Há algumas semanas atrás, defendi nesta rubrica a incapacidade auto reguladora do actual sistema financeiro e a necessidade de maior intervenção estatal. Contudo, existe uma fronteira que urge salvaguardar no inevitável ímpeto reformista que agora se seguirá: a economia de mercado.
Esta crise não põe em causa o capitalismo. Apenas coloca em dúvida o sistema de incentivos que existe em redor do capitalismo, em particular aqueles que decorrem do excesso de criação monetária. Ao longo de décadas, os bancos centrais emitiram moeda em excesso, os bancos comerciais exageraram na concessão de crédito e os bancos de investimento inventaram produtos exóticos. Os reguladores não acompanharam a inovação e as sociedades de “rating” ajoelharam-se perante quem sempre lhes pagou pelos seus serviços – os bancos.
Portanto, agora há que actuar sobre a origem deste sistema de incentivos. Primeiro, os bancos centrais, que não podem continuar a imprimir papel conforme lhes apetece. O dinheiro, provavelmente, necessita de voltar a ter um qualquer suporte tangível. Segundo, os bancos comerciais, que têm de ser mais conservadores. Terceiro, as lacunas na lei, que permitiram o crescimento de mercados não cotados à margem da regulação pública culminado em risco sistémico, e que têm de ser eliminadas. Quarto, a regulação privada, representada nas sociedades de “rating”, que tem de ser paga por quem compra e não por quem vende. E ponto final. A reforma pára aqui. E o capitalismo retoma o seu caminho – sem acidentes de percurso.
Artigo publicado no jornal “Meia Hora” a 10/10/2008
Sem comentários:
Enviar um comentário