quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma Guerra (a sério) na Europa



As crises não devem ser menosprezadas. Nunca se conhecem todas as implicações de um mal estar económico. Como uma gripe: pode passar, é até provável que passe. Mas pode matar. 

O passado está repleto de conflitos que tiveram como origem uma crise económica, que se tornou social, depois política e finalmente militar. A Segunda Guerra Mundial é um bom exemplo. Um fenómeno de depressão generalizada foi terreno fértil para movimentos populistas, nacionalistas e totalitários. O resultado foi o que se viu.

Pensemos na Europa de hoje. A construção europeia iniciada no pós-guerra tinha como objectivo maior impedir para sempre um novo conflito no território. Pretendia-se o entendimento, o progresso e o bem estar comum. Entretanto promoveu-se a mobilidade, o contacto e entendimento entre povos e culturas de forma a chegar a uma Europa tolerante, que todos queiram construir e defender. O sucesso foi pleno. A Europa está em paz desde 1945, no que é o período mais longo de sempre sem guerras. Esta ausência de conflitos militares leva à ilusão de que a paz na Europa é um dado adquirido. Não é.

O processo de construção europeia chega agora ao momento da verdade. Tratados, Maastricht, Constituição, referendos - tudo isso são polémicas menores, muitas vezes terreno de burocratas e de políticos. Está eminente a necessidade de uma grande entre-ajuda entre os países, em que alguns terão que viver pior para impedir a queda de outros. Agora é que vamos ver quão unidos nós, os europeus, somos. Esperemos que saibamos ler bem o passado e não cair na tentação de voltarmos costas a quem é, de facto, igual.


Filipe Garcia
Economista da IMF

Publicado no jornal Meia Hora em 25 de Fevereiro de 2009


1 comentário:

Anónimo disse...

Tudo é possível acontecer quando uma crise se torna profunda. Mas na verdade acho que os tempos também são outros. Já os Tratados, considero serem passos necessários à construção de um futuro melhor. É um caminho que se vai fazendo e que está a permitir criar mecanismos de defesa para todos. Os efeitos de uma isolada e má decisão na Europa, teria provavelmente um efeito boomerang quase imediato e a vários níveis.