sexta-feira, 11 de julho de 2008

A Loja da Democracia

Uma manhã passada na Loja do Cidadão faz-nos pensar. Claro, após desesperar. Comecemos pelo início: não há dúvida que a “loja do cidadão” é uma boa ideia. Concentrar num só lugar alguns dos mais importantes serviços públicos é de louvar. Todavia, seria também relevante que transplantássemos para aquele local apenas os benefícios e deixássemos à porta os maus hábitos do “funcionalismo público”. Assim não é. Parece que os modelos, ao fim de pouco tempo, se repetem e se implantam. Será verdadeiramente um nosso traço cultural? De qualquer forma, a minha reflexão é mais conduzida pelo cocktail de experiências que é possível observar nesta loja da democracia (tão recente, como evidencia hoje o Pedro…). Num mesmo guarda-chuva imagético está tudo bem arrumadinho. Edifício, “lojas”, balcões e até tecnologia – essa primeira prova da nova democracia: todos que ali entram ficam disciplinados pelas senhas, pela ordem e pelos números. Fazem filas e atendem os painéis informativos. Ainda se lembram do caos de algumas repartições públicas? Dos jeitosos e dos penetras? Dos falsos distraídos? Dos indisciplinados? Pois bem, agora está tudo condicionado e orientado. Reclamar? Claro que sim. Siga o procedimento. Para além da imagem e da aparência, a máquina funciona. Seja através do cabo, seja do vapor. As empresas mais envolvidas com o cliente fazem dos sorrisos coração e procuram resolver – nem sempre com sucesso – os mais inusitados problemas com calma e clareza. As mais instaladas não disfarçam o mal-estar que alguma exposição pública evidencia. A todas a democracia fez bem. No entanto, ainda que a máquina labute, não chega para nos fazer esquecer que muito do que ali se faz parte de um Estado demasiado interventivo, burocrático e, sobretudo, desorganizado. É bem verdade que quanto mais desconfiamos mais picuinhas somos… Protegemo-nos para não mostrar a nossa fraqueza. Rematando à baliza: uma manhã para mudar três contadores. Isto multiplicado por muitos portugueses utentes e elevado ao quadrado (há sempre um cidadão e um funcionário envolvidos…), dá… enfim, como diria alguém, é só fazer as contas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem Luís...eu acho que estamos bem melhor e que, uma manhã comparado com um mês aqui há uns anos atrás, representa uma evolução notável.

Contudo, concordo que tudo podia ser bem eficaz se estes serviços de gestão da administração pública pudessem ser realizados "online". Já sei que esbarraríamos com o argumento de que a penetração da internet em Portugal é ainda reduzida mas, como o melhor incentivo é a necessidade, rapidamente os portugueses menos eruditos em informática se despachavam a encontrar alguém que os ajudasse....e no processo acabávamos com serviços que, apesar de estarem melhores, nunca serão 100% eficientes.

Ricardo Arroja