O que vem a seguir?
1. O Consumidor
A crise financeira vai passar. Mais tarde ou mais cedo, com danos mais ou menos sérios, com mais ou menos vítimas... mas vai passar. Não é apenas a história que o diz, mas também a natureza dos processos evolutivos que caracterizam desde sempre a realidade económica. Interessa olhar um pouco mais para a frente e começar a pensar no que aí vem. Infelizmente não é possível ser optimista para os próximos tempos.
Partindo do princípio que da crise financeira não resultarão eventos demasiadamente graves como a queda de todo o sistema financeiro após corridas aos bancos ou falência de países ou grandes empresas - o que nos dias que correm é um pressuposto optimista - estimamos que os efeitos no consumidor apareçam já no final do ano. Os problemas poderão ser mascarados ou atenuados durante a época natalícia, mas aparecerão com toda a sua força a partir dessa altura.
Sem querer simplificar demasiadamente, o comportamento do consumidor depende essencialmente de 2 factores: rendimento disponível e confiança, sendo que o acesso ao crédito aparece como uma variável que pode condicionar ambos.
Não há muitas razões para acreditar num aumento do rendimento. Nesta altura já há sinais muito claros de estagnação no investimento e consumo de bens duradouros - a paragem da Auto Europa é apenas mais uma evidência. Estes são indicadores leading da evolução económica. Os salários dificilmente subirão e as contratações deverão ser reduzidas ao essencial. Apesar da crise, não é líquido que os preços desçam, pelo contrário.
A confiança dos consumidores já está a diminuir. Tudo indica que à medida que as empresas se forem debatendo com dificuldades de financiamento, os trabalhadores começarão a sentir os seus postos de trabalho em risco, ou pelo menos a progressão de carreira.
Prever dificuldades no acesso ao crédito quase não é uma previsão. Vai mesmo acontecer e de forma generalizada. Atingirá bancos, empresas, particulares e até o Governo. O menor acesso ao crédito diminuirá o rendimento disponível e afectará a confiança já que os consumidores ficam mais inseguros e com menos opções em aberto.
Se este cenário se materializar, toda a economia entrará em sérias dificuldades e durante algum tempo. "Adivinhamos" que o retalho seja gravemente atingido nesta crise - provavelmente a principal vítima. Os retalhistas poderão adoptar uma posição de risk-takers, concedendo crédito aos consumidores, à boa maneira da década de 80 quando os bancos não se atreviam a apostar no crédito ao consumo e como hoje ainda se faz nos países emergentes. É uma saída arriscada, mas não parece que existam muitas mais!
(Este é a primeira parte da Trilogia "O que vem a seguir?" 1. O Consumidor; 2. A Economia [portuguesa]; 3. Os Mercados)
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