Numa recente entrevista, Sara Tavares revelou estranheza pelo facto dos portugueses continuarem a associar a sua imagem ao “Chuva de Estrelas”, um programa de imitação, depois de todas as suas criações que foi desenvolvendo ao longo do tempo. Com mágoa, a cantora afirmou que os portugueses dão demasiado valor à imitação e muito pouco valor à criação.
Esta realidade estende-se à forma cultural como, nos diversos domínios, se encara essa palavra da moda que dá pelo nome de inovação. A inovação tem sido tão falada e discutida, que faz mesmo parte da própria missão de muitas empresas. Empresários, gestores e administadores procuram cada vez mais imbuir as empresas num espírito de inovação constante, fazem brainstormings do tema e formam-se em pós graduações de todas as naturezas associadas ao tema. E, contudo, associam inovação a algo que pode ser descrito como “estar sempre associado às últimas tendências de mercado e procurar ter as mais recentes soluções disponiveis no mercado”. Infelizmente, isto não é ser inovador. É ser moderno, ou – em alguns casos – é apenas estar na moda.
Há muito muito tempo que se descobriu que num ambiente competitivo intenso como é o mercado globalizado onde vivemos, não é suficiente ter o mais baixo preço beneficiando das melhores economias de escala e optimizações de cadeia de valores, porque haverá sempre alguém noutro ponto do mundo que será capaz de fazer o mesmo a um preço menor. Foi mesmo há muito tempo que se percebeu que só através da diferenciação que se poderia criar valor para os clientes, que então estariam dispostos a pagar um valor um pouco superior pelo bem ou serviço em causa, fruto da sua diferenciação e unicidade. Ora a referida e supracitada noção de inovação nada traz de diferenciação - pelo contrário, acaba por tornar as empresas, os seus bens e serviços e mesmo a sua imagem cada vez mais igual, e indiferenciado.
A inovação que será sinónimo de sucesso para as empresas é a da criação de novas soluções, aproveitando potenciais oportunidades de necessidades ainda latentes nos clientes ou futuros clientes. É exclusivamente através da criação (esta sim, a “buzzword” mais importante) de novas soluções que uma empresa se destinguirá de todas as demais, diferenciando a sua oferta e produzindo valor acrescentando para os clientes.
No entanto, todas as inovações desta natureza, caso tenham sucesso, tendem a ser rapidamente copiadas pelo mercado (excepto se as barreiras à entrada forem demasiado altas – patentes, investimento em equipamento, know how especifico, etc), pelo que a única forma de as empresas conseguirem viver neste ambiente é desenvolvendo programas de constante inovação, sendo mais ágeis, rápidos e eficientes do que os seus concorrentes. E os seus concorrentes não são necessariamente as outras empresas do mesmo sector. Há dúvidas da razão pela qual Pinto da Costa e o anterior Bispo do Porto queriam encerrar o comércio ao Domingo? A razão é evidente - o comércio é concorrente de pessoas nas igrejas e no estádio, porque tem em muitos casos associação a lazer. “Marketing Myopia”, by Theodore Levitt... É preciso conhecer qual é o mercado e assim percepcionar realmente os potenciais concorrentes, estando sempre um passo à frente. Para que a empresa tenha este espírito empreendedor, é preciso que os estrategas não sejam abafados pelos tecnocratas, que os criadores não sejam limitados pelos administrativos. É preciso que – mesmo tendo em conta orçamentos e outras limitações de partida que balizam o ambiente – sejam os departamentos mais próximos dos clientes ou potenciais clientes a liderar a estratégia, em vez de viverem para servir departamentos financeiros, juridicos ou administrativos
Essencialmente, é necessário que os gestores tenham consciência de que inovação apenas por incorporação de conceitos recentes no mercado não acarreterá mais valias para os seus clientes e por consequência para a própria empresa, sendo necessária uma estratégia contínua de inovação por criação de novas soluções para realmente fazer a diferença.
Sem comentários:
Enviar um comentário