“O hoje é a única certeza que tenho”, confessa o João com um olhar despreocupado. Num rápido processo mental, percorro as novas tendências de consumo globais e rotulo-o de hedonista.
O João não vota nem acredita na política, mas faz parte de várias comunidades online, onde cria intensas redes de contactos e novas relações. Não se interessa por questões sociais, mas é acérrimo defensor do seu clube e das suas marcas preferidas. Recusa-se a ler notícias, mas é invadido por mensagens ao longo do dia e não sobrevive sem Internet. Não quer construir um plano de poupança, mas agarra as promoções e os saldos, numa selecção racional em que o estilo se sobrepõe aos logótipos.
Para o João, viver tem de ser agora e a paixão é um sentimento intenso, mas efémero. Nada é seguro, nada é para sempre. Constato que, apenas numa década, o tempo sofreu um inegável fenómeno de compressão: tudo é mais urgente e fugaz.
Aperto-o nos meus braços e imagino toda a sua vida pela frente, repleta de pequenas felicidades: vejo-o a descobrir o mundo, a entregar-se à pessoa certa, a embalar o primeiro filho … mas o seu sorriso meigo entrega-me o desejo de viver como se não tivesse amanhã. O mundo é enorme e o futuro incerto, pensa o João. O mundo ao ficar pequeno afastou-nos, penso ao abraçá-lo.
Os mais jovens vêem-se como consumidores passivos de reportagens sensacionalistas, incapazes de encontrar a sustentabilidade das estruturas que montámos, sem ideologias, sem futuro ecológico, talvez mesmo sem nenhum futuro. Que discursos lhes são dirigido diariamente, quando ligam o telejornal à hora de jantar? Que mensagens lhes são atiradas, sem pensar?
Estará o João errado? Não sei… mas algo tem de mudar.
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