sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Dissonância Cognitiva

Há crise em Portugal? Se procurar nas televisões e nos jornais, certamente se sentirá tentado a responder que sim. Mas se procurar nos corredores de uma qualquer grande superfície comercial, em Lisboa ou no Porto, provavelmente dirá que não. Existe no nosso país uma reacção ambivalente perante a crise financeira: todos a reconhecem, mas poucos se ajustam. Nos Estados Unidos, o epicentro desta crise, o consumo já está em contracção – cerca de 2% face ao ano anterior. A concessão de crédito também baixou. Na sua última leitura, o crédito ao consumo registou uma redução de 8 mil milhões de dólares – a maior de sempre na América. Na Europa, o consumo, em geral, também está a baixar ao mesmo ritmo: perto de 2% ao ano. Por outro lado, tanto num sítio como no outro, a produção industrial está em queda, sinal de que a contracção do crédito já afecta o investimento. Estranhamente, em Portugal, o consumo continua a aumentar ao ritmo anual de 1,5%. Quanto à nossa produção industrial, essa acompanha a tendência mundial e está em contracção. Hoje em dia, o consumo e o investimento representam em conjunto 85% da criação de riqueza do país. Por isso, os dados referidos constituem motivo de preocupação. Em particular, junto dos países mais endividados, mais rígidos e mais iludidos, como Portugal. No espírito da multidão, contudo, não se passa nada de muito anormal. De resto, é também essa a tese do economista Milton Friedman em “The Permanent Income Hypothesis”. A ilusão tende a desaparecer, mas apenas através do desemprego estrutural. Artigo publicado no jornal “Meia Hora” a 24/10/2008

5 comentários:

Pedro Barbosa disse...

Ricardo,

Na economia real a retracçao do consumo já se faz sentir,. Nao te falo de indices macroeconomicos, mas de tendencias reaisi nos operadores de mercado, com poucas excepçoes.

As pessoas vao se ajustando, mais por desconfiança do que por necessidade.

Anónimo disse...

Pedro: ainda bem que a "anecdotal evidence" já se faz sentir. Mas suspeito que ainda não é generalizado - o que é muito mau!

Um abraço,
ra

João disse...

Em relação às superfícies comerciais de facto vê-se imensa gente... mas talvez mais nos corredores do que de facto dentro das lojas...

Ulf disse...

queria ainda escrever sobre esse asssunto, mas posso ir adiantando que os indicadores avançados são muito preocupantes

está tudo parado, é só falar com as empresas

o consumidor é muito lagging, assim como os defalts

vem aí "molho", lamento dizer...

Pedro Barbosa disse...

Exacto, Filipe.

O consumo privado é totalmente lagging, aliás raramente decresce ,esmo nas crises.

No entanto chamo a atenção para factos como estes: nas superficies aliemntares só os pereciveis se aguentam (graças à inflacção)com as mesmas vendas em valor. oss bazares estão em queda livre, sobretudo o mais pesado.

Recordo ainda que o consumo de viaturas automóveis na peninsula tende a cair entre 30 a 40% neste semestre e acredito que há vários concessionários que v~ºao fechar as portas muito em breve.

O rollout da crise financeira para a real faz-se de forma progressiva, falta saber a força ddos incentivos centraius, em especial em Espanha ((cujos superavits dos ultimso anos permitem delirios ...)