segunda-feira, 28 de abril de 2008

Milionários vigiados

Decidi iniciar esta minha colaboração no Mercado Puro com um comentário a uma excelente reportagem do Diário Económico, publicada na edição de hoje, acerca dos salários pagos a executivos de topo. O tema foi, aliás, bastante discutido por na passagem de ano quando o Presidente da República alertou para o problema da assimetria remuneratória existente entre gestores e funcionários. Na altura, escrevi um artigo com a seguinte conclusão: em Portugal os salários dos executivos, em termos relativos, são de facto bastante elevados e acima da média europeia.
Pois, hoje, o DE volta à carga com as últimas estimativas referentes aos salários dos administradores das empresas do PSI20. Gente como Ferreira de Oliveira da GALP, Zeinal Bava da PT ou António Mexia da EDP. Há números e métricas para todos os gostos. E notas explicativas que justificam certos montantes auferidos. Por exemplo, da leitura do artigo ficamos a saber que os accionistas da PT decidiram premiar a vitória dos seus administradores na OPA contra a Sonae e que, em função disso, cada administrador levou para casa 2,6 milhões de euros. Ao invés, na Sonae, a alteração do conselho de administração na Sgps resultou no pagamento de nove milhões de euros em prémios. O indicador que, pessoalmente, mais apreciei foi a remuneração avaliada em função dos lucros obtidos por cada empresa. Assim, a respeito de Ferreira de Oliveira, pude confirmar que é o gestor mais eficiente da praça portuguesa. Por cada euro recebido pelo conjunto dos administradores da Galp, a empresa ganha em média 1500 euros. No campo oposto está a Soares da Costa, quiçá, ainda a sentir a crise no sector da construção.
Há, contudo, um aspecto que merece ser sublinhado: as remunerações dos gestores baixaram cerca de 12% face ao ano anterior, comparado com a redução de 2% nos lucros das empresas do PSI20. Ou seja, a redução nos salários dos administradores foi mais do que proporcional à diminuição registada na performance global das empresas que presidem. Como não acredito que este facto se deva a um eventual espírito mais solidário e altruísta dos gestores, só pode resultar de outra coisa: maior controlo e supervisão dos accionistas que os nomeiam. E assim se rege o mercado.

1 comentário:

Pedro Barbosa disse...

Caro Ricardo,

Não sei se concordo com a tua tese. Na verdade, dizer que alguém ganha salários "altos demais", quando não é o próprio a fixá-los (espera-se), é dizer que não se acredita nos mercados, ou que o mercado está com regulações falsas (ao estilo jobs 4 the boys).

Se acreditarmos que é a procura e a oferta de pessoas para esta classe de mega-top management que dita a verdade dos factos, jamais podremos dizer que é alta demais. Podemos quando muito assumir que há alguma assimetria entre procura e oferta, o que mesmo assim é discutivel, se acreditarmos que o mundo é plano.

Por outro lado, dizer que o top management não deve na minha opinião ser representado por estes senhores, que representam um nicho deste, e estão carregados de influência politica, se não outra.

O top management em Portugal não é na minha opinião pago bem demais, nem mal demais, é pago na medida daquilo em que os que contratam estão disponiveis a aceitar pagar.