segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um federalismo informal


As decisões anunciadas pelos europeus tiveram impacto positivo imediato nos mercados por várias razões, das quais destacaria o facto de as expectativas estarem muito baixas e por se evitar uma ruptura financeira da Grécia. Mas há alguns aspectos nas decisões da cimeira que apontam para uma vontade de alteração mais estrutural no funcionamento da UEM e que por isso podem ter impacto positivo no médio prazo.

Em primeiro lugar, ao flexibilizar o FEEF, a UEM assume uma espécie de mutualismo na dívida europeia. Ou seja, há uma lógica de financiamento comum com uma lógica de ajuda recíproca consoante as necessidades. Notar ainda que a baixa dos juros e o alargamento das maturidades para os países intervencionados, é por si só uma medida que promove a sustentabilidade da solução.

Por outro lado, quando se fala num “Plano Marshall” para a Grécia, não podemos deixar de pensar numa transição para um dirigismo da UE sobre a Grécia. Aliás Trichet fala mesmo em “Controlo Escrupuloso” das reformas a implementar.

Temos então sinais de vontade política em financiamento e direcção económicas comuns e nota-se alguma “azia” nos comentários que tenho lido daqueles que são opositores crónicos à União Económica e Monetária.

Globalmente, as decisões da cimeira europeia vão no sentido esperado em termos de tendência de longo prazo na evolução da União Europeia. A flexibilização do EFSF é uma aproximação ao conceito de financiamento conjunto e risco partilhado pela UEM. Simultaneamente, o acompanhamento de políticas de crescimento é um sinal de maior união económica e até política. Estamos, portanto, a caminho de um “federalismo informal”.

Só não se pode estar verdadeiramente optimista por quatro motivos:

  1. A Europa tem reagido muito a reboque dos acontecimentos e ha que recear que isso não se altere. Ou seja, podem não ser dados os passos necessários, em tempo útil, à implementação da estratégia.
  2. Dizer que o plano é só para a Grécia é convidar o mercado (e até os governos de Portugal e Irlanda) a testar essa afirmação.
  3. Não são nada claras as implicações do envolvimento do sector privado nesta solução, nomeadamente se houver exercício de CDS sobre dívida grega. É possível que os CDS de Portugal, Irlanda, pelo menos, sejam alvo de novo interesse.
  4. Notar que o FEEF é garantido por todos os países da UEM, mesmo os periféricos (que somados têm 6.2% de quota no fundo). Mas se juntarmos Espanha e Itália, chegamos a um total de cerca de 35% de quota. Isto pode gerar desconfiança sobre o fundo e/ou o agravamento dos yields dos restantes países.
Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros, SA

1 comentário:

Pedro Sequeira disse...

Filipe, junto mais um motivo para não se estar optimista: Os países do centro da Europa estão, acima de tudo, a acautelar os seus interesses em vez dos interesses da União ! É que em caso de colapso financeiro da Grécia, seriam os bancos e contribuintes do centro da Europa que teriam que arcar com os prejuízos, para além do receio do efeito contágio que o caso da Grécia poderia criar.