A resposta da UE, à decisão desta semana da agência de rating Moody’s em classificar de “lixo” o rating de Portugal, foi a que devia ter sido feita, face às graves consequências que o downgrade da notação da Moody’s implica. Diz o ditado, que quem está bem intencionado e não se sente, não é filho de boa gente.
Fizeram-se ouvir as vozes que defendem a constituição de uma agência de rating na Europa; Acho legítimo, útil e normal que assim seja. Houve também quem defendesse que o BCE devia ter equipas de análise internas, capazes de avaliar o risco dos países e empresas; Acho errado e perigoso, sob pena de não terem uma opinião isenta. Quem iria regular esses serviços internos do BCE ? O caminho não é esse, na minha opinião, e não faz parte das melhores práticas.
Mas, ao contrário do que muitas personalidades têm dito, acho que o research da Moody’s de 5 de Abril (note-se 5 de Abril) foi claro quando apresentou os argumentos para o downgrade de A3 para Baa1, da República Portuguesa. Podemos não concordar com a análise , mas falta de clareza não. Nesse relatório de Abril, foi dito que se colocaria o rating de Portugal on review para uma possível nova revisão em baixa, dadas as incertezas que a Moody’s considerou existirem, para alcançarmos o ambicioso objectivo de redução do défice para os próximos anos e, consequentemente um sucesso no plano de estabilidade e crescimento. É nesta sequência de análise técnica - perfeitamente legítima na minha opinião - que a Moody's revê a 5 de Julho (esta semana) a notação de risco do nosso país para “lixo”, exatamente porque não acredita no plano de resgate da Troika, cuja participação de Entidades – FMI, BCE e UE - validaram como um bom plano para os nossos males. Esta, é para mim, a questão fulcral da análise da Moody’s. Tudo o resto, guerra do dollar contra o euro, defesa de interesses privados, timing da decisão, etc, podem ser válidos, mas são marginais à questão de fundo. Note-se, que vários Economistas da nossa praça colocam muitas dúvidas ao plano da Troika, e portanto não podemos entender como inusitada, a opinião da Moody’s em “não dar o seu aval” ao plano, e agravando o rating de um país que, acreditam estar a ir pelo caminho errado, rumo ao precipício.
Já sobre a forma como a Moody’s funciona, há várias críticas que se podem fazer, e destaco duas: A primeira, é que qualquer Entidade que tem capacidade de classificar uma empresa ou país, deve ser regulada por alguém isento e que se faça reger por normas internacionalmente aceites, e apoiadas por um conjunto alargado de Países e Entidades, isto é por um Mercado muito representativo. E isso atualmente não acontece de fato; Portanto, é legítimo pensar-se que pode haver conflito de interesses. A segunda, é que uma empresa ou país que não está insolvente mas, que foi alvo de um resgate e/ou ajuda financeira, que é gerida por pessoas bem intencionadas e que cumpre os seus compromissos, apesar das dificuldades, devia ter uma notação de “qualidade de risco elevada”, é certo, mas, simultaneamente, que não impossibilite o acesso a crédito adicional, desde logo porque existe um Plano preconizado por Entidade independente, como o FMI. Ou seja, a notação de “qualidade de risco elevada”, devia ter um limite máximo que permitisse continuar a fazer um caminho nos mercados, porventura estreito, mas que não colocasse em causa a sobrevivência de todo um país, de todo um povo. Os países e os povos não acabam, transformam-se, e é disso que todos temos que cuidar de forma responsável, porque é do Futuro que falamos.
Sem comentários:
Enviar um comentário