terça-feira, 28 de outubro de 2008

Magalhães

Se olharmos para um planisfério, como aqueles que estavam pendurados nas salas de aula das escolas primárias, vemos que poucos nomes de navegadores portugueses ficaram associados à geografia mundial. Cinco séculos depois, um computador portátil, que mais parece uma torradeira futurista, renova as esperanças dos historiadores de reavivar o tributo (mais que justo) a um dos mais notáveis pioneiros portugueses. Mas, será que honrará como é devido? Vejamos. O portátil Magalhães de pioneiro tem pouco. A ideia, a tecnologia, já existem há muito. Idealizado por uma empresa americana (que obviamente salienta a excelência “do caso português”), entretanto transformada em conselheira tecnológica do Estado. Montado por uma empresa portuguesa, que notícias referem ter estado com um processo fiscal e que alegadamente não tem qualquer relação contratual com o Estado. Quem paga este esforço sócio-tecnológico? Não se percebe muito bem. Para além do Estado, os operadores móveis e as autarquias, aparentemente. Os apelos governamentais para que os pais se esforcem para proporcionar o acesso à Internet aos seus filhos levam-nos a pensar que sim. Quanto às autarquias, desconfio que nem elas perceberam. O mérito da iniciativa é indiscutível. A médio prazo teremos mais pessoas preparadas para lidar com a tecnologia e, mais importante, com a sociedade do futuro. O que não cessa de me intrigar é a incapacidade de tornar transparentes as boas iniciativas e promovê-las pelos seus reais méritos e não por uma quase inacreditável cobertura mediática. É verdade, já me esquecia. Houve algum concurso público? (Artigo publicado no jornal “Meia Hora” a 28/10/2008)

2 comentários:

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo. Há 15 anos atrás, estava eu a visitar o Museu Nacional de Nova York e deparei num dos largos corredores do Museu, em frente a uma das várias montras com espécies animais, com um conjunto de miúdos sentados no chão e a ouvir atentamente a sua professora, também ela sentada no chão. Chamou-me a atenção a idade dos miúdos (andariam numa classe equivalente a uma das nossas da primária) e estavam a transcrever para um portátil o que a professora lhes transmitia. Há 10 anos atrás, aprender era assim em NY. A nossa escola está a dar agora os primeiros passos na era tecnológica. É sem dúvida uma boa iniciativa, mas também concordo que o mais importante é fazer e não andar a gastar tempo e dinheiro a promover o que se faz. Em qualquer projecto, quando se exagera no mérito da iniciativa e na qualidade do produto, o mercado acaba por se ressentir mais tarde. O mercado está ávido de transparência.

Pedro Barbosa disse...

Estou de acordo com tudo e questiono seriamente a qualidade do produto. No entanto calo-me se a custa de tudo isto forem feitos bons negocios de exportaçao, seja para os PALOP ou para outros destinos...