terça-feira, 9 de setembro de 2008
O elefante branco
1. A Tailândia é um reconhecido país asiático onde vivem cerca de 65 milhões de almas (na capital Banguecoque viverão cerca de 10 milhões) que, na sua grande maioria (85%), compartilham a mesma cultura e língua – thai – e professam o Budismo.
A sua estrutura política é de monarquia constitucional. O rei Bhumibol Adulyadej, soberano tailandês desde 1946, tem pouco poder directo sob a constituição mas é um símbolo da identidade e da unidade nacional. Possui um enorme respeito do povo e grande autoridade moral, que usa para resolver as crises políticas que ameaçaram (e ameaçam) a estabilidade nacional.
Não obstante as tumultuosas notícias que agora nos chegam, foi por lá, em tempo de estio, que revisitei a estória que origina a expressão “elefante branco”.
Os primeiros rumores parecem remontar ao séc. XVI quando os portugueses chegaram ao antigo Sião. Compreende-se que, encontrando usos e costumes muito diferentes dos que estavam habituados, rapidamente tenham espalhado novas pela Europa. Algumas dessas excentricidades enumeravam a existência de elefantes brancos. Porém em número tão reduzido que poucos os teriam visto, mas em número suficiente para criar a curiosa história que então se contava:
“a de que o rei local, quando insatisfeito com alguém da corte, presenteava-o com um desses animais considerados sagrados, passando a visitar o presenteado em horas incertas a fim de verificar pessoalmente se o bicho estava a ser tratado com a atenção necessária.
O homenageado, coitado, que por razões óbvias se vira forçado a aceitar o presente do rei, dali em diante fazia das tripas coração para manter o animal sempre limpo e enfeitado, e o que é pior, procurando satisfazer o seu apetite de tamanho e peso equivalentes às quase dez toneladas de carne e ossos que carregava.
Em razão disso a expressão “elefante branco” passou a simbolizar inicialmente o presente incómodo e indesejado que alguém recebe de algum engraçadinho (principalmente a partir do século XVIII, quando a comédia “O Elefante do Rei do Sião”, de Ferdinand Lalou, foi apresentada com grande sucesso ao público europeu), e, mais tarde, as coisas enormes e incomuns que ninguém sabe para que servem, como uma obra pública inacabada, por exemplo, ou o viaduto que liga o nada a lugar nenhum.”
2. O IAPMEI, já Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, que trocou agora o Investimento pela Inovação, constitui-se como o braço do Ministério da Economia e da Inovação para as políticas económicas direccionadas às micro, pequenas e médias empresas, cabendo-lhe agenciar condições favoráveis para o reforço do espírito e da competitividade empresarial.
No actual contexto assume papel fulcral na gestão dos fundos comunitários. Nele concentrou o governo as principais medidas, instrumentos e projectos – da sua análise ao encerramento, da gestão ao acompanhamento técnico e financeiro, passando, pela não menos importante, gestão de tesouraria. Dele retirou, o mesmo governo, as competências e a capacidade de decisão e execução em tempo útil.
O IAPMEI cresceu, engordou e ocupa hoje uma posição de destaque no aparelho económico. Todavia, alimenta-se generosamente de atrasos, de dúvidas e silêncios, de decisões tão inusitadas quanto incompreensíveis.
Subverteu a sua lógica de funcionamento: de apoio maior às empresas, sobretudo às micro e pequenas que constituem a esmagadora maioria do nosso tecido empresarial, é neste momento um pesado organismo que parece viver para se alimentar.
É uma coisa branca enorme, incomum e inacabada. Não se sabe muito bem para que serve, nem o que se pode esperar.
Vive impoluta e candidamente. Assim vai o país.
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