Esta pergunta surgiu no blog do Financial Times, em reacção ao plano apresentado pelos responsáveis europeus. Aparentemente, a crise da dívida soberana está a servir de catalisador para uma maior união entre os estados membros. Não só os países concordaram em apoiarem-se mutuamente de uma forma sem precedentes, como em prescindir de alguma soberania fiscal, submetendo-se a programas de consolidação orçamental rigorosos. Pela sua natureza, o plano significa uma maior integração europeia.
Deve notar-se que a reacção dos mercados foi mais positiva nas acções e obrigações do que no mercado cambial. Isto explica-se porque o risco de default de países e empresas - sobretudo bancos - caiu, mas o valor relativo do euro não saiu reforçado. Ao comprar obrigações através dos bancos centrais, o BCE acaba por ceder à vontade dos políticos europeus, manifestando perda de independência. Simultaneamente, sinaliza um processo de monetização da dívida. Dito de outra forma, um dos pilares do plano parece ser a emissão de toda a moeda necessária para cobrir eventuais dificuldades de crédito. Não é um bom sinal para o valor do euro no longo prazo, tal como não foi para o dólar quando a Fed fez o mesmo. Se em 2008 e 2009 a Fed comprava activos subprime (plano TARP) para salvar bancos, o BCE está a comprar obrigações para salvar países e os bancos que têm exposição elevada ou concentrada a esses países.
Estamos perante um momento histórico. Só uma união fiscal, em que as decisões orçamentais são mais centralizadas, permitirá dar sustentabilidade à Zona Euro. Numa Europa com essa configuração, os países do centro assumiriam com naturalidade um papel predominante. Sendo a Alemanha o país com maior dimensão, dinâmica e músculo financeiro, poderia ditar as regras e ser, finalmente, uma potência hegemónica. A decisão é dos europeus, mas é bem provável que tenha chegado a hora de existir uma clarificação.
Deve notar-se que a reacção dos mercados foi mais positiva nas acções e obrigações do que no mercado cambial. Isto explica-se porque o risco de default de países e empresas - sobretudo bancos - caiu, mas o valor relativo do euro não saiu reforçado. Ao comprar obrigações através dos bancos centrais, o BCE acaba por ceder à vontade dos políticos europeus, manifestando perda de independência. Simultaneamente, sinaliza um processo de monetização da dívida. Dito de outra forma, um dos pilares do plano parece ser a emissão de toda a moeda necessária para cobrir eventuais dificuldades de crédito. Não é um bom sinal para o valor do euro no longo prazo, tal como não foi para o dólar quando a Fed fez o mesmo. Se em 2008 e 2009 a Fed comprava activos subprime (plano TARP) para salvar bancos, o BCE está a comprar obrigações para salvar países e os bancos que têm exposição elevada ou concentrada a esses países.
Estamos perante um momento histórico. Só uma união fiscal, em que as decisões orçamentais são mais centralizadas, permitirá dar sustentabilidade à Zona Euro. Numa Europa com essa configuração, os países do centro assumiriam com naturalidade um papel predominante. Sendo a Alemanha o país com maior dimensão, dinâmica e músculo financeiro, poderia ditar as regras e ser, finalmente, uma potência hegemónica. A decisão é dos europeus, mas é bem provável que tenha chegado a hora de existir uma clarificação.
Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no Jornal i em 12 de Maio de 2010 (pág. 13)
2 comentários:
Quando chegar a hora, eu pelo menos direi "sim". Mas a pergunta que te fazia neste momento é se achas que as medidas de austeridade apresentadas hoje são suficientes.
Olá Pedro, deixo-te aqui o texto que enviei para a Reuters ontem:
"A primeira sensação que fica é de uma contradição estratégica.
Muito se fala na necessidade de crescimento via exportações e de reforço de competitividade, mas as diversas medidas apresentadas apenas conduzem a um aumento da estrutura de custos das empresas, directa ou indirectamente.
A redução dos ordenados dos políticos é demagógica e de efeito limitado.
Fica a ideia que se tenta resolver as coisas pela forma fácil, aumentando os impostos e não mexendo a sério nas despesas do Estado. Nesses sentido são medidas que não resolvem os desequilíbrios de fundo em termos orçamentais.
Constato ainda que o que era rejeitado pelos políticos há alguns meses (quando a Irlanda por exemplo apresentou o seu PEC) agora já parece ser possível. Continua a estratégia de reacção em vez de proactividade. Continua a predominar a táctica a um pensamento estratégico de longo prazo.
Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Enviar um comentário