacar, caso garanta o normal funcionamento do sistema financeiro e da economia em geral. Daqui poderá retirar importantes dividendos no futuro.
Algo que seria seguramente impossível caso se tratasse de uma economia isolada, como o caso da Islândia - na bancarrota - bem exemplifica.
(Este é a segunda parte da Trilogia "O que vem a seguir?" 1. O Consumidor; 2. A Economia [portuguesa]; 3. Os Mercados)

4 comentários:

Camisa disse...

"A média do "rácio de alavancagem" - que relaciona as dívidas dos bancos face aos seus activos - na Europa é de 35, enquanto que nos EUA é de 20."

seria possível indicar a fonte desta informação sff??

Ulf disse...

Trata-se de um estudo de Daniel Gros e Stefano Micossi para o Centre for European Policy Studies.

Obrigado por comentar.

Ver em:
http://blogs.wsj.com/economics/2008/09/22/european-banks-too-big-to-rescue/

Pedro Barbosa disse...

Como se pode interpretar uma descida na bolsa hoje, com uma medida de cortes de taxa de juro não esperada (tal como foi nao era esperada), coordenada entre EUA, UE e Asia??

Penso que se pode dizer que os analistas e investidores, em vez de interpretarem que a liquidez fica mais acessivel e portanto há menos risco, pensaram que se trata de uma media que por ser tomada a ssim só pode dizer uma coisa: desespero - pelo que pode piorar mais ainda. e como nao bateu no fundo...há que vender...

Em qq caso no médio prazo a medida parece ser boa, desde que a desconfiança não coma a margem que os BC libertaram...

Ulf disse...

vendo de longe acho q a reacçao das bolsas tem duas explicaçoes

uma é a que disseste - o mercado cheira o medo à distancia e lê nesta medida um certo descontrole das autoridades, o que não dá confiança a ninguém. Digamos que as autoridades ja estão a gastar muniçoes 'pesadas' e por isso estao a ficar com menos espaço de manobra...

a segunda razao é que este corte é a confirmação que o outlook economico para os proximos tempos degradou-se de forma muito seria, prejudicando os lucros futuros das empresas.

temos assim a conjugaçao de uma subida do premio de risco com a degradaçao do outlook.