domingo, 30 de maio de 2010

Contra-Natura



A disciplina financeira que se exige a Portugal é tão necessária como contra-natura. Não temos tradição de finanças públicas sustentáveis, sempre com financiamento "especial".

Mal nasce, Portugal conquista terras e riquezas aos mouros. Depois expande-se por África e por mar. Séculos a viver de impostos, ouro, especiarias e escravos. O Brasil independente força a 4 das 5 falências da nossa História. Entre dificuldades chega-se à 2ª GM, onde acumulámos ouro e outras reservas. Em democracia vieram os dinheiros do FMI e a seguir da Europa, que agora se esgotam. Desde 1974 o país não regista um superavit orçamental ou comercial.

Será possível mudar um país assim?


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 28 de Maio de 2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Escassez do crédito

O pânico sobre a escassez do crédito ainda não está instalado, mas o nervosismo dos vários players é evidente.
E compreende-se a preocupação, uma vez que o crédito desempenha um papel vital para a actividade económica e para o bem-estar dos indivíduos.
A 87ª posição mundial (num total de 135) que Portugal já ocupa no Indicador da acessibilidade do crédito, recentemente divulgado pelo Banco Mundial, não facilita a concretização de negócios e compromete o futuro próximo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Puramente #45 - The End of The Free Market

Nome: The End of the Free Market

Autor: Ian Bremmer

Data Original: Maio 2010

Frase: "Who Wins the War Between States and Corporations?"

Keywords: State Capitalism, Economics, Communism, China, Market

Apreciação: ****

O novíssimo livro de Ian Bremmer trata de ciência económica e política, numa abordagem pouco habitual e altamente contemporânea. O autor começa por relembrar que, apesar da Guerra Fria ter terminado há décadas, as sociedades tendem a considerar que ainda vivemos num paradigma de economia política onde existem dois conceitos antagónicos: o capitalismo e o comunismo. No entanto, uma terceira estratégia, situada algures entre estas duas, constitui uma tendência crescente e imbatível: o capitalismo estatal.

O capitalismo estatal constitui uma forma muito menos inflexível de governar os mercados a partir de um comando central, onde as empresas existem e actuam de forma livre mas controlada, gratas por ganhar dinheiro, mas reguladas de acordo com objectivos políticos. Trata-se de um movimento em formação contínua há tempo suficiente para que se considere credível e real, segundo Bremmer. A formulação do nome e o seu posicionamento como um novo modelo económico constitui uma novidade que por si só justifica a aquisição do livro.

Na primeira parte do livro, Bremmer explica o que é o capitalismo estatal, contextualizando-o no passado histórico e económico e justificando a lógica que sustentou a sua progressiva criação. O autor dedica a segunda metade a discutir os problemas que este modelo pode acarretar nas macroconomias nacionais e microeconomias empresariais, onde a criação de valor e capital passa de ser o fim para um meio, sendo o novo fim um objectivo político.

Dificuldades à parte, o modelo parece ganhar forma de tendência, com países como a China Arábia Saudita, Ucrânia, Índia e mesmo a Rússia a enveredarem pela sua utilização progressiva. Por saber fica se o modelo sofrerá do mesmo problema que o comunismo, a incapacidade de controlar centralmente uma economia.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Go Ahead!

A maior limitação para que as empresas se rejuvenesçam permanentemente é a gestão de riscos, que se pode transformar, quando não bem percebida pela organização, num travão à produção de novas ideias e sobretudo à sua colocação em prática.
Esta realidade, consequência de sistemas de incentivos demasiado focados em resultados de curto prazo, conduz a que os gestores evitem muitas novas ideias, com receio do insucesso. A boa novidade, que urge agora aproveitar, é que os tempos de caos que se vivem nos mercados “dão permissão” aos gestores para experimentar algo novo.
Go Ahead!

domingo, 23 de maio de 2010

Puramente #44 - How to Win Friends and Influence People

Nome: How to Win Friends and Influence People

Autor: Dale Carnegie

Data Original: Julho 1937

Frase: "Manage people but letting them think they are managing"

Keywords: Influence, Relationship, Leadership, Sales, Effectiveness, Motivation

Apreciação: ****

“Como ganhar amigos e influenciar as pessoas“ é uma obra de referência, que importa recordar na altura em a Simon & Shuster relançou uma nova edição. Datado de 1937, este livro é um clássico com mais de 15 milhões de cópias vendidas um pouco por todo o mundo, apesar de por cá não ter um grande índice de notoriedade. O livro de Carnegie continua hoje actual, pelo que se justifica a selecção para a coluna Puramente, tendencialmente muito leading no que trata à escolha de obras bibliográficas.

A actualidade da obra relaciona-se com o facto da mesma tratar do entendimento da natureza humana, um factor intemporal, que apenas necessita do enquadramento contextual das mudanças geracionais que se verificaram no pós guerra. Uma leitura destas 320 páginas resulta em que quase todos os conceitos se aplicam hoje como ontem. O autor sustenta que o sucesso financeiro de uma pessoa ou de uma empresa assenta 15% em know how e 85% na capacidade de exprimir ideias, assumir liderança e criar entusiasmo e motivação nos grupos de trabalho.

Dale considera fundamental que os gestores evitem criticas directas, iniciando o processo por uma autocrítica ou procurando compreensão e soluções, em vez de encontrar responsáveis e culpabilizá-los. Por outro lado, expressar reconhecimento e fazer as pessoas acreditar que os objectivos e ideias são delas são passos vitais para a eficácia do processo. O autor aconselha ainda todos os leitores promover encontros presenciais e recordarem-se dos factos principais dos doutros, como os seus nomes, interesses pessoais e outra informação familiar.

O livro peca apenas por ter como base uma relação comercial, num tempo em que o longo prazo não era tão valorizado como nos mercados actuais, mas ainda assim é uma obra recomendada.

sábado, 22 de maio de 2010

Portugal, Criança Pequena

O Estado Português comporta-se como uma criança pequena, incapaz de aprender com os erros de outros, obrigando os seus cidadãos a um modelo insustentável e inconsistente, por incompetência.

Todos sabem que só se pode gastar aquilo que consegue auferir, com excepção dos Governos portugueses. Em vez de cortar na despesa, mexeram sempre na receita, de forma que agora só um aumento de impostos e outras taxações poderia controlar a dívida. Esta medida não é um acto de maturidade mas de desespero, fruto de irresponsabilidade acumulada na construção de uma economia insustentável.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Mundo vai acabar?




O Mundo vai acabar?

O Mundo vai acabar? Provavelmente não, com o devido respeito às profecias Maya. A zona euro chegou ao "momento da verdade", decidindo se teremos mais integração entre os países. Os políticos têm que se entender, mas não há motivos para se ficar paralisado pelo medo.

O Mundo mudou? Sim, mas não é de agora. Estamos a corrigir dos excessos de crédito nas economias ocidentais e em adaptação ao processo de Globalização. Notar que nos anos 80 eram países da América Latina os responsáveis por mais de metade da dívida externa mundial. Hoje o Top 3 mundial é composto pelos EUA, Reino Unido e Alemanha.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

Publicado na pág. 13 do jornal Metro em 21 de Maio de 2010



Carreira ou Família?

Trazer uma criança ao mundo, nos dias que correm, para além de uma responsabilidade é um desafio. Até as medidas do controlo do défice irão penalizar as famílias em função do rendimento e não do rendimento per capita. Todos os países europeus apresentam uma taxa de natalidade baixa demais para manter o seu actual nível populacional. Um dos principais factores para a redução do nível de nascimentos é um adiamento da formação familiar devido à formação profissional. Unidades de cuidado infantil, horários de trabalho flexíveis e equiparação entre os sexos, são alguns exemplos que tardam a implementar-se, mas são urgentes como tantas outras reformas.
Publicado no Jornal Metro em 20/05/2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Roulotes Duvidosas

Roulotes duvidosas As tímidas alterações verificadas no sector do retalho farmacêutico produziram efeitos positivos. A maior competitividade teve como consequência mais e melhores farmácias, unidades abertas todos os dias da semana, ou todas as horas do dia. Quem são os beneficiados? Os clientes! Urge no comércio uma liberalização, de forma a aumentar a competitividade e melhorar o serviço ao cliente - prioritárias são as aberturas todos os dias da semana e, considerando limitações de ruído, a liberalização de comércio nocturno, hoje estranhamente limitado a estações de serviço e roulottes duvidosas.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Transporte teconolóGico bem alternatiVo?

Foi anunciada a suspensão da Terceira Travessia do Tejo, que inclui o último troço da linha de Alta Velocidade entre Lisboa e Madrid. Quer isto dizer que, quem utilizar o comboio de AV entre as duas capitais, terá de encontrar uma solução de transporte entre Poceirão e Lisboa. Esta situação, suspensão parcial de uma linha, que obrigará a uma demorada entrada em Lisboa, fez-me lembrar o defunto projecto original do Metro Mondego, no qual, entre Ceira e Lousã, considerava uma solução tecnológica alternativa... autocarro? Frederico Moniz Artigo publicado no Jornal Metro em 12 de Maio de 2010 (pág. 7)

A caminho dos “Estados Unidos da Europa”?



Esta pergunta surgiu no blog do Financial Times, em reacção ao plano apresentado pelos responsáveis europeus. Aparentemente, a crise da dívida soberana está a servir de catalisador para uma maior união entre os estados membros. Não só os países concordaram em apoiarem-se mutuamente de uma forma sem precedentes, como em prescindir de alguma soberania fiscal, submetendo-se a programas de consolidação orçamental rigorosos. Pela sua natureza, o plano significa uma maior integração europeia.

Deve notar-se que a reacção dos mercados foi mais positiva nas acções e obrigações do que no mercado cambial. Isto explica-se porque o risco de default de países e empresas - sobretudo bancos - caiu, mas o valor relativo do euro não saiu reforçado. Ao comprar obrigações através dos bancos centrais, o BCE acaba por ceder à vontade dos políticos europeus, manifestando perda de independência. Simultaneamente, sinaliza um processo de monetização da dívida. Dito de outra forma, um dos pilares do plano parece ser a emissão de toda a moeda necessária para cobrir eventuais dificuldades de crédito. Não é um bom sinal para o valor do euro no longo prazo, tal como não foi para o dólar quando a Fed fez o mesmo. Se em 2008 e 2009 a Fed comprava activos subprime (plano TARP) para salvar bancos, o BCE está a comprar obrigações para salvar países e os bancos que têm exposição elevada ou concentrada a esses países.

Estamos perante um momento histórico. Só uma união fiscal, em que as decisões orçamentais são mais centralizadas, permitirá dar sustentabilidade à Zona Euro. Numa Europa com essa configuração, os países do centro assumiriam com naturalidade um papel predominante. Sendo a Alemanha o país com maior dimensão, dinâmica e músculo financeiro, poderia ditar as  regras e ser, finalmente, uma potência hegemónica. A decisão é dos europeus, mas é bem provável que tenha chegado a hora de existir uma clarificação.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no Jornal i em 12 de Maio de 2010 (pág. 13)


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Vulcão especulativo

A decisão da EU e do FMI de criarem um mecanismo de ajuda financeira de 720 mil milhões de euros, teve um efeito positivo nos mercados animando o carrossel da bolsa, que perspectiva um aumento dos plafonds de liquidez aos países europeus que possam vir a necessitar de eventuais ajudas urgentes.
Permanecem dois problemas: O custo do crédito para as empresas e famílias mantêm-se porque a medida em nada altera o risco da república, e o mais preocupante é que há receio de tudo isto ser em vão, se não se conseguir parar com o vulcão especulativo que está em actividade há bem mais tempo do que o Islandês Eyjafjallajokull, e que tem vindo a destruir pessoas, famílias, culturas, empresas, cidades e países.

domingo, 9 de maio de 2010

Actuar no Comportamento para baixar o spread bancário

Os bancos adoptam Modelos Comportamentais na avaliação do risco das pequenas empresas, abandonando análises rigorosas às peças contabilísticas, que pouco valor acrescenta.
Deste modo, garantem economias significativas em consumo de capital e um impacto positivo na conta de exploração e na competitividade.
Numa fase em que se paga mais pelo crédito, cabe às pequenas empresas garantir que através de uma gestão sã, prudente e profissional, das suas contas bancárias e tesouraria, é possível melhorar o seu risco e reduzir o spread dos seus créditos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Proibição do Facebook

A Câmara Municipal de Coimbra proibiu recentemente o acesso de todos os seus funcionários ao Facebook. A questão do livre acesso da Internet nos locais de trabalho pode colidir com a produtividade. A medida da Câmara é legítima e provavelmente acertada. Sempre que for difícil o “princípio da utilização responsável”, haveria que ponderar uma “internet happy hour” em que os funcionários poderiam aceder à internet por uns minutos uma ou duas vezes ao dia para as suas “necessidades essenciais” sem restrições. Publicado no Jornal Metro 7 de Maio 2010 http://www.readmetro.com/show/en/Lisbon/20100507/1/9/ Miguel Braga miguel.braga@gmail.com Adminitrador Rule of Thumb Ltd

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Democratização da História

A Biblioteca do Congresso americana tomou uma decisão tão original como controversa: o arquivo digital de todas as mensagens do Twitter. Permanece a dúvida : trata-se de um passo novo e diferente para o arquivo da história digital, ou um potencial problema de privacidade? Independentemente dessa discussão, o realmente relevante deste processo é que os arquivos deixarão de ter informação seleccionada e filtrada para passar a ter toda a informação trocada. Pela primeira vez, um projecto de Web Capture que acarreta um milestone: a democratização da informação histórica.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Milestone S&P

Merece louvor a baixa de rating que a Standard and Poor’s fez a Portugal na semana passada. Sem pretensão de uma análise de justiça técnica dessa acção, o louvor é atribuído pelas rápidas consequências dessa tão criticada decisão da S&P. Uma empresa privada conseguiu num dia o que o Parlamento e o Presidente de um país não conseguiram : consenso entre Governo e oposição e um plano rápido e assertivo para reduzir o absurdo défice do país. Um milestone.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

PuraMente #43 - ReWork

Nome: ReWork

Autor: Jason Fried e David Hansson

Data Original: Março 2010

Frase: " Failure is Not a Rite Of Passage"

Keywords: rework, reeingineering; reinvent; success; rethink; inspirational;

Apreciação: ***

Fried e Hansson são os autores de um conhecido blog: “Signal Vs Noise”, que trata temas como design, cultura e motivação, ou a arte de gerir de uma forma diferente. Os autores são os donos da empresa 37 signs, que constrói soluções de software alegadamente disruptivas baseadas na Web.

O livro ReWork é uma obra que vale a pena ler, porque põe as normas em causa. Põe os standards em dúvida. É um espaço de cepticismo, sem permanecer na penumbra da dúvida. As dissertações dos dois autores chegam a colocar o leitor numa posição de temporário desconforto, assim que alguns dos conceitos que tem como factos irreversíveis de boa gestão numa óptica contemporânea são postos em causa. No entanto, o livro faz este percurso sem necessariamente dizer que tudo está mal, e se torna necessário fazer de novo.

As 270 páginas do livro são lidas em pouco mais de duas horas, de forma descontraída e calma, porque cerca de metade do volume é ocupado com frases pequenas escritas em tamanho garrafal, ao estilo artwork, com aspecto kitch mas urbano. São mensagens que os autores querem sublinhar e este terá sido o formato escolhido para tal. A organização das partes é curiosa (“takedowns”, ”go”, ”progress”, ”productivuity”, ”competitors”, ”evolution”, ”promotion”, ”hiring”, ”damage control”, ”culture”) e demosntra que os autores fazem aquilo que aconselham: não seguem necessariamente o caminho esperado e a lógica assumida das coisas.

ReWork não é um livro que aporte novas teorias revolucionárias ou ideias inesperadas, mas não deve subsistir dúvida quanto ao valor que a obra tem para quem não acompanha o referido blog – merece o investimento de tempo, porque acrescenta valor, tanto a novos ou potenciais empresários, como aos já estabelecidos, bem como a qualquer gestor, ou, num outro registo, a todos que se interessam por simplesmente saber evoluir.