Há quem diga que não há coincidências. Suspeito que só podem ter razão. Os últimos livros que me passaram pelas mãos têm sempre cerca de 270 páginas. (Inside Steve’s Brain, 264;A Lógica Oculta da Vida 265;Blue Ocean,262;Wikinomics,289;The Future of Management,265; Blink, 276). Parece coincidência, mas não é.
Há uma ideia subjacente ao livro, uma mensagem que se pretende passar (new stream), cujo valor é elevado, sobretudo o ROI por página apreendida. Depois, estica-se a ideia com explanações diversas e comentários avulsos ou métodos de implementação teóricos (side stuff), em mais 150 páginas, num tortuoso processo que pretende aparentemente justificar o preço de capa dos livros.
Nestes livros de gestão parece que há um número mínimo de páginas a cumprir para estar no modelo “best seller”, o que constitui um formato muito pouco racional sobre o valor que se extrai de cada obra – a decisão das editoras de pressionar autores a um conceito ao quilo não é contudo a causa, mas a consequência do comportamento dos leitores no seu ciclo de compra.
Relembro os ensinamentos de Kim&Mauborgne: “inovação sem valor são pioneirismos com baixo valor agregado”. Muitas empresas, como estas editoras, procuram a inovação pela inovação, e não pelo valor, e acabam por serultrapassadas pelos “Fast Second´s” do seu mercado.
Quanto a mim, aprendi a ler com toda a atenção as primeiras 70 a 100 páginas e construir um modelo de leitura diagonal para as restantes, corrigindo a deficiência criada artificialmente pelas editoras, para modelizar os livros ao formato que mais vende, como se o nosso tempo lhes pertencesse.
Publicado no Jornal Meia-Hora a 14 de Novembro 2008
Sem comentários:
Enviar um comentário