quinta-feira, 20 de novembro de 2008

É preciso uma crise?



É preciso uma crise?


Aparentemente é preciso passar por sérias dificuldades para que se comecem a adoptar comportamentos mais racionais. Quando a economia cresce os governos desperdiçam. Se há mais clientes, as empresas negligenciam as questões de produtividade e os mercados em que se inserem. Com bolsas em alta os investidores deixam levar-se pela ganância e compra-se de tudo porque é “certo” que vai dar bom lucro. As famílias compram o que não podem e, pior, o que não precisam. Tudo está bem e somos imortais. Perde-se o foco e as estratégias são difusas. Não se definem prioridades.

Ultimamente já tem sido possível observar que há alguma convergência para a racionalidade. Muitas famílias já fazem contas antes de comprar e de se endividar. As empresas elaboram orçamentos mais rigorosos e tentam perceber como conquistar os clientes e tirar o melhor dos recursos que já dispõem. Mesmo a nível da despesa pública a discussão sobe de tom. Discutem-se os projectos, o seu valor, pertinência e seu custo. Sente-se que "a manta está mais curta".

E é realmente pena que seja necessário passar por dificuldades para se ter uma abordagem racional, pró-activa e transformadora. As crises têm esta função essencial - trazem-nos de volta à realidade e obrigam todos a fazer mais e melhor, mas por uma questão de sobrevivência. São a válvula de escape do crescimento e potenciam o desenvolvimento sustentado. Há que encarar as crises com normalidade, mas com empenho.

É também por isso que se pode confiar que esta crise acabará por ficar para trás.

Mas cada um pode decidir se fica mais forte ou mais fraco.

Filipe Garcia

Artigo publicado no jornal Meia Hora em 20 de Novembro de 2008


1 comentário:

Ulf disse...

À partida se as pessoas compram é pq sentem a necessidade. A Ana Paula Cruz poderá ajudar a explicar, mas há necessidades que partem de ti próprio, outras são induzidas e outras ainda situam-se em pontos mais intermédios.

Concordo contigo no sentido em que há muitas compras impulsivas e, talvez pior, feitas por motivos aspiracionais.

Deixo-te uma provocação: necessitamos de vinho? ou pelo menos de vinho tão elaborado/sofisticado, etc?