sábado, 25 de outubro de 2008

Mercados desconfiados da Europa




Nesta sexta-feira cumpriram-se 89 anos sobre o famoso crash bolsista de 1929. Este ano o dia voltou a ser animado - um dos dias mais movimentados da história recente do mercado cambial. Apenas me recordo de movimentos desta grandeza e volatilidade em Outubro de 1998 no dia em que a Rússia não conseguiu honrar os seus compromissos, já num contexto de crise asiática. Não é nada comum ver moedas do G7 a variar 16% num dia entre si – foi quanto a libra caiu face ao iene (o euro esteve a perder 10%). Aliás este foi o pior dia para a moeda britânica desde a crise do SME em 1992, em que abandonou o sistema. As volatilidades implícitas estão em máximos históricos, o que além de significar que é caríssimo construir estratégias com opções, dá a entender que os próprios operadores de mercado estão à espera de mais dias agitados e sem fazer ideia para onde vão as taxas de câmbio. Em momentos como estes o melhor parece ser evitar decisões radicais. São períodos de grande tensão e emoção, normalmente más conselheiras. Porém, devem ser tratados objectivos e limites.


Os movimentos mais recentes nas moedas estão relacionados com a liquidação de posições de investimento a nível global e posterior repatriação de capitais e ainda com o processo em curso de redução de alavancagem no sistema financeiro. A liquidez é procurada por todos – “Cash is King”. É isso que justifica que as moedas que saem “vencedoras” sejam o dólar, iene e franco suíço. Estas divisas foram muito utilizadas nos últimos anos para endividamento para alavancar fundos de investimento que se encontram agora em grandes dificuldades e que estão obrigados a sair a qualquer preço, seja nas acções, seja no câmbio. Adicionalmente há necessidade dessas divisas nos países de origem, sobretudo EUA e Japão, o que força a repatriação.


O mercado está também muito “desconfiado” da solidez das contas na Zona Euro e Reino Unido e da capacidade de reacção efectiva do sistema financeiro e da economia como um todo. Há sinais aparentemente inócuos, mas que devem ser lidos com alguma atenção. O facto de a Dinamarca se ter visto forçada a subir as taxas de juro em 0,5% no contexto actual parece querer dizer que os capitais não se estão a sentir seguros na Europa, mesmo na que não é “emergente”. A queda da coroa da Noruega, ainda que com a ajuda do petróleo, é um indicador no mesmo sentido.


O que parece evidente é que a crise financeira está ainda muito longe de terminar e que será necessária muita paciência e sangue frio. As empresas devem estar sobretudo atentas à deterioração do seu ambiente operacional e que consequências essa alteração poderá trazer para a sua situação financeira futura. O nível de endividamento actual poderá ser adequado hoje, mas o mesmo pode não acontecer daqui a alguns meses.


E nessa altura não é certo que a banca possa ter a liquidez necessária para emprestar a todos os que dela necessitam.


2 comentários:

Anónimo disse...

Parece ser uma excelente análise. Concordo.
Evitar "decisões radicais" é que nem sempre é possível, especialmente quando se assumiram prévios compromissos e existe esta "fome" de liquidez...

Anónimo disse...

Concordo em tudo Filipe, mas na minha opinião a “Europa do Euro” é capaz de não estar tão exposta à desconfiança dos mercados, dado ter uma moeda forte e prestigiada, atraente (ainda, apesar de tudo) para as potências comerciais emergentes. Agora, os Bancos Centrais do Reino Unido, países escandinavos, suíça e “Europa fora do euro”, aí sim, já estarão com mais dificuldades ao precisarem de concertar preços com as políticas do BCE.