A frase foi proferida por um administrador de uma das maiores empresas do país, num ambiente reservado, mas não restrito: “Os gestores têm o dever de não respeitar a lei, sempre que tal beneficie a empresa e seja ético”. Não é decerto uma afirmação consensual, mas será legítima?
Os maiores sábios da face do planeta passariam serões divertidos na busca de uma definição consensual de ética. Dificilmente o conseguiriam algum dia, sobretudo se fossem de educações distintas ou religiões diferentes. Os princípios morais – base para a construção dos limites da ética em cada cenário real - não são factos, mas variáveis de grande sensibilidade, influenciadas por complexas e multivitaminadas equações. Não encontro suficiente sustentação para a defesa da frase que acima está citada como verdade absoluta, sobretudo porque a lei resulta de uma voluntária aceitação de vida em sociedade, mas a maioria dos cidadãos parece aceitar que a ética está acima da lei no plano pessoal, mas não no empresarial/global. Se alguém lhe dissesse que para recuperar de uma doença necessitava de um fármaco não homologado – e portanto ilegal – mas eficaz, hesitava? Ético, mas não legal. E se lhe dissessem para o introduzir na sociedade sem homologação, apesar da sua eficácia?
Mais do que concretizar sobre a razão, importa pensar sobre o tema. Casos como o de Hugo Chavez são paradigmáticos na prova de que o cumprimento total da lei não serve para nada, comprometida esteja a ética, mas o comprometimento da lei em nome da ética não parece disparatado. Abre é caminho a um perigoso jogo de juízos de valor...
Artigo publicado no Meia Hora de 13/03/2009
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