segunda-feira, 5 de julho de 2010

Redescobrir o cliente



Uma das externalidades positivas da actual crise reside na maior preocupação com a qualidade dos balanços das instituições financeiras. A sustentabilidade dos bancos passou a ser uma preocupação de topo, também reforçada pelos sistemas de regulação e acordos de Basileia, num processo que só agora está a começar.

[Nesse contexto, é interessante que o mercado comece a prestar atenção a rácios como o créditos/depósitos, até porque com Basileia III a caminho, as instituições financeiras terão de se adaptar rapidamente para não serem obrigadas a capitalizar-se de forma abrupta, ou a encolher o seu negócio.]

É de louvar que surja o interesse em saber o grau de alavancagem dos bancos, os riscos em que incorrem e os meios de financiamento. O processo de desalavancagem da economia ocidental está em curso e tudo o que puder ser feito para evitar que o balão "estoure", em vez de esvaziar lentamente, será bem vindo.

Com o mercado monetário paralisado e com a "nova" concorrência do Estado na captação de poupança, os bancos despertam para a necessidade de se financiarem nos clientes. Note-se que a total dependência da banca face aos depositantes também não seria desejável, dado o carácter potencialmente volátil do comportamento dos clientes. Mas os números sugerem que esse risco não existe. Pelo contrário, os bancos portugueses estão dependentes do financiamento externo, o que actualmente é arriscado e caro.

Por outro lado, atrair depósitos ajuda no envolvimento do cliente com o banco, numa estratégia integrada de marketing que vai além da mera e dispendiosa sucessão de promoções publicitárias.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo a publicar no Diário Económico em 5 de Julho de 2010 (pág. 29)


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