A propósito da reflexão do Pedro Barbosa intitulada “Quo vadis Norte?”
Começo por dizer que me parece absolutamente evidente que o Norte perdeu tempo e espaço. Diria mesmo que a Região está hoje mais acanhada e circunscrita que nunca.
É esta fraqueza fruto das dificuldades que o tecido económico, sobretudo empresarial, atravessa? Sentiu mais a economia do Norte, assente numa base industrial mais tradicional, a mudança de paradigma que a globalização impôs nas últimas décadas? Provavelmente sim. Tudo isto contribuiu para o ”apagão” do Norte. Os grandes desafios dos últimos tempos abanaram e desarticularam as bases onde o sistema económico regional estava fundado. Será preciso, portanto, refundar a Região.
Todavia, ainda que possamos voltar ao tema da competitividade mais tarde, gostava agora de tocar uma outra evidência: como é que esta aparente timidez se liga à perda de protagonistas a Norte. Isto é, faltam vozes esclarecidas capazes de assumir um discurso positivo, objectivo e futurista para a Região; de por o dedo na ferida quando necessário; e enfrentar o desmesurado centralismo que o nosso país representa.
Quem deve/ pode e tem falado pelo Norte? - É a pergunta que vos lanço.
Para início de conversa junto algumas notas, escritas ao correr das teclas:
Rui Rio parece ser uma voz a escutar. Forte nas convicções, sem grandes peneiras vai directo ao assunto. Infelizmente para quem esperava mais, tem-se perdido no seu concelho e nas suas guerras... Parece esquecer que o presidente da Câmara do Porto é também, à sua medida, um porta-voz do Norte. Aparece sobretudo (apenas?) quando a cidade está em questão. Neste sentido fala pouco e baixo.
Carlos Lage, enquanto presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional da Região do Norte (CCDR-N) deveria ser uma voz conhecedora, muito esclarecida e escutada. Não é nada disto. Tem tido poucas e más intervenções, buscando, no meu ponto de vista, o discurso regionalista na essência mais básica e triste. Não tem tido peso nem espaço. Quem de nós o conhece? Poucos o ouvem e sinto que ninguém o escuta.
Daniel Bessa. O reputado economista e professor universitário não tem aparecido com grandes preocupações sobre a Região. É obviamente um dos grandes valores da região (leia-se um importante activo), com prestígio público e espaço mediático considerável. Percebendo que a sua dimensão é nacional, logo que não queira vincular-se excessivamente a um discurso regional, mais pequeno e, provavelmente, menos valorizado, merecia mais tempo de antena dedicado ao Norte.
Rui Moreira arrisca ser a voz do Norte mais escutada. Fala, escreve e, soube este fim-de-semana, também fotografa. Sereno e muitas vezes directo, parece faltar-lhe algum peso político ou maior importância à instituição que preside. Por outro lado, apresenta intervenções bastante dispersas: é difícil aceitarmos que fale com a mesma convicção das opções para o Aeroporto de Lisboa, da perda de competitividade do Norte e da importância do Lucho no meio campo do FCP…
Belmiro e Paulo Azevedo. A passagem de testemunho não é fácil. Paulo não é Belmiro, nem no tempo nem no estilo. Este construiu uma voz reivindicativa, sonora, tantas vezes acutilante; daquele não se conhecem grandes opiniões sobre o papel da região. O que não deixa de ser estranho para o presidente do maior grupo económico nortenho…
Pinto da Costa. Queria tirar o clubismo desta reflexão, mas é inquestionável o espaço mediático que esta longa voz ocupa. Talvez tenhamos bastante a aprender sobre métodos e longevidade na relação com o espaço público.
Vêm-me à memória outras vozes, hoje quase rumores… Artur Santos Silva; Ludgero Marques; Braga da Cruz; Valente de Oliveira…
Essa pronúncia do Norte.
8 comentários:
Luis, o teu texto parece que vem na sequência da reunião que RR marcou para o Europarque sobreo modelo de gestão do Aeroporto Sá Carneiro. Estavam lá todos: Rui Rio, Rui Moreira, Lud. Marques, valente de Oliveira....(só faltava o Pinto da Costa).
Mal se levantaram os problemas que decorrem de um excessivo centralismo, vieram ao de cima todas as vozes da regionalização no erudito publico presente. Ora, se bem compreendo ( e até concordo)com argumentos regionalistas, já não me parece bem que em qq acção se use a regionalização como arma. São esses tipos de movimentos que acabam por ser pouco eficazes e lidos erradamente pela opinião pública.
Acho que o Pedro barbosa tem raz-ao mas tendo estado no Europarque faço aqui uma nota sobre o discurso de Rui Moreira que não falou de regionalização: falou de forma técnica e estatégica quando citou o "enxoval". Pareceu-me muito bem. Nunca o tinha ouvido ao vivo, odeio futebol e por isso tinha pouca consideração e até um"parti pris" contra ele mas, de facto, pareceu-me muito assertivo e bem preparado neste tema.
Não há qualquer dúvida que o Rui Moreira está em grande, e com uma nmotivação muito grande. Mas falta lhe notoriedade no grande publico ainda.
Em qualquer caso, o preocupante não são as vozes da reunião, mas a eficácia (ou a falta dela) dos resultados.
Pedro Barbosa
O problema do Norte está... No Porto. Quase todos esses personagens referidos assentam arraiais no... Porto.
Ora o passado da História recente mostrou ao restante Norte que o Porto é uma espécie de Lisboa em miniatura. Essa é a tragédia maior do Norte. E é por isso que o regionalismo do Porto é quase ignorado pelas restantes forças vivas do Norte.
Mas o problema do Norte é o seguinte. Se o Norte deseja a Liberdade e viver melhor só tem um caminho: reinvendicar a Independência. Mas para a fazer é preciso acreditar nela e saber assumir o risco de ficar mesmo Independente. Uma ameaça só é real quando existe uma real intenção de a executar e não apenas fazer bluff.
O problema do Norte é mais complexo que a existência de meras vozes regionalistas. É haver uma inconsequência entre o discurso e os actos. Sem falar na mistura pouco saudável entre futebol e política regional. O que desprestigia ainda mais o pensamento regionalista.
Por fim, indo mais longe. Quais as vozes regionalistas a Norte que não sejam conotadas com o Porto, Cidade?
Mas, repito, se se querem levar a sério exijam a Independência do Norte. Se não estiverem dispostos a viverem sózinhos e independentes esqueçam as ideias regionalistas. Só retira ainda mais capacidade política ao Norte.
anti-comuna
O tema destas intervenções não é, na minha opinião, a regionalização. Muito menos a independência, que é conversa centralista para desargumentar o tema.
Já sobre o polo cidade do Porto versus Norte, todas as regiões precisam de uma ou duas cidades que polarizem (aeroporto, desde logo). Não vejo que drama tem isso, sobretudo com as cidades que o Norte tem - é a zona do país com mais cidades por m2, cidades de dimensão pequena ou média, de onde Braga se destaca também como 3º polo do país.
Em qq caso penso que o quei está em causa é a procura de soluções eficazes para a região, e que não assistamos todos ao lento declineo, de uma região que está no fim dos fundos da Europa neste momento. É por exemplo inadmissivel que o Metro do Porto esteja parado há 3 anos, quando é um projecto do maior interesse economico e social na região, não só para o Porto, mas para toda a micro região à sua volta, de Espinho à Póvoa ou Santo Tirso .
Não há estratégias vencedoras, sem líderes à altura. A região precisa que a sua elite se reúna, pense e actue. Organizar um conjunto de células cinzentas dispostas a alcançar uma visão para o Norte. Tudo fica mais fácil se existir uma voz agregadora, de comando, de referência. Essa é a questão.
A independência não centra em nada com o conteúdo do post. Aliás, na minha opinião, é uma questão sem sentido - tal e qual afirma o Pedro: serve apenas para criar ruído em torno do tema; isto é, não resolve o problema de fundo que está intimamente ligado à ausência de rumo, logo à falta de congregação de esforços para um fim comum.
O argumento aqui é, de facto, a morte lenta que a região do Norte vem tendo, associada a um desapropriado centralismo que condiciona o desenvolvimento do país a questões macro, quase exclusivamente centradas em Lisboa. Porém, esse centralismo acontece também por falta de posição do Norte. Por omissão ou falta de comparência das vozes de cá. E voltamos ao argumento: quem fala pelo Norte?
Por último, uma pequena nota sobre o Porto. O Porto, queiramos ou não, é a proxy do Norte. Não é todo o Norte, é certo. Mas é a sua bandeira. E deve assumi-la! Tal como Lisboa não é o "resto" do país, mas representa as grandes opções estratégicas.
Quando digo, por exemplo, que o Rui Rio perde, na minha opinião, por ter um discurso excessivamente centrado na cidade, quero dizer que lhe falta essa dimensão mais global e agregadora.
Note-se porém um ponto fulcral: não se defende qualquer discurso "contra", mas sim "a favor de". Daí que, uma vez mais, não centra nada com independência (ou até mesmo regionalização); pelo contrário, visa afirmação.
Luís Ferreira.
"Muito menos a independência, que é conversa centralista para desargumentar o tema."
Com essa é que fiquei espantado! :-0
Estou sempre a aprender. ;-)
Apenas, lembro aos amigos, que o Norte não começa nem acaba na Circunvalção. E eu conheço o minimo de História do Norte para saber que o comportamento actual de Lisboa foi durante anos o comportamento do Porto. E que ainda hoje existem resquicios desse pensamento centralista da Rotunda da Boavista. E passo a exemplificar:
"Parece esquecer que o presidente da Câmara do Porto é também, à sua medida, um porta-voz do Norte. Aparece sobretudo (apenas?) quando a cidade está em questão. Neste sentido fala pouco e baixo."
Que se saiba, ele é apenas e só o edil do Porto. Ainda mais nada que isso.
Acho que os meus amigos ainda não compreenderam bem qual o verdadeiro problema do Norte. Falam de Regionalização mas depois...
Esqueçam as minhas sugestões. Daqui a 30 anos continuar-se-á com a mesma lenga-lenga do costume no tocante à regionalização.
anti-comuna
ontem estava num daquele ''passa la em casa mais logo'' que os brasileiros tanto fazem e que nos deveriamos aprender tb a fazer
fechamo-nos muito em nossas casas e por isso so' temos os blogues para trocar ideias :)
pois bem, estavamos a falar dos problemas do brasil em geral e do para' em particular e lancei uma 'bomba' qdo perguntei se achavam q o estado nao ficaria melhor se fosse independente - no brasil esse e' um tema q nem chega a ser tabu, ele simplesmente nao e' cogitado!
na minha opiniao todas as hipoteses devem estar em aberto
nao faco questao de ser independente, de ter um norte independente, um norte de portugal galiza, o q seja, mas acho q se esse for o caminho para uma vida melhor, porque nao? a historia faz-se de mudanca e nao de coisas que nao mexemos so' pq nao as queremos discutir!
a discussao esta' boa!
xauzinho e 3a feira ja estou de volta ao frio!
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