sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Paradoxo nos Preços

Estimativas, projecções e previsões são hoje a menor de todas as prudências, tendo em conta não só o não-conhecimento de Taleb, mas sobretudo a imprevisibilidade do efeito dominó da crise financeira e da evolução sócio-politica na Ásia e Médio Oriente na era pós-Obama. Ainda assim, arriscarei falar sobre tendências de preços em 2009, face ao paradoxo que se avizinha. Parece consensual que os preços vão subir pouco ou nada. Um consenso forçado, porque apesar da taxa de juro ter descido, o custo do dinheiro cresceu, fruto de alterações em ratings e spreads. No entanto, do FMI à CE, dos jornalistas aos especialistas em Economia, do BdP ao Governo, ninguém parece ter dúvidas: a inflacção está controlada e terá valores reduzidos. Não é tudo. 2009 será o ano em que muitos operadores aproveitarão para fazer crescer as margens – sobretudo aqueles onde estas são tradicionalmente baixas e discutidas no mercado de forma intensa. O caso mais óbvio é o dos produtos alimentares de marcas brancas/próprias, cujos markups já começaram há muito e se vão prolongar em 2009. As operadoras de telecomunicações aumentarão em 2,5% os seus pricings e reduzirão os markdowns de campanhas horizontais. O exemplo mais importante chegará da electrónica de consumo, onde os fabricantes e os retalhistas especializados deverão aumentar as margens médias e atenuar o skimming como forma de compensar a quebra de rotação. Aplicável a outros sectores da economia, este aumento por posicionamento é um paradoxo em ano de controle esperado de preços. Falta saber se tem relevância no panorama da economia real como um todo.
Publicado no Jornal Meia Hora de 6/2/2009

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