quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Votar não é para todos



A tese do "divórcio" entre os portugueses e a política parece reforçada com 40% de abstencionistas nas legislativas - um "aumento" face aos 35.8% de 2005. É uma ideia discutível porque, em Portugal, votar não é para todos e o processo não se encontra bem organizado.

No domingo passado votaram cerca de 5,7 milhões de eleitores. Em 2005 foram apenas mais 50 mil. A taxa de abstenção subiu, mas por outros motivos:

- Os cadernos eleitorais contêm muitos eleitores "fantasma". Portugueses que já faleceram, ou que já não residem em Portugal e imigrantes. Há distritos, como Vila Real e Bragança, com mais eleitores que habitantes. Aliás, estão inscritos 9,3 milhões de eleitores, mas estima-se (INE) que haja em Portugal apenas 8,6 milhões de adultos.
- Há cada vez mais cidadãos deslocados, dentro do país ou no estrangeiro. Trabalhadores, estudantes, indivíduos em trânsito, doentes ou de férias, que estão privados de exercer o seu direito porque o país não lhes oferece as condições de o fazer.
- Os métodos de votação para internados, emigrantes, militares são difíceis de utilizar e há recenseados automaticamente que não sabem que podem votar.
É delicado alterar procedimentos eleitorais, mas o assunto é pouco explorado porque o número de eleitores tem influência nos mandatos por distrito e no orçamento das juntas de freguesia.

Votar é difícil e é um privilégio. Há que estar bem de saúde e ter as condições, até financeiras, de poder deslocar-se à freguesia de recenseamento, naquele dia, àquelas horas.
Não é para todos..

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Metro em 1 de Outubro de 2009



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